sexta-feira, 31 de outubro de 2025

A carne é triste depois da felação


A carne é triste depois da felação

Depois do sessenta-e-nove a carne é triste.

É areia, o prazer? Não há mais nada

Após esse tremor? Só esperar

Outra convulsão, outro prazer

tão fundo na aparência mas tão raso

na eletricidade do minuto?

Já dilui o orgasmo na lembrança

E gosma

escorre lentamente de tua vida


Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

RIO: CIDADE AMALDIÇOADA - EDUARDO BUENO

O que é psiquiatria? (1)


A psiquiatria é uma especialidade médica surgida na França em fins do século XVIII. Ai se dá a passagem (conforme Pinel) dos asilos aos manicômios.

No entanto, sua origem mais longínqua remete à existência de asilos no século VII (cultura árabe) e no século XVI (ocupação árabe na Espanha). Desde então passam a ser chamados de hospícios e se espalham pela Europa.

Sendo assim, a origem da psiquiatria se confunde com a origem dos asilos, dos hospícios e dos manicômios. Tudo se prepara para encolher as mentes.

A lógica dos asilos é o DNA da psiquiatria.

Já o século XIX, chamado século dos manicômios, dá origem aos hospitais psiquiátricos conforme o modelo atual.

São conhecidas as agressões e os horrores perpretados contra pacientes nos manicômios desse século e ao longo do século XX. Foucault descreveu com detalhes as torturas científicas.

No Brasil, entre outros horrores, o hospital psiquiátrico de Barbacena (1903 a 1990)  é um registro histórico como modelo da barbárie consentida.

No período do estalinismo na União Soviética (1927/1957) presos políticos (quantos?) foram internados em hospitais psiquiátricos. 

No período da ditadura brasileira (1964/1979)  presos políticos (quantos?) foram internados em hospitais psiquiátricos.

A psiquiatria tem uma história pouco edificante.

No Brasil, veio a reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial. Diferentemente, no campo da medicina nunca houve alguma reforma cardiológica, pneumológica, nefrológica, etc.

De fato, trata-se de uma especialidade que pede  um método para além do biomédico.

A psiquiatria (psicopatologia) não dispõe de uma teoria dos afetos, apesar da extrema importância desse conceito para o trabalho clínico, ou seja, da gestação do vínculo com o paciente.

O paciente psiquiátrico muitas vezes não quer ser atendido pelo psiquiatra, sendo levado à força por familiares ou terceiros. Na clínica médica, não se tem notícia de tal recusa por vezes hostil e agressiva.

O objeto de pesquisa e intervenção clínica da psiquiatria é invisível, impalpável e abstrato. Chamado de “mente” , não há nada parecido em pesquisa médica. A mente não é o cérebro.

Nos hospitais psiquiátricos (ainda existem!) é muito comum pacientes fugirem. Por que fugiriam do tratamento? Em contraste, nos hospitais gerais (clínicos) isso não existe. Pelo menos, que se saiba.

A alta e a cura são dispositivos raros na psiquiatria clínica.

Sim, uma estranha especialidade essa.


A.M.

The Throw It To The Wind Suite

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Não, meu amigo, a realidade

partiu a corda,

e de forma alguma agradece

ser a nossa espada cotidiana

o bife mal passado

sobre a bomba aux champignons.

Fatigada fatigada

tão fatigada de nós todos!

Mesmo tu, meu amor,

a roda do universo,

tu que eu fiz de plumas e silêncio,

tu minha noite cintilante,

a realidade fatigou-se de ti.


Isabel Meyrelles

LENY ANDRADE - Rio que mora no mar

FASCISMO  :  VIVA A MORTE


A frase "Viva la Muerte!" ("Viva a Morte!") é um lema fascista que simboliza a ideologia de violência e o culto à morte inerentes a esse movimento. Não deve ser confundida com o fascismo como um conceito ideológico, que possui características mais amplas, mas a frase representa a sua face mais destrutiva. O fascismo é uma ideologia totalitária, ultranacionalista e antidemocrática que prega a violência, a supressão de opositores e a valorização do Estado acima do indivíduo. 

