terça-feira, 20 de maio de 2025

O JARDIM 


Existe um jardim antigo com o qual às vezes sonho,

sobre o qual o sol de maio despeja um brilho tristonho;

onde as flores mais vistosas perderam a cor, secaram;

e as paredes e as colunas são idéias que passaram.


Crescem heras de entre as fendas, e o matagal desgrenhado 

sufoca a pérgula, e o tanque foi pelo musgo tomado.

Pelas áleas silenciosas vê-se a erva esparsa brotar,

e o odor mofado de coisas mortas se derrama no ar.


Não há nenhuma criatura viva no espaço ao redor, 

e entre a quietude das cercas não se ouve qualquer rumor.

E, enquanto ando, observo, escuto, uma ânsia às vezes me invade

de saber quando é que vi tal jardim numa outra idade.


A visão de dias idos em mim ressurge e demora, 

quando olho as cenas cinzentas que sinto ter visto outrora.

E, de tristeza, estremeço ao ver que essas flores são

minhas esperanças murchas – e o jardim, meu coração.


H. P. Lovecraft

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