sábado, 29 de outubro de 2022

Antimétodo 2


Pouco a pouco

Embaralho tudo e nada

Sou meu próprio

Espantalho

Fujo

De mim mesmo

Finjo-me

Da minha própria

Esfinge

Perdido em meu próprio

Labirinto

Sou o que sou

Ou minto? Será isso

Uma regra secreta?


Sebastião Uchoa leite

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Diana Krall ♥ East of the Sun & West of the Moon

      FALTAM 2 DIAS


O QUE DÁ TESÃO

A antiprodução difunde-se pelo sistema: a antiprodução será amada por si mesma, à maneira pela qual o desejo reprime a si próprio no grande conjunto capitalista. Reprimir o desejo, não só nos outros, mas também em si próprio, ser o tira dos outros e de si próprio, eis o que dá tesão, e isto não diz respeito à ideologia, mas à economia. O capitalismo recolhe e possui a potência do objetivo e do interesse (o poder) mas tem um amor desinteressado pela potência absurda e não possuída da máquina. Oh, certamente não é para si nem para seus filhos que o capitalista trabalha, mas para a imortalidade do sistema. Violência sem objetivo, alegria, pura alegria de se sentir uma engrenagem da máquina, atravessado pelos fluxos, cortado pelas esquizas. Colocar-se na posição em que se é assim atravessado, cortado, enrabado pelo socius, buscar o bom lugar onde, de acordo com os objetivos e os interesses que nos são consignados, sente-se passar algo que não tem interesse nem objetivo. Um tipo de arte pela arte na libido, um certo gosto pelo trabalho bemfeito, cada um no seu lugar, o banqueiro, o tira, o soldado, o tecnocrata, o burocrata e, por que não, o operário, o sindicalista... O desejo embasbacado.

(...)

G. Deleuze e F. Guattari in O anti-édipo

Trem que levava carne é saqueado por populares em Cubatão, litoral de SP

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

domingo, 23 de outubro de 2022

Why?


O bolsonarismo é o fascismo de 1922 em sua versão brasileira.

Ele se alimenta ( entre outros nutrientes) de um elitismo patriarcal, o DNA das elites.

Trata-se  de um fenômeno histórico e coletivo. Nada pessoal.

Mas se há pessoas (infelizmente, milhões) que, como numa pandemia, se contaminam pelo vírus fascista,

Dá para compreender o incompreensível?

Cultivo do ódio.

Ódio aos pobres, aos indígenas, às mulheres, aos gays, aos negros, aos artistas, ódio ao outro e à diferença.

50 milhões querem isso? 

Não entendo.


A.M.

Almeida: “É um erro dizer que distância Lula-Bolsonaro está encurtando: ...

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

DEZ  LINHAS  PARA  RECONHECER  UM  FASCISTA


1-O fascista sabe apenas usar um método que é o do fascismo. Este método tem como principal característica um grito: " Viva a morte".


2-Para bem funcionar na prática, o fascismo necessita estar "dentro" das pessoas, dentro de nós. Daí, todo fascismo é um microfascismo. 


3-Apesar da origem histórica situá-lo na direita, hoje, se ampliarmos nossa visão de mundo, não existe mais fascista de direita ou de esquerda. Existe apenas o fascista e seus cânticos de destruição.


4-O fascista se aproxima do paranóico. No entanto, enquanto o paranóico acaba no manicômio, o fascista vive solto. Às vezes é até um cidadão de bem. Opera ao ar livre, destila um ódio brutal.  Seu delírio é expresso como saudável,  até mesmo salvador do país e quiçá do mundo.


5-O fascista anseia por uma verdade pronta, reta, pura e simplista. Vive de certezas absolutas. Isso o alimenta sem cessar. Sua alma gorda torna-se monstruosa. Sofre de uma espécie de bulimia ideológica.


6-Gosta de raciocinar por dualismos; bem/mal, esquerda/direita, homem/mulher, rico/pobre, louco/normal, negro/branco, bonito/feio. Seu cérebro mente. 


7-As regras do jogo democrático lhe são quase insuportáveis. No caso brasileiro, o fascista costuma pregar o golpe e a intervenção militar.