Significado e origem da frase

A frase "Viva la Muerte!" se tornou notória durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), adotada pela Legião Espanhola, uma força militar nacionalista e fascista.

Ela encapsula a crença fascista de que a morte em combate é a maior honra e o destino final para purificar a nação de supostos inimigos e fraquezas.

Essa mentalidade reflete a glorificação da guerra, do sacrifício e do heroísmo que define a cultura política fascista. 

Características do fascismo

Totalitarismo e autoritarismo: O fascismo promove um Estado totalitário, onde o poder se concentra em um líder supremo e único, que controla todos os aspectos da vida pública e privada dos cidadãos.

Ultraconservadorismo e ultranacionalismo: O fascismo se opõe a ideias modernas, como o Iluminismo, e prega um ultranacionalismo que exalta a suposta superioridade da nação. Propaga a noção de que a nação, seus valores e sua história são superiores aos de outros povos.

Violência e agressividade: O fascismo usa a violência como ferramenta política para calar opositores, intimidar minorias e manter o controle da sociedade. O lema "Viva la Muerte!" é a representação máxima dessa agressividade.

Antiliberalismo, anticomunismo e antissocialismo: O fascismo se opõe fortemente a ideologias de esquerda, como o comunismo e o socialismo, e rejeita o liberalismo político e econômico, priorizando a intervenção estatal.

Segregacionismo e racismo: Muitos movimentos fascistas promovem o ódio e a perseguição de grupos minoritários, como judeus, etnias e minorias sexuais, visando a suposta pureza da nação. 

O fascismo como ameaça à democracia e aos direitos humanos. 

A ideologia fascista representa uma ameaça direta à liberdade, à democracia e aos direitos humanos. A história dos regimes fascistas do século XX, incluindo o nazismo, é marcada por genocídios, guerras e atrocidades que resultaram na morte de milhões de pessoas. 

Ao exaltar a morte e a violência como virtudes, a ideologia fascista promove uma cultura de terror e exclusão, contrária aos princípios de respeito, diversidade e igualdade de uma sociedade democrática.

Visão geral criada pela IA



As Sufragistas - Trailer

A religião convenceu as pessoas de que existe um homem invisível morando no céu, que vê tudo que você faz, todo dia, a todo instante. E esse homem-invisível criou uma lista de 10 coisas que ele não quer que você faça. Se você fizer uma dessas 10 coisas, ele tem um lugar especial cheio de fogo, fumaça, ardor, tortura e angústia para onde ele te envia para sofrer e se queimar e se sufocar e gritar e chorar para todo o sempre até o fim dos tempos... mas ele te ama! Ele te ama e precisa de dinheiro!


George Carlin

terça-feira, 28 de outubro de 2025

NO RIO, GAZA

 

Efeitos da extrema direita no Rio

A SOLIDÃO DO ESCREVER


Quando escrever é descobrir o interminável, o escritor que entra nessa região não se supera na direção do universal. Não caminha para um mundo mais seguro, mais belo, mais justificado, onde tudo se ordenaria segundo a claridade de um dia justo. Não descobre a bela linguagem que fala honrosamente para todos. O que fala nele é uma decorrência do fato de que de uma maneira ou de outra, já não é ele mesmo, já não é ninguém. O "Ele" que toma o lugar do "Eu", eis a solidão que sobrevêm ao escritor por intermédio da obra.

(...)

M. Blanchot - in O espaço literário

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Classical Violin

admirável

cérebro novo

mente

sem parar


A.M.



" Qual a relação do pensamento com a terra?"


                     – Deleuze e Guattari, O que é a Filosofia?, p. 84


O conceito só pode ser criado em um plano de imanência, o plano de imanência só pode ser traçado por um personagem conceitual, o personagem conceitual habita um plano, se desloca sobre ele extraindo conceitos. Tudo está amarrado, conceitos, planos e personagens não existem um sem os outros. Este é o objetivo de Deleuze e Guattari, criar uma Geofilosofia!

