segunda-feira, 30 de junho de 2025

A clinica, em psiquiatria, pode ser o lugar do Encontro. Ou melhor,  o não-lugar, pois não existe um espaço delimitado para as linhas do desejo, já que este funciona em conexões heteróclitas. A clínica é processo ou não é nada. Desse modo, as classificações diagnósticas (CID, DSM) são códigos oficiais que objetivam o assujeitamento do desejo. O lugar do Encontro se torna o lugar de matadouros científicos.


A.M.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

O CAPITALISMO SE ALIMENTA DA CRISE


¿Qué pasa sobre el cuerpo de una sociedad? Flujos, siempre flujos, y una persona siempre es un corte de flujo. Una persona, es un punto de partida para una producción de flujos, un punto de llegada para una recepción de flujos, de flujos de todo tipo; o bien una intersección de muchos flujos.

Si una persona tiene cabellos, esos cabellos pueden atravesar muchas etapas: el peinado de la joven no es el mismo que el de la mujer casada, no es el mismo que el de la viuda: hay todo un código del peinado. La persona ¿En tanto que qué lleva esos cabellos? Se presenta típicamente como interceptora con relación a los flujos de cabellos que van más allá, y más allá su caso y sus flujos de cabellos están ellos mismos codificados según códigos muy diferentes: código de la viuda, código de la joven, código de la mujer casada, etc. Finalmente ese es siempre el problema esencial de la codificación y de la territorialización, codificar los flujos con, y como medio fundamental: marcar a las personas, (porque las personas están en la intersección y el corte de los flujos, las personas existen en los puntos de corte de los flujos)

(...)

Hay una paradoja fundamental del capitalismo como formación social: si los flujos descodificados han sido el terror de todas las otras formaciones sociales, el capitalismo se ha constituido históricamente sobre algo increíble, a saber, lo que era el terror de las otras sociedades, la existencia y la realidad de flujos descodificados y que de hecho son asunto suyo.

Si fuera verdad, esto explicaría que el capitalismo es lo universal de toda sociedad en un sentido muy preciso: en un sentido negativo, sería lo que todas las sociedades han temido por encima de todo; y tenemos la impresión de que, históricamente, el capitalismo... es lo que, de cierta manera, toda formación social intenta conjurar, intenta constantemente evitar, ¿por qué? 

Porque es la ruina de todas las otras formaciones sociales. Y la paradoja del capitalismo, es que es una formación social que está constituida sobre la base de lo que era lo negativo de todas las otras. Eso quiere decir que el capitalismo solo ha podido constituirse por una conjunción, un encuentro entre flujos descodifícados de cualquier naturaleza. Lo más temible de todas las formaciones sociales, será la base de una formación social que deberá engullir a todas las otras. Lo que era lo negativo de todas las formaciones ha devenido la positividad misma de nuestra formación, eso es estremecedor.

(...)


Gilles Deleuze, Cours Vincennes, 16/11/1971, tradução para o espanhol de Ernesto Hernández, disponível em Webdeleuze

sábado, 21 de junho de 2025

Eu escolho te amar em silêncio…

Pois em silêncio não encontro rejeição

Eu escolho te amar na solidão…

Pois na solidão ninguém é dono de você além de mim

Eu escolho te adorar a uma certa distância…

A distância me protegerá da dor

Eu escolho te beijar no vento…

Porque o vento é mais suave que os meus lábios

Eu escolho te abraçar em meus sonhos…

Pois nos meus sonhos você não tem fim.


Rumi

Tenente-coronel Daniel Davis: Guerra com o Irã Fora de Controle

CONTROLAR CONTROLAR CONTROLAR CONTROLAR     CONTROLAR


As sociedades disciplinares são aquilo que estamos deixando pra trás, o que já não somos. Estamos entrando nas sociedades de controles, que funcionam não mais por confinamento, mas por controle contínuo e comunicação instantânea

– Deleuze, Conversações, 220

O conceito de Sociedade Disciplinar surgiu de uma análise dos processos históricos do século das luzes. Foucault se debruçou sobre a parte obscura da constituição dos direitos universais e da formação do homem moderno. Ficou claro que foi operando o conceito de Disciplina que estabelecemos todas as instituições de nossas sociedades industriais. A prisão em seu modelo panóptico, surgia como o padrão para o uso do espaço e do tempo.

