sábado, 31 de maio de 2025

A CANÇÃO DO LIMPA-VIDROS


eu, um peixe de aquário, gordo,

consumindo o que surge dessas águas turvas.


os passantes lá embaixo como polvos de patins,

uma menina com um buraco-negro a tira-colo e chicletes.


ao lado dos jornais de internet,

meus cactos morrem em sua compulsão por água.


os ursos polares serão extintos pelas geladeiras.

na Austrália, baleias se suicidam na areia.


continuo consumindo qualquer coisa que brilhe um pouco,

eu, um peixe a apodrecer gordo nessas águas sujas.


Ana Rusche




Nenhum comentário:

Postar um comentário