sábado, 30 de novembro de 2013

Como era bom
o tempo em que marx explicava o mundo
tudo era luta de classes
como era simples
o tempo em que freud explicava
que édipo tudo explicava
tudo era clarinho limpinho explicadinho
tudo muito mais asséptico
do que era quando eu nasci
hoje rodado sambado pirado
descobri que é preciso
aprender a nascer todo dia

Chacal
O desespero eu aguento.
O que me apavora é essa esperança.

Millôr Fernandes

MOACIR SANTOS - Coisa nº 2


PROBLEMA DA BESTEIRA

Mais profundo que o gesto exterior do ataque ou o movimento da voracidade, há o processo interior da digestão, a besteira nos movimentos peristálticos. Razão pela qual o tirano não é apenas um cabeça de boi, mas de pêra, do couve ou de batata. Alguém nunca é superior ou exterior àquilo de que ele se aproveita: o tirano institucionaliza a besteira, mas é o primeiro a servir seu sistema, e o primeiro instituído é sempre um escravo que comanda escravos (...)

G. Deleuze in Diferença e repetição

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A ferida /está com pus/ a multidão/ com o sus

UMA CAVERNA NO COLORADO

(...) Agora pensei, empurrando meu carrinho, tenho esse emprego. é assim que as coisas devem ser? Não é de espantar que homens assaltem bancos. Há muitos trabalhos por demais aviltantes. Por que diabos, eu não era um juiz de uma corte superior ou um pianista de concerto? Porque isso exigia treinamento e treinamento custava dinheiro. Mas de qualquer forma, eu não queria ser nada na vida. E nisso certamente, eu estava sendo bem-sucedido. Empurrei meu carrinho até o elevador e apertei o botão. As mulheres queriam homens que ganhassem dinheiro, as mulheres queriam homens de estirpe. Quantas mulheres de classe viviam com vagabundos de cortiço? Bem, eu não queria uma mulher mesmo. Não para viver junto comigo. Como os homens podiam viver com mulheres? O que isso significava? O que eu queria era uma caverna no colorado com um estoque de comida e bebida para três anos. Limparia minha bunda com areia. Qualquer coisa, quelquer coisa que me salvasse do afogamento desta existência trivial, covarde e estúpida.

Charles Bukowski
manifestante no Cairo

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

o pensamento  vive 

                    excluído
das  pequenas  coisas
que  são  as maiores

a  quem interessa
toda essa  pressa
em  cadastrar  os sintomas?


A.M.

JOÃO BOSCO E DJAVAN - Corsário


A CONTRA-ORDEM

(...) O enquadre "cidológico" da psiquiatria atual não dá conta da complexidade das crenças e  dos afetos do paciente.Como antídoto, usamos a loucura como uma espécie de "não-conceito",  campo de intensidades fluidas, regime a-significante. Ele segue o fluxo dos devires, empurra e isola a instituição-saúde mental para o campo da repetição serial do Diagnóstico-essência. Em contra-partida, libera um espaço de criação e redefine o propósito de encontrar o paciente e não o de examiná-lo. Sabemos que isso é difícil  pois a saúde mental opera num regime binário de significação: normais ou doentes. É uma marca de poder. Conta com dispositivos reducionistas aguardando ordens: "atire em tudo que se mexer!"
(...)
A.M.
AS APARÊNCIAS REVELAM

Afirma uma Firma que o Brasil
confirma: “Vamos substituir o
Café pelo Aço”.
Vai ser duríssimo descondicionar
o paladar.
Não há na violência
que a linguagem imita
algo da violência
propriamente dita?

Cacaso

NOEL ROSA - Úlimo Desejo


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Médicos pedem o fechamento da emergência de hospital público do Rio

 Os médicos que integram o corpo clínico do Hospital Municipal Salgado Filho, localizado na zona norte da capital fluminense, pediram hoje o fechamento da emergência da unidade, uma das mais movimentadas da cidade, por falta de profissionais e de equipamentos. O pedido foi feito durante reunião com representantes do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj).

