O QUE NOS AMEAÇA
Para você, o acoplamento entre luta política e criação dá uma capacidade nova que busca a alegria. É isso ser “de esquerda”?
I.S. Segundo Gilles Deleuze, existe uma diferença de natureza entre esquerda e direita. A esquerda, de maneira vital, tem necessidade de que as pessoas pensem. Isso não quer dizer que elas façam teoria, mas que tomem em suas mãos, coletivamente, os assuntos que lhes concernem. No século XIX, é o que fez a classe operária quando criou as mutuais, as bolsas de trabalho. Já a direita tem necessidade de que as pessoas aceitem a ordem estabelecida, pouco importando qual seja, contanto que a respeitem. Os dispositivos que produzem a igualdade, portanto, são “de esquerda”. Às vezes, o que eles exigem é duro, mas aprender conjuntamente a estar à altura do problema posto, a não submetê-lo a generalidades, é um acontecimento criador de alegria. Quando vozes até então sufocadas e desqualificadas, reduzidas a resmungos, são transformadas em saberes articulados, o problema é mais bem colocado. Alianças inesperadas devêm possíveis. O que nos ameaça é a divisão e o ressentimento: a alegria é o contrário do ressentimento, e é ela que pode ser comunicada a outros. Seria preciso fazer com que ela fosse sentida em relatos que mostrassem como vieram à tona catálises, encadeamentos e aberturas de imaginação, quando tudo parecia bloqueado: “Se ali é possível, então aqui também pode ser!”
Isabelle Stengers, entrevista ao jornal parisiense L´Humanité, 15 de julho de 2013 (trecho)
Nenhum comentário:
Postar um comentário