segunda-feira, 12 de maio de 2025

Multiplicidade

O que é de fato o real? Para responder a essa pergunta, Deleuze dirigiu seu pensamento à questão dos fundamentos, mas o que encontrou sempre foi o afundamento. Como um filósofo que mergulha na existência para dela tirar o seu caráter mais geral, ele vai ao fundo, mas o que encontra é o sem-fundo, então responde: o que há de primeiro é a diferença pura – nos termos do Mil Platôs, multiplicidade pura.

Deleuze e Guattari incomodam muita gente porque fazem da filosofia uma aberração, colocando toda a pretensão do pensamento na capacidade de apreender a multiplicidade, ainda que ela seja monstruosa. É apenas isso. Não se trata de buscar uma razão infalível, uma moral inquebrável, uma vida ideal, mas de dar conta da multiplicidade. De saída, a primeira coisa é admitir que a realidade é delirante, que não há forma, representação ou verdade última.

Se a realidade é composta por uma multiplicidade irredutível, o que a filosofia pode fazer é recuperá-la por meio de planos, trazendo à tona um recorte pensável de um pensamento delirante. Em estado puro, a multiplicidade não é pensável, nem audível, nem visível. No entanto, ela é a virtualidade de tudo o que existe. Por baixo de todo fato há um magma diferencial fervendo em intensidades. O que somos capazes de pensar é sempre um recorte de um sem-fundo múltiplo e diferencial em efervescência.

(...)

Do site "Razão Inadequada", acessado em 12/05/2025

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