Na visita que fez ao hospital, o conselho constatou que na sala de repouso estavam 31 pacientes masculinos para sete leitos e 20 femininos também para sete leitos, além dos que, em macas, aguardavam atendimento no corredor. Para piorar o quadro, a equipe do Cremerj foi informada que a Unidade de Pacientes Graves (UPG) foi fechada. No local, passou a funcionar a sala vermelha, onde havia 26 pacientes graves, mas com um clínico de plantão, quando deveria haver, no mínimo, três.
(...)
Fonte: Douglas Correa, Agencia Brasil

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A universidade desenvolve todas as capacidades, inclusive a estupidez.

Anton Tchekhov
segredos da Malásia - V

A FELICIDADE COMPRADA

O objetivo do consumidor não é possuir coisas, mas consumir cada vez mais e mais a fim de que com isso compensar o seu vácuo interior, a sua passividade, a sua solidão, o seu tédio e a sua ansiedade.

Érico Veríssimo

ROBERTO CARLOS NOVAMENTE DE NOVO...


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A CHUVA NOS CABELOS

A chuva molhava os seus cabelos,
A chuva descia sobre os seus cabelos
Voluptuosamente.
A chuva chorava sobre os seus cabelos,
Macios,
A chuva penetrava nos seus cabelos,
Profundamente,
Até as raízes!

Ela era uma árvore,
Uma árvore molhada
E coberta de flores.


Augusto Frederico Schmidt

domingo, 24 de novembro de 2013

Brasil, condenado à esperança.

Millôr Fernandes

WILLIAM TURNER


RECEITA

 Ingredientes:

2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles

Modo de preparar

dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração

leve a mistura ao fogo
adicionando dois conflitos de gerações
às esperanças perdidas

corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos beatles
o mesmo processo usado com os sonhos
eróticos mas desta vez deixe ferver um
pouco mais e mexa até dissolver

parte do sangue pode ser substituído
por suco de groselha
mas os resultados não serão os mesmos
sirva o poema simples ou com ilusões

Nicolas Behr
segredos da Malásia: ciganos do mar

HÁ ALGO PARA ALÉM DA NEUROSE

Tenho visto as pessoas tornarem-se freqüentemente neuróticas quando se contentam com respostas erradas ou inadequadas para as questões da vida. Elas buscam posição, casamento, reputação, sucesso externo ou dinheiro, e continuam infelizes e neuróticas mesmo depois de terem alcançado aquilo que tinham buscado. Essas pessoas encontram-se em geral confinadas a horizontes espirituais muito limitados. Sua vida não tem conteúdo ou significado suficientes. Se têm condições para ampliar e desenvolver personalidades mais abrangentes sua neurose costuma desaparecer.

Carl Jung

PAPUDA: NÍVEL ÉTICO PIOROU...


SEM PENA

O sentimento que o homem suporta com mais dificuldade é a piedade, principalmente quando a merece. O ódio é um tónico, faz viver, inspira vingança; mas a piedade mata, enfraquece ainda mais a nossa fraqueza.

Honoré de Balzac

MARINA LIMA - Uma Noite e Meia


Com lápis rombudo escrevo
Por falta de um canivete
Mas ainda assim me diverte
Borrões que a fazer me atrevo

Qorpo-Santo

LOUIS ASTON KNIGHT


ALEGRIA DO DESEJO

A figura mais recente do padre é o psicanalista com seus três princípios: Prazer, Morte e Realidade. Sem dúvida, a psicanálise mostrou que o desejo não se submetia à procriação nem mesmo à genitalidade. Foi este o seu modernismo. Mas ela conservava o essencial, encontrando inclusive novos meios para inscrever no desejo a lei negativa da falta, a regra exterior do prazer, o ideal transcendente do fantasma. Por exemplo, a interpretação do masoquismo: quando não é invocada a ridícula pulsão de morte, pretende-se que o masoquista, como todo mundo, busca o prazer, mas só pode aceder a ele por intermédio das dores e das humilhações fantasmáticas que teriam como função apaziguar ou conjurar uma angústia profunda. Isto não é exato; o sofrimento do masoquista é o preço que ele deve pagar, não para atingir o prazer, mas para desligar o pseudo liame do desejo com o prazer como medida extrínseca. O prazer não é de forma alguma o que só poderia ser atingido pelo desvio do sofrimento, mas o que deve ser postergado ao máximo, porque seu advento interrompe o processo contínuo do desejo positivo. Acontece que existe uma alegria imanente ao desejo, como se ele se preenchesse de si mesmo e de suas contemplações, fato que não implica falta alguma, impossibilidade alguma, que não se equipara e que também não se mede pelo prazer, posto que é esta alegria que distribuirá as intensidades de prazer e impedirá que sejam penetradas de angústia, de vergonha, de culpa. Em suma, o masoquista serve-se do sofrimento como de um meio para constituir um corpo sem órgãos e depreender um plano de consistência do desejo. Que existam outros meios, outros procedimentos diferentes do masoquismo e certamente melhores é outra questão; o fato é que este procedimento convém a alguns.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs.

sábado, 23 de novembro de 2013

A ânsia pelo poder não se origina da força, e sim da fraqueza.

