Você não encontra paz , evitando a vida.
Virginia Woolf
Este blog busca problematizar a Realidade mediante a expressão de linhas múltiplas e signos dispersos.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
HOSPÍCIOS DA ALMA
(...) Vivemos em um mundo desagradável, onde não apenas as pessoas, mas os poderes estabelecidos têm interesse em nos comunicar afetos tristes. A tristeza, os afetos tristes são todos aqueles que diminuem nossa potência de agir. Os poderes estabelecidos têm necessidade de nossas tristezas para fazer de nós escravos. O tirano, o padre, os pastores, os gurus, os tomadores de almas, têm necessidade de nos persuadir que a vida é dura e pesada. Os poderes têm menos necessidade de nos reprimir do que de nos angustiar, ou, como diz Virilio, de administrar e organizar nossos pequenos terrores íntimos. A longa lamentação universal sobre a vida: a falta-de´ser que é a vida... Por mais que se diga "dancemos", não se fica alegre. Por mais que se diga "que infelicidade a morte", teria sido preciso viver para ter alguma coisa a perder. Os doentes, tanto da alma quanto do corpo, não nos largarão, vampiros, enquanto não nos tiverem comunicado sua neurose e sua angústia, sua castração bem amada, o ressentimento contra a vida, o imundo contágio.
(...)
G. Deleuze e C. Parnet in Diálogos
SONHO RÁPIDO DE ABRIL
As ambulâncias se calaram
as crianças suspenderam a voracidade batuta
dois versos deliraram por detrás dos túneis
moleza nos joelhos
mão de ferro nos peitinhos
tristeza suarenta, locomotiva, fútil
patinho feio
soldadinho de chumbo
manto de jacó, escada de jacó
sete anos de pastor
estrela demente desfilando na janela
de repente as ambulâncias estancaram o choro
voraz dos bebês.
Ana Cristina César
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Ao menos 21 mortos durante confrontos na Ucrânia
Confrontos que mataram ao menos 21 pessoas - entre eles nove policiais, um governista e 11 opositores - e feriram mais de 150 deixaram mais distante o fim da crise política que paralisa a Ucrânia há três meses.
Os choques renovados entre a polícia e manifestantes da oposição que exigem a renúncia do presidente Viktor Yanukovich desafiaram, ainda, a União Europeia (UE): o bloco já cogita impor sanções ao país em repúdio à escalada da violência que deixou em chamas a Praça da Independência, no centro de Kiev.
A UE tem papel central na crise ucraniana. As manifestações populares eclodiram no fim do ano passado, quando o governo Yanukovich, pró-Rússia, preferiu selar um acordo de aproximação com Moscou em detrimento do bloco europeu.
Agora, a oposição nacionalista ucraniana pressiona para que a UE intervenha em seu favor e puna o governo — o que coloca Bruxelas em rota de colisão com o Kremlin.
(...)
Fonte: O Globo
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
FAÇA
...ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternura e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
RONDA DA MORTE
Massacre em povoado cristão na Nigéria
Homens armados que fariam parte do grupo extremista islâmico Boko Haram teriam promovido um massacre em um povoado de maioria cristã no Nordeste da Nigéria no sábado. Segundo denúncia de autoridades e moradores da vila de Izghe feita neste domingo, 106 pessoas foram mortas no ataque.
Membros do Boko Haram mataram, na semana passada, 43 pessoas em duas cidades de Borno, o que provocou a fuga de centenas de habitantes em direção a Maiduguri, a capital do estado. Borno é um dos três estados do Nordeste da Nigéria em estado de emergência desde que o Exército lançou uma operação contra os insurgentes islamitas do Boko Haram. A revolta islamita, iniciada em 2009, já deixou milhares de mortos.
(...)
Fonte: O Globo
domingo, 16 de fevereiro de 2014
SABEDORIA
Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.