Vinte anos depois, Deleuze revisitou o conceito de disciplina tentando identificar a sua transformação não apenas de força local em tecnologia política, como pensou Foucault, mas também como generalização social. Mais importante que isso, ele identificou que novas forças entravam em jogo e que, assim, o conceito de disciplina não dava mais conta da realidade. Longe de ser descartado, o conceito fora superado.

É na entrevista dada a Antonio Negri em Conversações (1990) que a ideia de Sociedade de Controle aparece. Deleuze então dedica um pós-escrito de algumas páginas sobre o assunto. É pouco material se restringirmos o novo conceito a estas páginas. Mas não seriam os dois tomos do Capitalismo e Esquizofrenia escritos junto à Guattari um grande conjunto de filosofia política que aponta para a formação de um novo tipo de sociedade? Assim, conceitos como Axioma, Rostidade, Territórios são fundamentais no entendimento dessas novas forças em jogo. Vamos entretanto nos ater a leitura deleuziana do conceito de Disciplina e à criação do conceito de Controle.

A Disciplina é uma maneira de se exercer o Poder, sendo este uma relação de forças que só reprime em última instância. A vigilância permitia que a disciplina operasse com um custo reduzido o que, por sua vez, difundiu os mecanismos disciplinares socialmente. A formação da sociedade disciplinar se dava nesse processo de produção de individualidade onde cada um é vigia de si e dos outros.

Deleuze chama atenção para uma transformação específica. A Sociedade Disciplinar operava pelo encarceramento, isto é, pelo confinamento massivo. O espaço fechado era o lugar da disciplina. A generalização social da Disciplina depende, no entanto, de alguma abertura. É preciso que os fluxos de Disciplina corram pelos espaços. Assim se apresenta a tendência da Disciplina em tornar-se Controle.

Neste sentido, a escola deixa de ser apenas o espaço da educação das crianças. Ela passa a envolver também a família, bem como o hospital. Foucault já tinha apontado para isso com a Biopolítica, enquanto um tipo de gestão da vida como um todo. Por isso mesmo, Deleuze diz que Foucault já sabia que as sociedades marcadamente disciplinares estavam chegando ao fim. A Sociedade de Controle nasce da combinação entre Disciplina e Biopolítica.

O que é a Disciplina para Deleuze? É um poder que interfere no mecanismo fundamental de todos os corpos. “Somos corpos em diferenciação”, ele diz. Temos uma virtualidade, um lugar que contém a nossa potência: “O que pode o corpo?“. E temos uma atualidade, aquilo que passa da potência da para existência: “O que é o corpo”. É nesse meio que age o poder. Ele funciona como um filtro: o que passa para a realidade deve ser filtrado…

O Estado e o Capital – hoje, quase uma só e mesma coisa – se apropriam dessa nossa capacidade de diferenciação. Sua necessidade é de integrar as singularidades em função de um objetivo comum. Por isso, a disciplina se apresenta como uma integração, enquanto uma linha de força que precisa fixar os múltiplos corpos atravessando-os por uma mesma forma.

Encerrar o fora, aprisionar o virtual, significa neutralizar a potência da invenção e codificar a repetição para subtrair dela toda possibilidade de variação, para reduzi-la à simples reprodução.

Maurizio Lazzarato, As Revoluções do Capital

A Disciplina é um tipo de captura. Afinal, Foucault não nomeia instituições de sequestro à toa. O que se aprisiona é a diferença. A diferença enquanto diferença ou a diferença que faz diferença. A capacidade de diferir deve ser regulada. Codificação das virtualidades, das variações possíveis, dos agenciamentos moleculares. Dos mil sexos, extrai-se o dualismo. Não há espaço para o Devir! Tradição, gestão e progresso, mas Devir, não!

