qual política
não se afina
com a morte
qual política
não se casa
com o poder
qual?
A. Moura
Este blog busca problematizar a Realidade mediante a expressão de linhas múltiplas e signos dispersos.
terça-feira, 31 de maio de 2011
"Primeiro: a arte forma a loucura e não a reprime. Segundo: a arte quase sempre funciona como antenas sensíveis da justiça social e da indignação moral, mantendo a alma alerta para a hipocrisia, o jargão, a repressão e o chauvinismo. Terceiro: o maior inimigo da arte é a mediocridade", Hillman, J. e Ventura, M., trad. Norma Teles, Cem anos de psicoterapia ... e o mundo está cada vez pior, São Paulo, Summus, 1995, p. 158 e 159.
"Todos sabem que a física newtoniana foi destronada no século XX pela mecãnica quântica e pela relatividade. Mas os traços fundamentais da lei de Newton, seu determinismo e sua simetria temporal, sobreviveram (...) (...) A vida só é possível num universo longe do equilíbrio", Prigogine, I, O fim das certezas: tempo, caos e as leis da natureza, trad. Roberto Leal Ferreira, São Paulo, Editora da UEP, 1996.pgs. 4 e 18.
MISTÉRIOS DA MEMÓRIA
"Por que certas memórias são consolidadas é algo misterioso (...) (...) O armazenamento das memórias também é algo um pouco misterioso, (...) (...) Às vezes, um fato ou idéia vem à tona sem ser solicitado- outro processo misterioso que depende de criatividade, impulso e espontaneidade. (...) (...) Pode-se lembrar de um nome que óbviamente está errado- outra questão misteriosa, Andreasen Nancy C., trad. Ronaldo Cataldo Costa, Admirável Cérebro Novo:vencendo a doença mental na era do genoma,Porto Alegre, Artmed, 2005, p.59.
*grifos nossos.
*grifos nossos.
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Militamos por uma idéia de múltiplas vidas se ligando em direção ao sentido dos paradoxos. Deleuze é um intercessor que serve de linha do destino, perigosa e rápida enquanto a polícia do estado e do mercado batem à porta. Urge a camuflagem do cotidiano como porta aberta para o infinito. Castañeda, Miller, Prigogine, Guattari, Milôr, Nelson Rodrigues, Klossowski, Lovecraft, Poe, Foucault, Machado e muitos outros,aceleram o processo, produzem a produção, escarnecem o Velho.A máquina psi, como sede da corregedoria do Real, breca a saída. No entanto, tornar-se concreto em práticas cruéis é uma possibilidade. O virtual existe. Bakunin é um aliado esquizo. A poesia poetiza. Sem tempo, o tempo se angula, se flexiona, se dobra, se faz, se produz. Uma alegria se espraia.
A. Moura
* Extraído do livro "Trair a psiquiatria", a ser publicado.
A luta pela saúde mental é antes de tudo uma luta ético-política. "Mental" não é o cérebro, mas o Mundo Coletivo do qual o cérebro faz parte. Nesse sentido, ela é uma prática imanente que dissolve as fronteiras entre as disciplinas, inclusive as que pregam a fé na Ciência como A resposta das respostas.
Antonio Moura
domingo, 29 de maio de 2011
Qual ética?
A psiquiatria carece de um trabalho ético profundo, radical. Uma ética não idealista, mas encravada nas condições da PRÁTICA. Sabemos que as suas bases teóricas são simplórias e frágeis, mas se mantém atuantes e poderosas. É que alianças institucionais (estado, família, academia, direito, polícia, escola e tantas outras) capturam o doente mental num retrato irracional em tempos de razão técnica. Assim, garantem a permanência do Mesmo sob os disfarces do Crônicamente Novo (a reforma psiquiátrica, as políticas de saúde mental, os debates acadêmicos, etc). Trata-se de uma sedação sem remédio...
Antonio Moura
Segredo
A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.
Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.
Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.
Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.
Carlos Drummond de Andrade
A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.
Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.
Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.
Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.
Carlos Drummond de Andrade
Psicofarmacologismo
A questão do farmacologismo em psiquiatria não se resume a passar remédios químicos em excesso. Isso é evidente demais. Psiquiatras remedeiros se multiplicam ... Queremos dizer outra coisa: o farmacologismo se impõe graças 1-a inexistência atual da pesquisa em psicopatologia; 2-o mecanicismo instituido como verdade (relação linear causa-efeito, o cérebro reificado); 3-o efeito (rápido) de controle químico sobre as condutas ditas anormais; 4- os interesses poderosos das multinacionais farmacêuticas; 5-a ausência de uma teoria psiquiátrica da subjetividade; 6-os grandes buracos semiológicos pregados na grade nosologica psiquiátrica. Estes 6 ítens não esgotam a análise do problema, mas são eixos para se pensar...seguindo a linha de fuga do vôo da bruxa, como diriam D-G.