Clarice Lispector
O poder em Michel Foucault: a questão da liberdade
Tenho impressão de que a abordagem do poder como o entende Foucault tem desencadeado inúmeras confusões entre os estudantes e certo regozijo por parte de uma casta acadêmica adepta da versão tradicionalista de História. Vou tentar descrever minha interpretação em alguns posts aqui sobre essa problemática, de uma maneira bem esquemática e até simplista, esperando que ela sirva para desfazer preconceitos e/ou gerar discussões mais avançadas.
Diferentemente dos anarquistas e dos comunistas clássicos, Foucault não considera que o Poder seja uma coisa centralizada que emana de um só lugar (que seria o Estado ou a Ideologia da classe dominante representada pelo Estado). O poder é uma relação. Por ser uma relação não possui um controle já dado. Ou seja, tomar o lugar de onde emana o poder ou destituir uma classe dominante das decisões políticas não seria a libertação de todo o resto, mas somente um jogo de força a partir do qual novas configurações de poder se dariam. Embora, as classes burguesas gozem de certo domínio numa organização social capitalista, tal domínio se deve mais pela participação, ou resignação dos demais sob esse domínio do que pelo poderio meticuloso dela. Se pudermos falar de “dominação” digamos que essa se dá de maneira muito mais sutil do que pela propaganda da democracia representativa nos meios de comunicação institucionalizados e com interesses de “classe”. Outras instituições, menos visíveis que o Estado, e diretamente ligadas a ele, como a escola, o hospital, o hospício, a penitenciária, o asilo e, sobretudo, a família exercem um poder tão “grande” quanto o Estado. O maior problema é que levamos para o cotidiano através de nossos comportamentos as relações sociais apreendidas em tais instituições. As relações, de mando e de obediência, de patriarca e de filho, de diretor e de subordinado, que alimentam essas instituições devem mudar caso queiramos uma transformação na sociedade. Foucault explica que no stalinismo o “poder” do Estado mudou de mãos, as relações produtivas foram alteradas, mas não houve uma mudança substancial na URSS porque as instituições sociais citadas (escola, hospício, hospital etc.) continuaram existindo tais como eram antes da Revolução.
O poder não opera em um único lugar, mas em lugares múltiplos: a família, a vida sexual, a maneira como se trata os loucos, a exclusão dos homossexuais, as relações entre os homens e as mulheres...todas essas relações são relações políticas. Só podemos mudar a sociedade sob a condição de mudar essas relações (
Alguns pensadores modernos (como Habermas e alguns marxistas) denunciaram o Direito (as leis, o estado de Direito) como um veículo que possibilita a hegemonia da classe social "detentora" do poder político. O Direito para esses teóricos, mais do que garantir a justiça, garante a legitimidade das coisas continuarem sempre favoráveis a essa classe burguesa. Foucault concorda com tais análises, mas não cai em um reducionismo de dizer que o Direito só serve aos interesses da burguesia num Estado capitalista. Essa rede de poderes tecida pelo Direito possibilita também contestação, resistência e luta dentro do mesmo campo onde aparentemente seria a "casa da opressão de classe". Portanto, o Direito funciona sempre como uma disputa por ter criado ferramentas que podem servir tanto a um quanto ao outro que dele utilizam. O bacana é que Foucault enxerga isso sob um extremo pessimismo e desconfiança. Pois, para as classes "oprimidas" utilizarem esses mecanismos de poder é preciso que elas os reconheçam como legítimos, e assim acontece. Para alterar esse quadro não basta remodelar de dentro ou consertar as falhas e as injustiças existentes de dentro dele, mas é preciso dele se desembaraçar (no caso do Direito).