Erich Fromm

FÁRMACO-ROSTIDADE


VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Manoel Bandeira

JOSS STONE - "Teardrops"


Mini-biografia  de Charles Fourier

Filósofo,economista e político francês nascido em Besançon, um dos mais radicais representantes do socialismo utópico em França e o criador da comunidade cooperativa conhecida como Fourierismo, e idealizador das hipotéticas comunidades denominadas falanstérios. Filho de um comerciante de tecidos, trabalhou como comerciante, mas acabou falindo. Abandonou os estudos aos 17 anos, serviu no exército durante a revolução francesa.

Afastado da ativa por problemas de saúde, logo se empregou como balconista. Começou a escrever sobre questões sociais e econômicas, ao mesmo tempo em que formulava a defesa da existência de uma ordem social natural, paralela à ordem física do universo. Lançou o jornal O Falanstério (1822), depois mudado para A Falange, defendendo suas idéias, influenciadas pelo idealismo de Rousseau. Propunha que a sociedade se organizasse em comunidades chamadas falanstérios, espécie de edifícios-cidades onde as pessoas trabalhassem apenas no que quisessem. Defendia, assim, o fim da dicotomia entre trabalho e prazer. 

Defendeu que a distribuição dos bens seriam conforme a necessidade e a educação deveria se adaptar às inclinações de cada criança e não existiriam restrições morais à prática de sexo. Morreu em Paris e seus grandes livros foram a Théorie des quatre mouvements et des destinées générales (1808) e Traité de l'association agricole domestique (1822). Sua doutrina antecipou, em diversos aspectos, o socialismo marxista e a psicanálise.

Fonte: site: pensador.info
Nada me prende, a nada me ligo, a nada pertenço.
Todas as sensações me tomam e nenhuma fica.
Sou mais variado que uma multidão de acaso,
Sou mais diverso que o universo espontâneo,
Todas as épocas me pertencem um momento,
Todas as almas um momento tiveram seu lugar em mim.
Fluído de intuições, rio de supor - mas,
Sempre ondas sucessivas,
Sempre o mar - agora desconhecendo-se
Sempre separando-se de mim, indefinidamente.

Fernando Pessoa

ASTRUD GILBERTO E GEORGE MICHAEL - Desafinado


segredos da Malásia - IV

O SALTO NO ABISMO

Muito bem. Agora sou um homem sem comida, com dois dedos a menos na mão e um a menos no pé do que tinha quando nasci; sou um pistoleiro com balas que não podem disparar; estou passando mal por causa da mordida de um monstro e não tenho medicamentos; tenho água para um dia com sorte; posso conseguir andar talvez uns vinte quilômetros se puser em ação minhas últimas forças. Sou, em suma, um homem à beira de qualquer coisa

Stephen King

JUAN CARLOS BOVERI


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

no brasil de Machado
a ladainha infernal
do esquerdismo moribundo
assola os espíritos
faz da madrugada 
um logro macabro
para gerações com medo

A.M.
Também eu saio à revelia
e procuro uma síntese nas demoras
cato obsessões com fria têmpera e digo
do coração: não soube
e digo da palavra: não digo (não posso ainda acreditar na vida) e demito o verso como quem acena
e vivo como quem despede a raiva de ter visto.

Ana Cristina Cesar

CARLA BLEY E STEVE SWALLOW - Sing me softly of the blues


O FEITIÇO

A gramática, a mesma árida gramática, transforma-se em algo parecido a uma feitiçaria evocatória; as palavras ressuscitam revestidas de carne e osso, o substantivo, em sua majestade substancial, o adjectivo, roupa transparente que o veste e dá cor como um verniz, e o verbo, anjo do movimento que dá impulso á frase.

Charles Baudelaire
De homem a homem verdadeiro, o caminho passa pelo homem louco.