Por que Geo-filo-sofia?

GEO – Plano de Imanência – o solo absoluto, onde todas as forças se somam e se cruzam, a terra como grande territorializante e desterritorializante, com seus movimentos sísmicos, onde planos se fazem, se desfazem, se sobrepõem. Não é à toa que os planetas (incluindo o planeta Terra) derivam da palavra planétes, que significa viajante, errantes (nômades?)

PHILIA – Personagem Conceitual – aquele que preza pelo conceito bem feito, que junta e desjunta componentes para formá-lo. O amigo, mas ao mesmo tempo o rival, aquele que coopera na criação, mas ao mesmo tempo efetua destruições! Legisla, cria e destrói valores. Conexões e desconexões, carrega consigo um martelo para quebrar ou pregar.

SOPHIA – Conceitos – A sabedoria propriamente dita, o resultado do plano de imanência bem traçado e dos personagens conceituais andando pelo plano. Os conceitos são componentes que se condensam, que se coagulam, que insistem. Basta um acontecimento para que eles possam ser utilizados ou precisem ser atualizados. Não se trata de uma Verdade nas alturas ou nas profundezas, conceitos são sabedoria que cria uma superfície, que se torna consistente, são velocidades infinitas tornadas sustentáveis.

Se o objetivo de Deleuze no livro “O que é a Filosofia?” era falar concretamente, então aí está! Não poderia ser mais claro! A filosofia é, para a dupla de autores franceses, uma Geo-Filosofia. Ela nos protege do caos de maneira muito mais efetiva que a opinião, a contemplação, a discussão, a reflexão. A geofilosofia é a afirmação da potência do meio!

(...)


Rafael Trindade, do site Razão inadequada, acessado em 27/10/2025



domingo, 26 de outubro de 2025

TULIPAS ETERNAS


 

A  anti-escuta - 2


Num certo contexto de análise, não se trata aqui da acuidade auditiva. Isso é assunto de técnicos especializados.

Trata-se de outra coisa: "escuta" como sensibilidade social.

Ou, pode-se dizer, de uma percepção do mundo que vaza das linhas endurecidas da chamada pessoa humana, invenção cristã.

A Escuta é a percepção sensível e sensitiva do Outro no campo de um coletivo planetário.

A chamada pessoa não existe se não como forma estável e necessária à conservação da vida. É sua expressão reativa.

Reativa às  mil vulnerabilidades egóicas.

A Escuta é um agenciamento que atravessa o macrocosmos em direção ao microcosmos e vice-versa.  

Iso significa dizer que a Escuta não é apenas se colocar no lugar do Outro, mas tornar-se o Outro numa tarefa inglória e arriscada.

Na civilização moderna, prenhe da pulsão de morte disfarçada de Vida, não parece haver lugar ou tempo para a Escuta, ao contrário.

Daí as doenças...


A. M.

The Sheltering Sky-On The Hill-Ryuichi Sakamoto

conheci

uma mulher

amante da leitura 

da vida


há quanto tempo

isso não acontece?


uma miragem

no deserto do corpo

ou simples imagem

do céu

que nos protege?


não há

como calcular

custos e benefícios


nesse feitiço



A.M.


Mathis Picard Solo Piano from the Yamaha Studio in NYC | WBGO #jazz #pia...

sábado, 25 de outubro de 2025

MÉDICOS

CP: Mas a sua relação com médicos e medicamentos mudou a partir daí. Você teve que ir a médicos e tomar remédios regularmente, o que foi uma obrigação! Ainda mais você que não gosta muito de médicos.

