O cérebro MENTE
Este blog busca problematizar a Realidade mediante a expressão de linhas múltiplas e signos dispersos.
domingo, 14 de dezembro de 2025
sábado, 13 de dezembro de 2025
Milagres
Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa de especial?
Por mim, de nada sei que não sejam milagres:
ou ande eu pelas ruas de Manhattan,
ou erga a vista sobre os telhados
na direcção do céu,
ou pise com os pés descalços
bem na franja das águas pela praia,
ou fale durante o dia com uma pessoa a quem amo,
ou vá de noite para a cama com uma pessoa a quem
/amo,
ou à mesa tome assento para jantar com os outros,
ou olhe os desconhecidos na carruagem
de frente para mim,
ou siga as abelhas atarefadas
junto à colmeia antes do meio-dia de verão
ou animais pastando na campina
ou passarinhos ou a maravilha dos insectos no ar,
ou a maravilha de um pôr-de-sol
ou das estrelas cintilando tão quietas e brilhantes,
ou o estranho contorno delicado e leve
da lua nova na primavera,
essas e outras coisas, uma e todas
— para mim são milagres,
umas ligadas às outras
ainda que cada uma bem distinta
e no seu próprio lugar.
Cada momento de luz ou de treva
é para mim um milagre,
milagre cada polegada cúbica de espaço,
cada metro quadrado da superfície da terra
por milagre se estende, cada pé
do interior está apinhado de milagres.
O mar é para mim um milagre sem fim:
os peixes nadando, as pedras,
o movimento das ondas,
os navios que vão com homens dentro
— existirão milagres mais estranhos?
Walt Whitman
sexta-feira, 12 de dezembro de 2025
CLÍNICA E TECNOLOGIA DA IMAGEM - V
O que é o Real? A psicanálise (lacaniana) diz que o real é impossível, pois vivemos num mundo essencialmente simbólico. Conforme essa doutrina, o real é lançado para os rumos da psicose, ou seja, rompido com a formação social no qual se inscreve. Quem tem acesso ao real é louco, é o louco em seu desvario. Uma insanidade, enfim. Ao contrário, pensamos ao modo deleuziano. O real não está dado, ele é produzido, sempre produzido. Resta saber por quem. Há toda uma questão ético-política de fundo... Os artistas, os videntes, os poetas, os revolucionários (não os "esquerdistas"), entre tantos outros, sabem disso porque experimentam o mundo na própria carne, melhor dizendo, no corpo sensível, desejante, nutrido de mil sensações. Se a psicose é o real, as "mil sensações" se tornam mil sintomas clínicos do transtorno que a psiquiatria biológica chama de "mental". A tecnologia moderna inunda o cotidiano com uma tal profusão de imagens que uma psicose (com mil sintomas) ocupa o lugar da esquizofrenia reeditando-a como "A" psicose. Assim, depressões, borderlines, retardos, paranóias, demências, drogadiçoes, fobias, pânicos, ansiedades, e tantos outros signos atuais do aniquilamento da subjetividade individuada, se somam e se aliam numa espécie de sopa coletiva psicopatológica. Tudo conduz à psicose. Mas nem mesmo a psicose expressa o Real.
A.M.
terça-feira, 9 de dezembro de 2025
segunda-feira, 8 de dezembro de 2025
domingo, 7 de dezembro de 2025
A anti-escuta - 3
Na sociedade moderna a Escuta vira anti-escuta. Ou pelo menos são cultivadas as condições sócio-políticas para isso.
Está no ar a velocidade dos fluxos de comunicação e informação. Como se o vento anunciasse tempestades. Ou se ele fosse a própria tempestade.
A linguagem do sistema do capital é composta de fluxos e não de significações prévias. Tudo se ajeita. Não importa que talvez você seja um analfabeto. As mensagens são feitas para isso, contam com isso.
Analfabetos, diz-se, no sentido da produção de uma realidade imagética que permeia os afetos e substitui a Terra finita por um infinito de lucro. Ó Marx!
A forma-pessoa é substituída pela forma-consumidor, mesmo e principalmente o que se consuma no próprio extermínio da alma.
Aldous Huxley disse tudo no " Admirável mundo novo" (1932). De lá para cá o aprofundamento do controle das massas e seu suicídio induzido.
Não há retorno do fascismo, do nazismo, da ultra-direita e de todas as expressões da pulsão de morte. Elas já estavam aí.
A anti-escuta avança como Tecnologia Científica com sua verdade religiosa. Hiroshima ainda não foi o pior.
A.M.
sábado, 6 de dezembro de 2025
O IMPASSE E A SAÍDA
Diante da impossibilidade de ser psiquiatra e da impossibilidade de não sê-lo (um zen-paradoxo) surgem linhas de risco, amorosidades nem sempre visíveis.Elas atravessam práticas clínicas: um devir-imperceptível, um devir-clandestino, um agente duplo operando no coração do sistema. A camuflagem torna-se uma função-guerreira. O pensamento sem imagem desloca-se a velocidades infinitas. Extrai da esquizofrenia o esquizo como eterno produtor de multiplicidades clínicas (qual o diagnóstico?) e errantes (qual o lugar?). Daí retorna ao estágio zero na busca do Encontro. Onde tudo recomeça.
A.M.