Michel Foucault

NOVO ESQUEMA...


TAMBÉM JÁ FUI BRASILEIRO

Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.

Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.

Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

segredos da Malásia - III

Ah! Que coisa mais insuportável, a lucidez das pessoas fatigadas! Mil vezes a obtusidade dos que amam, dos que cegam de ciúmes, dos que sentem falta e saudade.

Antonio Maria

MARCOS VALE, ROBERTO MENESCAL E PATRÍCIA ALVI


Toda a arte começa na insatisfação física (ou na tortura) da solidão e da parcialidade.

Ezra Pound

REGIS GIGNOUX


O pior não é morrer. É não poder espantar as moscas.

Millôr Fernandes

JFK


SILÊNCIO DA CLÍNICA

(...) O que  o paciente  diz  e faz  (o visível e o dizível) se alternam sob uma avaliação que busca sintomas. Ora, o pensamento não segue  uma linha  fixa de racionalidade, nem mesmo nas pessoas ditas normais. Além disso, ele é, por excelência, invisível e se move a velocidades infinitas. Estamos diante de uma instância subjetiva que se apresenta em ações não mensuráveis. O pensamento é o  silêncio   e nem por  isso deixa  de ser pensamento  ou  de pensar. 
(...)
A.M.
Adote um animal selvagem e mate um homem.

Rubem Fonseca
Como nuvens pelo céu
Passam os sonhos por mim.
Nenhum dos sonhos é meu
Embora eu os sonhe assim. 
São coisas no alto que são
Enquanto a vista as conhece,
Depois são sombras que vão
Pelo campo que arrefece. 

Símbolos? Sonhos? Quem torna
Meu coração ao que foi?
Que dor de mim me transtorna?
Que coisa inútil me dói?

Fernando Pessoa

terça-feira, 19 de novembro de 2013

ANTONIN ARTAUD...

... e o teatro da crueldade...

A ROUPA DO REI

Estamos gastos sim estamos  
gastos 
O dia já foi pisado como devia  
e de longe nosso coração  
piscou na lanterna sangüínea dos automóveis  
Agora os corredores nos deságuam  
neste grande estuário  
em que os sapatos esperam 
para humildemente conduzir-nos a nossas casas 

Em silêncio conversemos

Que fazer deste ser  
sem prumo  
despencado do extremo de um dia e  
que o sono não recolheu?

Não não indaguemos 
Para que indagar matéria de silêncio  
Procurar a nenhuma razão que nos explique  
e suavemente nos envolva  
em suas turvas paredes protetoras 

Nada de perguntas 
A campânula rompeu-se 
O instante nos ofusca

A quem sobra olhos resta ver  
um ser nu a vida pouca  
Só dentes e sapatos  
de volta para casa

Nem um passo à frente  
ou atrás 
De pés firmes 
o corpo oscilante  
neste suave embalo da mágoa  
descansemos


Francisco Alvim 

IVAN KONSTANTINOVICH


ROSTIDADES

(...) O rosto não é um universal, nem mesmo o do homem branco; é o próprio Homem branco, com suas grandes bochechas e o buraco negro dos olhos (...) rosto de professora e de aluno, de pai e de filho, de operário e de patrão, de policial e de cidadão, de acusado e de juiz...
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs
o buraco negro da subjetividade

          É proibido pisar na grama

o jeito é deitar e rolar


Chacal
segredos da Malásia - II

SEM RAIVA

(...) a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é.

Guimarães Rosa

SEMI LIVRES, LEVES E SOLTOS


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

ÉTICA  DO CONFORTO

(...) Qual a ética da  psiquiatria? A  regra acadêmica, recheada de boas  intenções, diz: vocês têm que ser felizes, principalmente às custas do remédio químico, pois, afinal, a mente é pura bioquímica, ninguém duvida. Contudo, não há diálogo frente às destruições concertadas da subjetividade. Esta é uma fala de loucos forclusivos ou apenas delirantes. O universo psi serve tão somente para barrar e  borrar  o desejo em suas  expressões  imperceptíveis...
(...)
A.M.

O HOSPÍCIO SE DISFARÇA...E FUNCIONA...

...dentro de nós...

VÍCIO DA FALA

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.