GD: Não é uma questão pessoal, pois eu conheci muitos médicos encantadores. Mas é um tipo de poder ou a forma como eles manipulam este poder que me parecem detestáveis. Voltamos ao que já falei. É como se a metade das letras comportasse o todo. A maneira como manipulam o seu poder é detestável. Como médicos, eles são detestáveis. Tenho um profundo ódio, não pela pessoa dos médicos que, em geral, são encantadores, mas pelo poder médico e pela maneira como usam este poder. Mas uma coisa me deixou feliz e, ao mesmo tempo, é o que os chateia. Os médicos trabalham cada vez mais com aparelhos e testes, em geral muito desagradáveis para o paciente e que parecem não ter interesse algum, a não ser o de confirmar o diagnóstico. Mas se são médicos talentosos, estes já sabem o diagnóstico e estas provas cruéis só vêm reforçá-lo. Eles fazem uso destas provas de uma forma inadmissível. O que me deixou feliz foi que, sempre que eu tive de passar por um daqueles aparelhos, meu fôlego era fraco demais para ser registrado pela máquina. E quando tiveram de me fazer um… Não sei mais como se chama, mas é um exame do coração que não conseguiram fazer.

CP: Uma ecografia.

GD: Sim, é isso, e tive de passar por este aparelho aí. A minha alegria foi vê-los furiosos naquele momento. Acho que eles odeiam o pobre paciente neste momento. Eles aceitam errar o diagnóstico, mas não aceitam que alguém não possa ser visto pela máquina. Além do mais, eles são muito incultos. Eles são muito… Como diria? Quando eles se metem na cultura, é uma catástrofe. A classe médica é uma gente estranha. O que me consola é que ganham muito dinheiro, mas não têm tempo para gastá-lo ou aproveitá-lo, pois levam uma vida extremamente difícil. É verdade que os médicos não me atraem muito. É claro que isso independe da personalidade deles, mas quando exercem a sua função, tratam as pessoas como cães. Aí, há de fato uma luta de classes, pois se o paciente é rico, eles já são bem mais educados. Menos em cirurgia, que é um caso à parte. Mas os médicos precisariam de uma reforma, pois há de fato um problema.

(...)

Extraído de "O Abecedário" in Machine Deleuze, acessado em 25/10/2025

terça-feira, 21 de outubro de 2025

O  EXTERMÍNIO  DA  ALMA 

A alma não é o eu nem o cérebro. Este é objeto de neurocientistas,  neuro-cirurgiões finos, técnicos, artesãos de sinapses e neurônios aflitos, e por fim, alvo e vítima de psiquiatras estultos. Mas a alma também não é a das religiões. Ela pertence à natureza; é sua expressão ampliada sem fim. Isso assusta as caixas individuais subjetivadas em linhas de montagem do circuito industrial.  Daí as máquinas sociais da modernidade (visíveis ou não) fazem da alma uma coisa manipulável. Segundo Marx isso atingirá requintes de uma auto-micro-tortura como destino da humanidade. Uma Terra sem alma,  globalizada,  inteiramente livre para odiar.



A.M.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

O amor é uma das doenças mais bravas e contagiosas. Qualquer um reconhece os doentes dessa doença. Fundas olheiras delatam que jamais dormimos, despertos noite após noite pelos abraços, ou pela ausência de abraços, e padecemos febres devastadoras e sentimos uma irresistível necessidade de dizer estupidezes.O amor pode ser provocado deixando cair um punhadinho de pó de me ame, como por descuido, no café ou na sopa ou na bebida. Pode ser provocado, mas não pode impedir. Não o impede nem a água benta, nem o pó de hóstia; tampouco o dente de alho, que nesse caso não serve para nada. O amor é surdo frente ao Verbo divino e ao esconjuro das bruxas. Não há decreto de governo que possa com ele, nem poção capaz de evitá-lo, embora as vivandeiras apregoem, nos mercados, infalíveis beberagens com garantia e tudo. 


Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta.