8- O diálogo com o fascista é muito difícil. Ele se expressa como pensamento único. Adora um monólogo. O bom senso é um fóssil que cheira mal.  Nazifascistas e estalinistas, velhos amigos, trocam ideias e figurinhas.


9-Os sentimentos fascistas podem conviver sob harmonias bizarras. Hitler amava a sua cadela Blondie.


10-Por fim, mas não menos importante, o fascista costuma atirar para matar em tudo que se move: a vida.




A.M.

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

QUESTÕES DE MÉTODO


um monte de cadáveres em el salvador

no fundo da foto

carros e ônibus indiferentes—

será isso a realidade?

degolas na américa central

presuntos desovados na baixada

as teorias do state departament

uma nova linha de tordesilhas

qual a linha divisória

do real e do não real?

questão de método: a realidade

é igual ao real?

o homem dos lobos foi real? o panopticum?

o que é mais real: a leitura do jornal

ou as aventuras de indiana jones?

o monólogo do pentágono ou

orson welles atirando contra os espelhos?


 Sebastião Uchoa, 1982



Rehearsal Claude Pascal - Jiří Kylián (NDT 1 | Sometimes, I wonder)

terça-feira, 11 de outubro de 2022

O QUE É PENSAR?

É muito difícil o exercício de pensar. Não basta ter um cérebro, não basta ter conhecimento. O cérebro mente, o conhecimento entorpece. Antes, pensar é empreender uma espécie de raspagem no solo idealista das categorias platônicas e cartesianas. Entre outras doutrinas,  e contra elas, pensar é partir... para além do cais... "seguir sempre a linha de fuga do vôo da bruxa." Esta frase do livro "O que é a filosofia?" (Deleuze e Guattari, 1992) coloca o pensamento no tempo infinitivo, aquilo que faz vivenciar na carne o vôo da bruxa. Ora, para onde, mesmo, estaria ela indo? Pensar é um ato corpóreo, visceral, material, inscrito como prática social de uma maquinação desejante. Pensar é desejar. Não sendo isso, estamos e estaremos afundados no universo da representação das coisas (humanas e inumanas). Aí o pensamento não entra, ou só entra se for convertido aos códigos estáveis da razão, da consciência e do eu.


A.M

domingo, 9 de outubro de 2022

COMO  RECONHECER  O  FASCISMO?

Há 100 anos (Itália, 1922)  nascia o fascismo de Mussolini.Ao seguir na história, esse movimento político inspirou outros regimes (Alemanha, Portugal, Espanha, etc) tornando-se referência até para a dita esquerda. No entanto, à medida em que a sociedade industrial avança , e com ela a tecnologia da imagem, o fascismo se fez diferenciar do totalitarismo. Para obter a dominação e o controle de milhões, formas sociais (instituições) passaram a utilizar métodos com micro-efeitos nas populações, no que Félix Guattari chama de microfascismo. Sem esse nível de “persuasão mental” o controle dos corpos e mentes se revelaria ineficaz. O fascismo tornou-se microfascismo. Dominar de modo explícito cedeu lugar ao controle sobre sujeitos sem que estes saibam que estão sendo controlados e mais, gostem de ser controlados. Óbvio que dominar “por dentro” sempre existiu, ainda que pelo terror induzido na mente dos supliciados. Mas falamos de outra coisa. 100 anos de fascismo foram suficientes para a produção em série (escala planetária) de pessoas humanas que adotam e adoram o capital com ponto hegemônico de subjetivação e desejam isso não só para si mas para todos, ou seja, para o restante da população mundial. Um processo “natural” é induzido por agências de controle, mormente os Estados nacionais, o grande sistema financeiro e internético com suas mídias afiadas como serviços num plantão ad aeternum. É difícil identificá-lo no coração das pessoas de bem. Se este sentimento de “viva a morte” se instaura e age à revelia do seu portador, a impossibilidade de auto-crítica surge como pressuposto subjetivo. “Que eu morra, mas que permaneçam os valores em que acredito”. Tal é o refrão macabro (inconsciente) do cidadão comum para, por exemplo, apoiar o atual governo federal brasileiro.O mito é um desejo funéreo.Uma linha suicidária passa a ser o dado natural da vida. Morrer pela pátria equivale a morrer pela família, pela escola, pela religião, pela medicina, por todas as formas sociais, enfim, de transcendências ( o além da vida).  Isso credita e legitima a existência da sociedade regida pelo capital,  não só como categoria de lucro econômico, mas como  fábrica de imagens para um gozo paranóico. O fascista é um paranóico. Tal sentimento se interiorizou a um ponto tal que parece  ter deixado de existir, existindo mais do que nunca: teorias da conspiração tamponam o buraco do sentido. Estaremos num universo linguístico de redundâncias e paradoxos? Na linha de montagem da subjetividade capitalística, parece, então, irreal e fantasioso o parto de um outro mundo no interior deste. Pensar se tornou obsceno.