Antonio Moura
sábado, 28 de maio de 2011
Á PROCURA DA DIFERENÇA
"Na clínica dos transtornos mentais, como chegar à diferença? Como estabelecer uma prática clínica que não se aferre a dogmas cientificamente respaldados, e, ao contrário, empurre o pesquisador na via das incertezas básicas? Como compreender o incompreensível sem acreditar que a tarefa está concluida? Nosso foco, por assim dizer, é a diferença."
Antonio Moura
*Extraído do livro "Linhas da diferença em psicopatologia", Salvador, Cian, 2007, p.162.
DELÍRIO
"As crenças existem pró eriçados da razão. O capitalismo universal é a vontade dos néscios da máquina. Todos a servem com prazer. A roda da fortuna premia os corretos. Não tenho mais referências, exceto às do oceano de sangue verde. Procurei diálogos abertos, francos, verdadeiros, com os representantes das oligarquias do pensamento. Não obtive êxito, pelo contrário. O que me restou foi o corpo exposto em linhas da arte do precipício. A medicina é uma mina de dinheiro. Conversei com médicos cristãos. Eles até que atenderam as minhas preces, desde que não se tocasse no essencial. O essencial é a igreja. Tudo é vendável. Argumentei por vielas escondidas sobre a carne dos anjos. Nada feito. Então me tornei um delírio de igualdade, coisa de sonhos acordados: isso não se usa mais. Abortei a palavra objetiva e retornei a pequenas crenças da noite. Ela (a noite) me abrigou do nada, como se diz; "venha ser um dos nossos".Quando percebi, era já muito tarde e a aurora se desfazia em cultos trágicos. Disse ao psiquiatra que ele enganara a todos, menos à loucura, testemunha sem código estável. E morreu aí. Não ele, mas a psiquiatria dos olhos opacos"
Antonio Moura
* extraído do livro "Trair a psiquiatria" , a ser publicado.
Origens da psiquiatrização
A psiquiatria é uma forma de relação social, ou uma forma social de relação (por isso uma instituição) e só "depois" se torna (lá pelo século XIX) uma especialidade médica. Esse dado compõe o seu Inconsciente Histórico. Daí ser quase impossível aos psiquiatras perceberem tal realidade. Há muitos interesses em jogo. A pessoa do psiquiatra é tão só uma peça numa engrenagem compósita. Michel Foucault é um pensador que serve para PENSAR a psiquiatria fora da psiquiatria. Considera-la tão só como uma especialidade médica, e pior, começar a avaliá-la por esse viés é um atentado à inteligência política e à ética da clínica dos chamados transtornos mentais.
sexta-feira, 27 de maio de 2011
segunda-feira, 23 de maio de 2011
DEVIRES
O paciente vive entristecido pela Grande Máquina. Sua alegria foi aniquilada em plena vigília. Do nada. Ninguém assume a autoria dos pequenos crimes. Eles são administrados em nome da paz de espírito. Ora, o espírito também caga. Avise aos últimos palhaços que a arte foi solapada em nome do ideal dos homens de branco. Ao que me consta, nada mudou no sulco das bocas. Elas falam rachando dentes. Mastigam auroras nati-mortas. Mas o Rosto carrega uma expressão justa, como negar? A bondade natural dos humanos. Ó Lovecraft, socorrei! Apenas uma cidade respirando um arco-íris, manda por favor... Não falo por mim. Por mim, ó... Falo pelo que não sou, falo por devires. Escutai a canção do mundo... Você dança? O paciente sucumbe à Ordem. Por favor, o senhor pode me dizer as horas? Já vai tarde o tempo dos mestres, com todo o respeito. Sonâmbulos da própria dor, como falar aos que não falam? A Grande Máquina é uma pequena dose de benefícios a curto e médio prazo. Ela se insinua na febre dos corredores infectos. Um susto, um sus. Tudo é contágio. Resistir à morte, e fazer dessa vibração algo novo, será possível? Talvez um devir-amante imerso em trepadas millerianas. Bicho, perdoa o jeito canino: o que é necessário para viver por viver? Pacientes são pacientes demais. Armaduras químicas, lições de casa, manuais de sobrevivência, coisas simples, eles são normais. Eu queria um gosto de sol em você, em suas dores mais intensas e irremediáveis. Pena que a sombra dos quintais do passado anuncie sessões de tortura regadas à dinheiro. A entrega é às oito. Todos estarão lá, até o chefe da Facção Sinistra, aquele mesmo que começou a seduzir a multidão com truques de falar macio. Não tem jeito. Somos inocentes radicais.
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