Deleuze vê nisso um processo de refinamento da Disciplina que acaba por transformá-la em Controle. À delimitação rigorosa das sociedades disciplinares ao espaço e ao tempo soma-se o controle da criação e do acontecimento. A invenção só deve acontecer em horário comercial. A criatividade tem a Empresa como lugar definido. A diferença vale tanto quanto vende. O conceito é um comercial na televisão.

A questão é que a Disciplina tem seus pontos-cegos. Ela confina forças, mas não fluxos. Encarcera corpos, mas não ideias. Assim, a Sociedade Disciplinar entra em crise porque é impossível conter a multiplicidade. Por pura extravagância, a vida se apresenta como resistência. Os movimentos sociais do pós-guerra confirmam isso. Maio de 68, Primavera de Praga, Brigada Vermelha, Woodstock, Black Panthers… o melhor jeito de escapar do monstro enquanto modalidade de subjetivação é pela afirmação.

À revelia da enorme estupidez dos anos da guerra, representados em canções de luta e amor. Mas, infelizmente, o questionamento dos anos 70 não foi suficiente. Houve, desde então, uma aceleração da reorganização da Disciplina em Controle. O Neoliberalismo e o Mercado Mundial se apresentam então como as novas forças de dominação e favorecem uma nova ordem política.

A passagem da sociedade disciplinar à sociedade de controle se caracteriza, inicialmente, pelo desmoronamento dos muros que definiam as instituições. Haverá, portanto, cada vez menos distinções entre o "dentro e o fora” 

Hardt, A Sociedade Mundial de Controle

O Controle é a nova maneira pela qual se exerce o Poder e ele se afasta da Disciplina no que concerne a disposição do tempo e também do espaço. Se a Disciplina marcava o espaço por Territorializações, o Controle marca por processos de Desterritorialização. Não se trata mais de capturar o virtual, como o “fora” entre corpo e a potência. Não há mais fora! Para que o Controle seja contínuo ele não deve apenas interferir na passagem do Virtual ao Atual, ele precisa represar a passagem. A condução dos fluxos numa Sociedade de Controle é canalizada, sintonizada, por que não.  Não se constitui um território onde a ação passe por um filtro, mas faz-se uma introjeção do filtro. O Virtual deve ser tomado pela Desterritorialização, isto é, a potência de um corpo deve ser controlada a partir de dentro. Dá no mesmo dizer que o que se deve capturar é o Desejo.

Se a Disciplina marcava o tempo pelo relógio, o Controle percebe que o tempo cronológico é, na verdade, pouco produtivo. É mais inteligente pensar qual o melhor momento. Em que momento pode-se extrair mais de cada tipo de corpo? Para cada corpo, uma medida. A captura do tempo se dará no campo da heterogênese. “Você rende mais à noite? Fique à vontade para fazer seu horário“. A produção não se dá mais em turnos, ela acontece o tempo inteiro.

É preciso falar também da mudança na produção de subjetividade. O Normal é produzido em espaço aberto. Não há mais passagem entre a escola, a faculdade e o trabalho. Há uma espécie de Conurbação Afetiva, bem monótona. O Controle atravessa as paredes pelas ondas eletromagnéticas para fazer circular um número ínfimo de afetos. Deleuze fala que o plano da vez é a educação nacional, e isto significa precisamente, a entrega da escola à empresa. Nossas escolas devem produzir bons “Empreendedores de Si”.

A sociedade de controle funciona por redes flexíveis moduláveis, como uma moldagem auto deformante que mudasse continuamente, a cada instante, ou como uma peneira cujas malhas mudassem de um ponto a outro.