A.M.

GROTTO - Liliana Barros (NDT 2 | Up & Coming Choreographers)

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

O dualismo atual da politica brasileira é um profundo 
empobrecimento do pensamento.

Como chegamos a isso?
Ora, recitando o senhor dos destinos.

A esquerda não estaria imune, ao contrário.
Respira o seu legado.

Assim o dualismo político esconde a vida
Lá onde se expressa.


A.M.



quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Theme from Laura (1944) - David Raksin

O REAL É A MULTIPLICIDADE

(...) O uno e o múltiplo são conceitos do entendimento que formam as malhas frouxas demais de uma dialética desnaturada, dialética que procede por oposição. Os maiores peixes passam através dessas malhas. É possível acreditar que se agarra o concreto quando se compensa a insuficiência de um abstrato com a insuficiência de seu oposto? Pode-se dizer durante muito tempo que "o uno é múltiplo e que o múltiplo é uno" - fala-se como esses jovens de Platão, que não poupavam nem a ralé. Combinam-se os contrários, obtém-se a contradição; em nenhum momento se diz o importante, "quanto", "como", "em que caso". Ora, a essência nada é, ou é uma generalidade oca, quando separada desta medida, desta maneira e desta casuística. Combinam-se os predicados, perde-se a Ideia - discurso vazio, combinações vazias em que falta um substantivo. O verdadeiro substantivo, a própria substância, é "multiplicidade", que torna inútil tanto o uno quanto o múltiplo. A multiplicidade variável é o quanto, o como, o cada caso. Cada coisa é uma multiplicidade na medida em que encarna a Ideia. Mesmo o múltiplo é uma multiplicidade; mesmo o uno é uma multiplicidade. Que o uno seja uma multiplicidade (como também foi mostrado por Bergson e Husserl), eis o que basta para destituir de razão propostas de adjetivos do tipo o uno-múltiplo ou o múltiplo-uno. Em toda parte, as diferenças de multiplicidades e a diferença na multiplicidade substituem as oposições esquemáticas e grosseiras. Há tão somente a variedade de multiplicidade, isto é, a diferença, em vez da enorme oposição do uno e do múltiplo. E talvez seja uma ironia dizer: tudo é multiplicidade, mesmo o uno, mesmo o múltiplo. Mas a própria ironia é uma multiplicidade ou, antes, a arte das multiplicidades, a arte de apreender nas coisas as Ideias, os problemas que elas encarnam, e de apreender as coisas como encarnações, como casos de solução para problemas de Ideias. 

(...)

Gilles Deleuze in Diferença e Repetição

Gilles Deleuze

O cristianismo nos afirma que há um homem invisível, que vive no céu e vigia tudo o que fazemos, o tempo todo. O homem invisível tem uma lista de 10 coisas que ele não quer que a gente faça. Se você fizer qualquer uma dessas coisas, o homem invisível tem um lugar especial, cheio de fogo, fumaça, sofrimento, tortura e angústia onde ele vai lhe mandar viver, queimando, sofrendo, sufocando, gritando e chorando para todo o sempre. Mas ele ama você!


George Carlin

sábado, 1 de outubro de 2022

2 de outubro de 2022 

A HORA DO ACONTECIMENTO SE APROXIMA


Uma polaridade entre dois nomes esconde o óbvio.

É que um dualismo mais profundo circula e impregna mil discursos on-line e corpos supliciados. 

Democracia representativa versus fascismo à brasileira.

É disso o que se trata.

O que você quer?


A.M.