O que é delírio?
Delírio é um dos principais sintomas em psicopatologia clínica. Numa visão biomédica, deve ser eliminado, como, por exemplo, se faz com uma dor de cabeça.
Ou ainda, segundo essa visão, remete a uma causa, a qual sendo eliminada, cessa o efeito (sintoma). Relação linear causa-efeito. A face tosca da "inteligência psiquiátrica."
No âmbito dessa relação linear "causa-efeito" o conceito de delírio sofre um desvio. Não conduz ao essencial que é cuidar do paciente. Tende ao controle e à violência maquiada como terapêutica. Qual?
Segundo a etmologia da palavra , delirar é "sair dos trilhos".
Ele é uma vivência (ou seja, prenhe de afeto) em que o juízo da realidade (de si e do mundo) está alterado. Mais profundamente significa dizer que uma outra realidade foi inventada.
O que está em jogo então é a verdade. Pergunta-se: o que ele está a dizer é verdade?
A questão da verdade abrange a todos nós.A verdade vem de fora. Desde muito cedo os pais enfiam verdades na mente dos filhos. Que acreditam, claro, sem questionar. A própria identidade ( quem sou?) é uma verdade-crença.
O que conduz à busca de ajuda clínica? Há várias respostas( alterações na conduta, perda da autonomia social, incapacidade laboral, etc). Contudo, é bom lembrar que nem sempre o delirante quer ajuda. Isso é fácil de verificar.
De todo modo, o delírio em saúde mental remete a várias causas e formas clínicas. Os quadros mais graves são os que o paciente "nem mais delira" já que ele é o próprio delírio. São as psicoses graves por vezes chamadas de esquizofrenias.
A rigor, qualquer patologia mental pode apresentar delírio. Ou mesmo qualquer vivência mental não patológica ( desilusão amorosa, a morte de alguém querido, um trauma existencial, uma grande mudança, etc) pode gerar um delirio.
O capítulo sobre delírio em psicopatologia é muito extenso. Importa destacar o aspecto vivencial já que o põe como afeto, aproximando-o de experiências múltiplas: mística, esotérica, artística, sexual, amorosa, espiritual, poética, cósmica, política,entre outras.
Do ponto de vista de uma forma subjetiva (existencial) o delírio preenche uma condição de sentido. Ou seja, ele é sobretudo "produção de sentido" , daí inscrito e expresso como linguagem.
Concluindo, o delírio está em toda a parte onde há alguma crença. Ele compõe a realidade histórico-cultural do mundo e nem por isso e nem sempre risperidona e haldol lhes são prescritos. Talvez estes sirvam a delirantes cadastrados.
A.M
Obs. texto revisado e modificado em 01/05/2023
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