– Deleuze, Conversações

A ideia de Modulação se faz necessária para entender o conceito de Controle. A captura das multiplicidades se faz através de uma Modulação dos fluxos, tudo é muito mais moldável e flexível. Como uma peneira que tem sua trama modificada de acordo com o indivíduo, com o momento, com a cor da pele, com o gênero, com a orientação sexual… Para cada um, os fluxos devem passar de uma maneira diferente. Tudo diferente para que fique exatamente igual, assim se controla muito melhor. O que aceitar de cada subjetividade é mais interessante do que tentar encaixá-las em modelos. É assim que se produzem figuras como a do Negro dominado pela branquitude, da Mulher a serviço da empresa, do Homossexual com poder de consumo… Somos todos iguais e celebramos nossa diferença, contanto que o diferente aja dentro do que lhe é esperado.

À serviço do Capital, o Controle nutre-se da alteridade. É possível ser mais claro? A submissão de qualquer diferença a um rosto interessa a partir do momento em que qualquer pessoa é um potencial consumidor! Não interessa mais excluir, mas o interesse pela inclusão se dá apenas pelo Consumo. O Controle, melhor que a Disciplina, tem a capacidade de orquestrar a diferença prendendo-a em um circuito de lucro.

Imensas novas forças estão implicadas na Sociedade de Controle: as bolsas de valores, os bancos, as empresas, a mídia, a publicidade. O processo de captura do Desejo não é simples. O Controle move enormes quantidades de força reacionária: uma Axiomática. Primeiro, é preciso que as pessoas acreditem que as demandas sociais são verdades inquestionáveis, que o país só cresce quando os bancos lucram, que o produto melhor é o mais novo, que o   metrô é o melhor uso do dinheiro público. Segundo, é preciso capturar as palavras perigosas. Experiência, conceito, ação, invenção. Só através da captura das máquinas de expressão é que se captura da multiplicidade em espaço aberto. É por esse motivo que as instituições da grande Mídia tem tanto poder. Ao disputar a narrativa, elas disputam a produção de pensamento.

A fábrica era um corpo que levava suas forças internas a um ponto de equilíbrio, o mais alto possível para a produção, o mais baixo possível para os salários; mas numa sociedade de controle a empresa substituiu a fábrica, a empresa é uma alma, é um gás. Sem dúvida a fábrica já conhecia o sistema de prêmios, mas a empresa se esforça mais profundamente em impor uma modulação para cada salário, num estado de perpétua metaestabilidade, que passa por desafios, concursos e colóquios extremamente cômicos.

– Deleuze, Conversações

Capital, eis o axioma fundamental. Por isso dois livros inteiros com o subtítulo “Capitalismo e Esquizofrenia”. Em nossas sociedades tudo se dobra em frente aos grandes valores: Números com muitos zeros à direita, pessoas com muitos zeros à esquerda! Tudo se justifica com o argumento da grana. Manobras em tempos de crise? A crise é full-time. Tudo se aceita em nome de um bom emprego. Emprego de quê? De nossas forças, é claro.

Não podemos nos habituar com a vida triste de nossas Sociedades de Controle. Obedecer já não é mais questão de disciplina, mas de hábito. É preciso combater isso! Conseguiram camuflar os problemas introduzindo uma Axiomática em nossas cabeças. Precisamos recuperar o plano que dá sentido aos problemas, mas precisamos antes voltar a enxergar os problemas. Vivemos numa guerra, precisamos de novas estratégias! Voto de Pobreza? Talvez, mas é apenas uma. O que é inquestionável é a necessidade de questionar! Posicionar-se é a primeira manobra de resistência!


Razão inadequada, site acessado em 21/06/2025

sexta-feira, 20 de junho de 2025

“Esse ataque libertará algo que ninguém controla”: Rússia responde sobr...

COMO  RECONHECER  O  FASCISMO?


