domingo, 17 de novembro de 2024

SOBRE O "ANTI-ÉDIPO"

Escrever é esquecer, antes de tudo, o esquecimento da conveniência formal, do bom estilo. Já não os canais, os parques, os arvoredos, os lagos à francesa da escrita rarefeita destes tempos, nem sequer as graciosidades epigonais hexagonais e de um gosto muito seguro;  nem as mil conotações apagadas. Quando o olho de Deleuze-Guattari pisca, é tão grande como uma represa.O seu livro é um deslocamento de águas volumosas, umas vezes lançadas em torrente, outras estacionárias, trabalhando por baixo, mas avançando sempre, quer com as vagas ou com as correntes, quer contra-correntes. O que está em causa não é uma significação, mas uma energética. O livro não traz nada, leva muito, transporta tudo(...) Não é um livro de filosofia, isto é, de religião. Nem sequer a religião das pessoas que já não acreditam em nada, a religião da escrita. A escrita é antes tratada como uma maquinaria: absorve energia e a transforma em potencial metamórfico no leitor.

(...)

J.F. Lyotard

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