O poder para Foucault é uma positividade. É uma teia de relações. Não é possível estar fora dele. Porém, onde existe poder existe resistência. E a resistência não é uma recusa do poder, é uma disputa de poder, para poder fazer da sua vida o que bem entender. Como esse exercício era para "poder fazer", logo, ele transforma e expõe micro poderes que já existiam antes, que nos chegaram de alguma maneira através das relações culturais. Outro dia aqui no blog falávamos sobre a liberdade. Digamos o poder para Foucault se relaciona de modo parecido com a questão da liberdade. Ele só existe sob uma relação de construção. Para alterar as relações de poder é preciso que dela participemos. Não podemos mudá-las de fora como um ser acima do tempo e do espaço. Portanto, o poder não pode ser tratado somente como interdição, como uma “coisa ruim”, como um controle ligado a uma classe ou exercido pelo Estado. O poder também cria. A liberdade é do mesmo jeito, não tem sentido em querer liberdade sem participar de uma relação de certo “aprisionamento”. Chamo esse “aprisionamento” à relação que configura a luta por poder e por liberdade. Nesse sentido, a liberdade para Foucault nunca será uma libertação completa ou uma emancipação absoluta, simplesmente porque novos poderes, e por novas relações de mando se criam. A liberdade para ele está no exercício ininterrupto da resistência, da revolta e da recusa. A liberdade para ele não é um estado, mas uma ética.
Muniz Alves, do blog Tempos Safados
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Acrobata da Dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...
Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço...
E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.
Cruz e Sousa
IMPERCEPTÍVEIS
Claire Parnet - Você se sente célebre e clandestino? Você gosta dessa noção de clandestinidade.
Gilles Deleuze-: Gosto, mas não me sinto célebre. Não me sinto clandestino. Gostaria de ser imperceptível. Muita gente gostaria. Isso não significa que eu não o seja. Ser imperceptível é bom porque podemos… Mas essas são questões quase pessoais. O que eu quero é fazer meu trabalho, que não me perturbem e não me façam perder tempo. Ao mesmo tempo, ver pessoas. Sou como todo mundo. Gosto das pessoas, de um pequeno número de pessoas. Gosto de vê-las, mas, quando as vejo, não quero que seja um problema. Relações imperceptíveis com pessoas imperceptíveis é o que há de mais bonito no mundo. Todos nós somos moléculas. Uma molécula numa rede, uma rede molecular.
(...)
PARA QUE UM ROSTO?
A História ostenta um museu de patéticas tentativas de delinear o rosto de Jesus. Nos escritos, nas artes, e, atualmente, na ciência (as pesquisas com o chamado santo sudário). Por que essa vontade? A que ela serve? Por que é tão desejável que um rosto seja claro, límpido, inteiramente visível e identificável? Jesus é mais uma vez a vítima de nossas inércias, de nossas políticas, de nossos mecanismos de controle. Para que serve um rosto? Para ser identidade, localização, digital da alma. “Como sendo tu judeu pedes de beber a mim, que sou samaritana?” Como essa mulher descobriu isso? O rosto! E o rosto de Jesus passou a ser a muralha histórica construída por demarcações geográficas e raciais, que seus gestos e falas trataram de dissolver diante daquela mulher. No rosto há traços de uma família, de um povo, marcas da geografia, do ambiente... Um coração inflamado de amor leria numa face as maravilhas e as potências diversificadoras da natureza. Mas, a política, os mecanismos de governo desenvolvidos através da Historia, transforma a face num rosto, identidade, o destino, através dele colam os indivíduos nos espaços, delimitam-lhes as fronteiras. E um homem com aparência árabe pode ser despojado de seus direitos de cidadão e assassinado brutalmente caso queira cruzar essas fronteiras. Rostos, eles te destinam a um lugar, um pais, um credo, um modo de ser visto.
O Verbo para se tornar carne precisou em tudo ser como os homens, e por tanto, ter um rosto. Mas, é interessante como as Escrituras dão tão pouco valor a isso: nenhuma descrição, nenhum detalhe... Será que o rosto do salvador do mundo não importava aos homens que o amaram? Parece que não. E Paulo, que não o viu pessoalmente - e talvez por isso não o enxergou reduzido a uma pátria, a um povo, ao judaísmo, mas a todas as nações - diz que “ainda que nós o tenhamos conhecido segundo a carne, agora já não o conhecemos assim” 2 Co 5.16. Parece que os que amaram Jesus davam mesmo pouco valor ao seu rosto. E Que se veja nisso a maior expressão de amor! Reduzir alguém ao seu rosto, amofiná-lo a uma casta, uma pátria, uma geografia, a uma raça, é uma manifestação de ódio - é o fascismo de Hitler sofrido pelos judeus, os negros, os homossexuais, os ciganos... O rosto de Jesus ficou a-significado, espaço vazio, absurdo. Isso é a manifestação da fé e do amor. Cada homem que encontrou Jesus, experimentou um sentido singular de sua face. Os Evangelhos deixaram o espaço vazio para que cada homem veja Jesus colorido com a cor de seus olhos.