Há 100 anos (Itália, 1922)  nascia o fascismo de Mussolini. Ao seguir na história, esse movimento político inspirou outros regimes (Alemanha, Portugal, Espanha, etc) tornando-se referência até para a dita esquerda. No entanto, à medida em que a sociedade industrial avança , e com ela a tecnologia da imagem, o fascismo se fez diferenciar do totalitarismo. Para obter a dominação e o controle de milhões, formas sociais (instituições) passaram a utilizar métodos com micro-efeitos nas populações, no que Félix Guattari chama de microfascismos. Sem esse nível de “persuasão mental” o controle dos corpos e mentes se revelaria ineficaz. O fascismo tornou-se microfascismo. Dominar de modo explícito cedeu lugar ao controle sobre sujeitos sem que estes saibam que estão sendo controlados e mais, gostem de ser controlados. Óbvio que dominar “por dentro” sempre existiu, ainda que pelo terror induzido na mente dos supliciados. Mas falamos de outra coisa. 100 anos de fascismo foram suficientes para a produção em série (escala planetária) de pessoas humanas que adotam e adoram o capital com ponto hegemônico de subjetivação e desejam isso não só para si mas para todos, ou seja, para o restante da população mundial. Um processo “natural” é induzido por agências de controle, mormente os Estados nacionais, o grande sistema financeiro e internético com suas mídias afiadas em serviços num plantão ad aeternum. É difícil identificá-lo no coração das pessoas de bem. Se este sentimento de “viva a morte” se instaura e age à revelia do seu portador, a impossibilidade de auto-crítica surge como pressuposto subjetivo. “Que eu morra, mas que permaneçam os valores em que acredito”. Tal é o refrão macabro (inconsciente?) do cidadão comum para, por exemplo, apoiar e atuar conforme o ideário de fundamentalismos religiosos. Trata-se de um desejo funéreo. Uma linha suicidária passa a ser o dado natural da vida. Morrer pela pátria equivale a morrer pela família, pela escola, pela religião, pela medicina, pela ciência, por todas as formas sociais, enfim, de transcendências ( o além da vida).  Isso credita e legitima a existência da sociedade regida pelo capital,  não só como categoria de lucro econômico, mas como fábrica de imagens para um gozo paranóico. O fascista é um paranóico. Tal sentimento se interiorizou a um ponto tal que parece  ter deixado de existir, ao mesmo tempo existindo mais que nunca: teorias da conspiração tamponam o buraco do sentido. Estaremos ( sem saber sabendo) num universo linguístico de redundâncias e paradoxos? Na linha de montagem da subjetividade capitalística, parece, então, irreal, irracional, romântico e até mesmo delirante o parto de um outro mundo no interior deste. Pensar se tornou obsceno.


A.M.

Jaws - Theme (HQ Audio) • John Williams

domingo, 15 de junho de 2025

Definição de Poesia


Um risco maduro de assobio.

O trincar do gelo comprimido.

A noite, a folha sob o granizo.

Rouxinóis num dueto-desafio.


Um doce ervilhal abandonado

A dor do universo numa fava.

Fígaro: das estantes e flautas

Geada no canteiro, tombado.


Tudo o que para a noite revela

Nas funduras da casa de banho,

Trazer para o jardim uma estrela

Nas palmas úmidas, tiritando.


Mormaço: como pranchas na água,

Mais raso. Céu de bétulas, turvo.

Se dirá que as estrelas gargalham,

E no entanto o universo está surdo.

 

Boris Pasternak

Tradução de Haroldo de Campos

quarta-feira, 11 de junho de 2025

UM MUNDO PARANÓIDE - 2

Numa análise do desejo o militante da extrema direita ou o crente da extrema direita (o que dá no mesmo), adota, carrega e goza uma visão paranóide da realidade. Trata-se de uma imensa e coletiva bolha de egos mantida com proteção hostil e armada. Fabrica um inimigo onipresente que Deus ajuda a vigiar. E punir. A extrema-direita funciona como "remédio social" já que prega uma revolução às avessas. Tudo às custas de uma grande faxina imaginária das mentes emporcalhadas. A produção mental é insana. Está prenhe de teorias conspiratórias e é exemplo de acesso fácil mas assustador ao plano da realidade da Terra. Expressa um fluxo afetivo deliróide  funcionando em escala industrial. Há uma linha de montagem para almas desalmadas. A fratura da linguagem já está exposta. Isso não cessa, isso não pára, isso não cede, isso mata: se se pede socorro à semiologia  psiquiátrica, o diagnóstico escancara: Uma psicose coletiva assombra a alma burguesa disfarçada de cristã. Ou o inverso. Enfim, a profecia (não a dos profetas) cumpriu-se: o capital, como fazem os vampiros, encarnou-se na economia do espírito: No return.  A internet é pródiga. Com paciência confira seus algoritmos.


