sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

V (Na treva mais gelada, na brancura)


Na treva mais gelada, na brancura 

Mais cega e morta, a vida ainda transluz.

Até de dentro de uma sepultura

Brota um soluço trêmulo de luz,

A luz que sua, a luz que desfigura

As pétalas pendidas nos pauis,

A espuma nos penhascos, fria e pura,

As chamas em seus ápices azuis.

Desalentos, angústias e canseiras

Tornam maior, mais tenebroso o olhar

Que lembra o olhar dos mortos: só olheiras

São existências que se dão inteiras

E sofrem, como o vento, como o mar,

Como todas as coisas verdadeiras.


Dante Milano


Nenhum comentário:

Postar um comentário