Oswald de Andrade

ABEL SALAZAR


domingo, 17 de novembro de 2013

SOLIDÃO

Podia ser ela mesma, quando estava só. E era isto que precisava fazer com frequência: pensar. Bem, nem mesmo pensar. Ficar em silêncio; ficar sozinha. E toda a existência, toda a atividade, com tudo que possuem de expansivo, brilhante, vibrante, vocal, se evaporavam. Então podia, com uma certa solenidade, retrair-se em si mesma, no âmago pontiagudo da escuridão, algo invisível para os outros.

Virginia Woolf

OS AMANTES

de Louis Malle, 1958

A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre.

Oscar Wilde

CHARLIE PARKER - Summertime


O PIQUENIQUE DAS TARTARUGAS


Uma família de tartarugas decidiu sair para um piquenique. 

As tartarugas, sendo naturalmente lentas, levaram 7 anos preparando-se para o passeio. 

Passados 6 meses, após acharem o lugar ideal, 

ao desembalarem a cesta de piquenique descobriram que estavam sem sal. 

Então, designaram a tartaruga mais nova para voltar para casa e pegar o sal, por ser a mais rápida. 

A pequena tartaruga lamentou, chorou e esperneou, mas concordou em ir com uma condição: 

que ninguém comeria até que ela retornasse. 

Três anos se passaram... Seis anos... E a pequenina não tinha retornado. 

Ao sétimo ano de sua ausência, a tartaruga mais velha já não suportando mais a fome, 

decidiu desembalar um sanduíche. 

Nesta hora, a pequena tartaruga saiu de trás de uma árvore e gritou: 

- Viu! Eu sabia que vocês não iam me esperar. Agora que eu não vou mesmo buscar o sal. 

Pense bem! Algumas vezes em nossa vida as coisas acontecem da mesma forma. 

Desperdiçamos nosso tempo esperando que as pessoas vivam à altura de nossas expectativas. 

Ficamos tão preocupados com o que os outros estão fazendo que deixamos de fazer o que nos compete. 

Como disse Mário Quintana: O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso. 

Por isso, vivamos nossa vida e deixe de se preocupar com a opinião e o interesse dos outros por nós. 

Não venci todas as vezes que lutei, mas perdi todas as vezes que deixei de lutar!

Millôr Fernandes

sábado, 16 de novembro de 2013

MENSALEIROS SE ENTREGAM...


CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)

Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente.)

Sylvia Plath

VLADIMIR VOLEGOV


SP deve informar à Justiça Federal que tem vagas para condenados do mensalão

Há vagas - A Secretaria de Administração Penitenciária do governo de São Paulo deve informar à Justiça Federal que dispõe de vagas para que condenados do mensalão cumpram pena em regime semiaberto em pelo menos dois presídios do Estado. Levantamento mostra que há dez leitos na Penitenciária 2 de Tremembé e pelo menos o mesmo número no Centro de Ressocialização de Limeira. Nas duas unidades, quem cumpre pena nesse regime dorme em um tipo de alojamento, e não em celas.

Em casa - A comunicação do governo paulista sobre a disponibilidade de lugares deve frustrar a estratégia de vários advogados de requerer regime aberto por falta de capacidade do sistema prisional para receber esses presos.
(...)
Fonte: Vera Magalhães, Folha de S. Paulo, 16.11.2013
segredos da Malásia

A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente.

Machado de Assis

uma rosa é uma rosa é uma rosa


lar doce lar

Minha pátria é minha infância
Por isso vivo no exílio.

Cacaso

G.DELEUZE - ser de esquerda


DA EUTANÁSIA

Mais cedo ou mais tarde todo articulista decente tem que falar da eutanásia, razão pela qual eu custei tanto a me decidir. De saída é uma palavra tão bonita que, se a pronunciamos contra o céu azul do colocar-do-sol (antigo pôr-do-sol) de um dia de domingo, qualquer pessoa, por menos poética que tenha a alma, percebe imediatamente que somos muito cultos e lidos. De qualquer forma não é necessário esperar o domingo para usar a eutanásia, já que nos dias comuns essa palavra também pode ser empregada, embora só em legítima defesa.

Porém, que é a eutanásia? A eutanásia, inventada no ano de 1200 por Sir Lawrence Olivier Lancelot, tornou-se imediatamente muito popular entre médicos que tinham pressa em receber as contas das viúvas. Aplicada aos doentes, ela dá excelentes resultados, curandoos completamente dessas tola mania de chamar médicos quando está doente. Médicos só devem ser chamados quando se está vendendo saúde. Por exemplo, aos 18 anos, fazendo surfe no Arpoador.