A.M.

sábado, 7 de junho de 2025

ROSTIDADE

(...)

Conclusão: o rosto é uma criação exterior! Ele não é a priori, ele não é uma alma encarnada, ele é pura e simplesmente uma ficção que delimita fluxos. Ele é imposto de fora, ele é uma criação do poder. Nos tornamos rostos, por isso este conceito funciona muito mais como um verbo: Rostificar.

Rostificar é impor uma maneira de ser, de se mover, de falar, de se vestir, de amar, de viver! Um modo de pensar e de sentir! O rosto é a máscara que nos obrigaram a vestir! Mas por quê? Para quê?

A rostidade é usada toda vez que uma multiplicidade precisa ser organizada. Como assim? Um ponto central é definido como modelo, e outros rostos são distribuídos de acordo com este fundamento central. Para distribuir a multiplicidade é necessário algum critério, certo? Este critério estabelece uma hierarquia de proximidade e semelhança. 

E qual é o grande modelo? Qual o modelo que todos devem imitar mas do qual muitos permanecerão distantes? Todos nós sabemos: 

Homem-branco-europeu-racional-capitalista-cristão-heterossexual-magro…

(...)

Do site "Razão inadequada", acessado em 07/06/2025

terça-feira, 3 de junho de 2025

TRAIR, TRAIR

A tarefa do Encontro passa a ser trair a semiologia instituída.  Isso abre  condições de possibilidade para avaliações não centradas no sistema mente/cérebro (conforme a psiquiatria biológica) ou na  consciência  do eu/objeto (cf  Jaspers). Os afetos  “normais” e  as  crenças  não delirantes misturam-se aos  signos patológicos compondo agenciamentos coletivos nem sempre reconhecíveis. Falar  em afetos é, pois, falar  da  intensidade das vivências. Eles  são  o corpo, não necessariamente o corpo-organismo, mas o corpo-desejo, o corpo sem órgãos. Quanto às crenças, estão inseridas na materialidade dos territórios existenciais. Remetem a um sistema de códigos, por  vezes, particular, como na esquizofrenia. A ligação de determinada vivência a uma síndrome, por mais exata que  seja, é  contextual. Daí, a análise da  vivência preceder  o diagnóstico. “O que você  sente”? Em que  você acredita?” são indagações  primárias. A consciência, o eu, a fala, a atenção, a percepção, a memória, a inteligência, enfim, todo o universo das representações mentais deriva  daí.


A. M.

Wagner Moura brinca com Kleber Mendonça Filho em Cannes e bastidores do ...

domingo, 1 de junho de 2025

A anti-escuta  -  3


Na sociedade moderna a Escuta vira anti-escuta. Ou pelo menos são cultivadas as condições sócio-políticas para isso.

Está no ar a velocidade dos fluxos de comunicação e informação.  Como se o vento anunciasse tempestades. Ou se ele fosse a própria tempestade.

A linguagem do sistema do capital é composta de fluxos e não de significações prévias. Tudo se ajeita. Não importa que talvez você seja um analfabeto. As mensagens são feitas para isso, contam com isso.

Analfabetos, diz-se, no sentido da produção de uma realidade imagética que permeia os afetos e substitui a Terra finita por um infinito de lucro. Ó Marx!

A forma-pessoa é substituída pela forma-consumidor, mesmo e principalmente o que se consuma no próprio extermínio da alma.

Aldous Huxley disse tudo no " Admirável mundo novo" (1932). De lá para cá o aprofundamento do controle das massas e seu suicídio induzido.

Não há retorno do fascismo, do nazismo, da ultra-direita e de todas as expressões da pulsão de morte. Elas já estavam aí.

A anti-escuta avança como Tecnologia Científica com sua verdade religiosa. Hiroshima ainda não foi o pior.


A.M.