quinta-feira, 5 de junho de 2014

Quarenta garotos

Num país onde mais de 50 mil pessoas são mortas por ano, como é possível essa histeria com 40 garotos?”, indagou a socióloga Esther Solano, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), segundo reportagem de Lourival Sant’Anna publicada em “O Estado de S. Paulo” (1/6).

A indagação refere-se aos black blocs e revela as evidentes dificuldades da professora com o raciocínio lógico, que são multiplicadas por uma dramática carência de referências históricas. Contudo, atrás dela, é possível identificar os contornos de um fenômeno relevante.

Os “40 garotos” não estão sós: são uma superfície emersa, ainda que mascarada, da profunda crise na qual se debate a esquerda brasileira.

A violência que se espraia, oriunda de bandidos ou policiais-bandidos, obviamente não pode servir como justificativa para a colonização de manifestações políticas por grupos dedicados à violência. No plano lógico, há mais: a violência dos “40 garotos” não é uma resposta à criminalidade, mas uma apropriação política dos métodos dos criminosos.

A declaração de um dos líderes dos black blocs, reproduzida na reportagem, evidencia uma deriva perigosa, mas bastante previsível:

“Não temos aliança nem somos contra o Primeiro Comando da Capital (PCC). Só que eles têm poder de fogo muito maior que o Movimento Passe Livre (MPL). Eles fazem por lucro e a gente, contra o sistema.” Solano não vê nisso nenhum problema — e o problema é justamente esse.

(...) Fonte: Demétrio Magnoli, O Globo

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