Eduardo Galeano

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

PARADOXOS DA LINGUAGEM

O desejo é fluxo que se conecta com outro fluxo, com outros fluxos, e assim por diante, ao infinito. Ele é sempre agenciado (compõe-se de linhas múltiplas) mesmo que disso não se saiba. Quando é interrompido (impotência em desejar) dá-se uma cristalização, um endurecimento das suas linhas de funcionamento vital em prol do que chamamos de poder. O poder assassina. Ele é regido e mantido pelo universo da representação. Ou seja, funciona como identidade da consciência e do eu, o que, em termos do campo social, chama-se de Senso Comum e Bom Senso. Estas categorias são formas sociais (instituições) operando na perpetuação do par Eu-Consciência. No mundo ocidental cristão, os modos de subjetivação tendem a girar em torno desse a priori do pensamento. Basta analisar a geopolítica vigente e suas formações metastáticas. Ora, se, como diz Deleuze, o Senso Comum identifica e reconhece, enquanto o Bom Senso prevê, não haverá lugar para a criação, para o novo, para a invenção de outra política, exceto se trabalharmos com os paradoxos da linguagem. É aí onde a Poesia, a Literatura, a Arte,  a Loucura se expressam e se afirmam como verdades móveis para uma nova terra.


A.M.

sábado, 11 de outubro de 2025

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

DIAGNÓSTICO: A QUEM SERVE?

O corpo não é o corpo. O corpo é a alma. Esta é a realidade evidente para um trabalho em saúde mental. O que interessa captar é a alma, ou seja, "a alma do corpo". Um corpo sem alma é um pseudo-corpo, organismo visível ao modo médico de capturar clientes. Para encontrar a alma, há que descolar o corpo do organismo. Ativar sensibilidades finas e anônimas. A alma funciona em dobras, linhas invisíveis e linguagens do silêncio. No universo da Escuta e do Encontro, quem trabalha com saúde mental trabalha com a alma do outro e de si mesmo. Faz do diagnóstico ( qualquer um ) motivo de riso para algemas inúteis.  


A.M.

domingo, 5 de outubro de 2025

DIREITA   DELÍRIO


A extrema direita no Brasil vem cursando com e através de linhas subjetivas delirantes. São afetos de destruição ocultos por fundamentalismos de toda ordem.

Não se sabe quando isso começa, mas é possível situar em 2018. Ou 2013? Não que não atuasse antes, mas 2018 é o ano em que as fake news são alavancadas por uma candidatura à presidência que se tornou vitoriosa. 

Existe hoje apenas o fato histórico da produção internética de uma visão de mundo marcada por valores antigos e autoritários.

No fundo, uma recusa à democracia burguesa se tece na intentona de um golpe de estado.

Assim o delírio da extrema direita fabrica suas metástases. Entre elas uma erosão de sentido invade a ideia de democracia e normatiza a subjetividade individuada do cidadão de bem. Um eu fica à deriva e o vazio da política se instaura.

Surge a figura caricata do patriota delirante. E os lideres dessa corrente neo-nazi-fascista se aproveitam. Extraem mais-valia de prestigio e promessas para, no caso brasileiro, um voto secreto em 2026. A insanidade dos canais da internet é vista apenas como progresso tecnológico e expressão da liberdade .

O delírio à céu aberto.   


A.M.

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

MULTIPLICIDADES

Escrevemos "O anti-édipo" a dois. Como cada um de nós era vários, já era muita gente. Utilizamos tudo o que nos aproximava, o mais próximo e o mais distante. Distribuímos hábeis pseudônimos para dissimular. Por que preservamos nossos nomes? Por hábito, exclusivamente por hábito. Para passarmos despercebidos. Para tornar imperceptível, não a nós mesmos, mas o que nos faz agir, experimentar ou pensar. E, finalmente, porque é agradável falar como todo mundo e dizer o sol nasce, quando todo mundo sabe que essa é apenas uma maneira de falar. Não chegar ao ponto em que não se diz mais EU, mas ao ponto em que já não tem qualquer importância dizer ou não dizer EU. Não somos mais nós mesmos. Cada um reconhecerá os seus. Fomos ajudados, aspirados, multiplicados.

(...)

G. Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs, vol. 1