Outrossim (que eliminou da língua o outronão), é muito fácil saber se você contraiu eutanásia: basta olhar pro canto e ver se a junta médica está falando em voz baixa. Se estiver, é porque você acabou de ser convocado para fim de herói russo no período comunista ou pra doador de órgãos na China atual. Isso, no Brasil do século XIX, ainda não se chamava eutanásia, se chamava "Voluntários da Pátria".

Na Idade Média (aproximadamente 40 anos) essa ciência chegou a ser muito praticada, principalmente em Caxias, no Rio, tendo até mesmo o Sr. Tenório Cavalcanti publicado um livro sobre as melhores maneiras de se empregar a referida Euterpe com metralhadora Lurdinha. Floresceu muito, também, entre os Médicis de Florença e só não floresceu mais porque Florença temeu a concorrência e juizes severos praticaram a eutanásia na eutanásia, tendo ela embarcado para a França, onde apareceu num filme de André Cayatte e posso garantir que estava mais bonita do que nunca.

Mas o local onde crescem as maiores eutanásias que já tive oportunidade de saborear, é no 2o. pavilhão para tratamento psicológico, no Carandiru.

Olha, explico melhor --no tempo em que o cavalo de Tróia ainda era potro, já a eutanásia tinha dado duas voltas ao mundo, usada muitas vezes por pessoas que não tinham a mínima experiência e tentavam apagar alguém praticando a eutanásia e acabavam liquidando sem que a eutanásia sequer desse as caras. (Aqui conviria falar de Hiroshima e Nagasaki, mas eu agora estou sem vontade de me meter na guerra fria, pois acho que essa era até bem quente. Prefiro chuveiro. A propósito, alguém ai tem cinco notas de dez, dessas elásticas estou precisando lavar dinheiro).

Isso é a eutanásia, em suma. Quem souber mais e melhor que me diga, sendo que a bibliografia a respeito é muito rica, estando mesmo Trotsky preparando um grosso volume sobre o assunto quando Stalin praticou a eutanásia nele. E mais não digo porque, aqui pra nós, estou com eutanásia de assunto.

Millôr Fernandes

GRUPO CORPO - O Corpo


NO DIA DA REPÚBLICA
 
BRASÍLIA - Dilma Rousseff começou o dia ontem no Twitter fazendo uma exegese da palavra República. Nada poderia ser tão premonitório.

"Hoje [ontem] comemoramos o 124º aniversário da Proclamação da República. A origem da palavra República nos ensina muito. Vem do latim e significa 'coisa pública'. Ser a presidenta da República significa exatamente zelar e proteger a 'coisa pública', cuidar do bem comum, prevenir e combater a corrupção", escreveu Dilma Rousseff.

No final do dia, no aniversário da República, a Polícia Federal recebeu os mandados de prisão dos condenados no mensalão. Estão no grupo políticos famosos, inclusive o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. O simbolismo desse fato é fortíssimo.

Há dezenas de anos na cobertura de assuntos políticos, presenciando casos de corrupção impunes, confesso que cheguei a duvidar da chegada do dia de ontem. É bem verdade que a lentidão do processo beirou o inaceitável. O mensalão é de 2005. Estamos em 2013. Justiça que tarda não é Justiça, costuma repetir o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.

Mas, mesmo com todas as ressalvas, não é pouca coisa para um país patrimonialista e protetor dos mais fortes como o Brasil assistir a tantos poderosos serem levados para a cadeia, onde cumprirão suas penas. Ninguém deve imaginar que a nação amanhecerá hoje 100% limpa e livre de corrupção. Isso não existe. O combate à corrupção e a diminuição da impunidade é o que mais importam num processo civilizatório no qual o Brasil parece ter entrado já há cerca de duas décadas.

É imenso o exemplo cívico das prisões de réus condenados no mensalão. Mesmo com todos os seus excessos e protelações, a Justiça está sendo realizada. O país vai ficando melhor. Mais justo. E tudo acabou ocorrendo no dia da República. Uma grande homenagem a valores dos quais o Brasil não pode se privar.

Fernando Rodrigues, Folha de S. Paulo, 16.11.2013