É mais do que interessante como o Evangelho mostra que o rosto do Jesus ressurreto é um rosto outro. Os discípulos chegam a desconhecê-lo. Ele se aproxima, fala com eles, não o conseguem reconhecê-lo, era um rosto diferente, como eram “tardios de coração para crer”! Se esperarmos um rosto identificável de Jesus, sempre o desconheceremos, e será como se “os olhos estivessem fechados” (Lc 24.15). É que o Jesus ressuscitado não é mais judeu, nem pertence a nenhuma geografia demarcada pela história humana, ele é “tudo em todos”.
Por que um rosto para Jesus? Para torná-lo propriedade privada, para fazê-lo funcionar com nossos mecanismos de identificação e controle. Há arte idólatra, teologia, ciência e política nisso; micros-guerras contra determinados seguimentos da humanidade. Uma teologia, uma religião, um quadro colorido com nossos desejos mais mesquinhos, são máscaras que os que amam Jesus nunca porão em seu rosto, pois querem anunciá-lo a todas as nações, como ele ordenou. Os que amam Jesus, deixam seu rosto vazio, como os antigos fizeram, para que cada um o veja pela fé de modo singular, numa experiência de amor e adoração – a Luz impõe uma natural reverência a todo olhar!
Al Duarte - 30/06/2010
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
VITRINE DOS ZUMBIS
O desejo maquina entre os corpos e nos corpos. Exposto à luz do dia, mesmo à meia noite, ele é produção incessante, formigamento nem sempre visível ; "o que não tem governo nem nunca terá". Uma criança. Por que a metamorfose? Não há porque, não há de que, aí onde a gratuidade empurra a existência por e para linhas insólitas.A morte não é substantiva, ela é o morrer, verbo infinito, mesmo que se fale de passados ressentidos e/ou futuros impossíveis.Como desejar? Não é fácil, mesmo que pareça. Antes de tudo as sociedades modernas fizeram e fazem do consumo a produção de territórios estáveis onde alguém se reconhece: esse sou eu. No entanto, tal reconhecimento de si é tributário de forças sociais que, de longe, fabricam o eu em seus estratos mais íntimos: meu mundo interior,meu ego, minha subjetividade, meu cérebro, minha profissão, meu tudo. A propriedade e a forma das coisas substituem o desejo como produção. Ninguém escuta o que não quer. Prossegue o empreendimento de sabotagem das multiplicidades ; “como dói, mas como é bom”. Isso funciona em toda parte onde existe esse produto cristão, a “pessoa humana”. Mas, afinal, onde anda o desejo? Ele costuma ser trocado por dinheiro e transcendências astutas: a Esquerda. Em contrapartida, as novas gerações aceitam o mundo como o melhor dos possíveis e para o qual não há fora, o fora, nem sequer é possível dar o fora. Trata-se de uma espécie de paralisia coletiva do pensamento. Este se revela como técnico-cognição: isso é um celular, esta é uma lição pedagógico-terapêutica-comportamental: “busque não pensar em morrer”. As práticas de vida norteiam-se, então, pelo pensamento da representação: identidades petrificadas, especialismos em oferta, produtos à espera do consumo imediato e serial em shoppings da alma. Proibido pensar.Um desejo humanizado se imiscui em redes sinápticas (ou até em redes internéticas) como caução ao deus-capital, quando este dita a dor em normas implícitas do bom viver. E o mundo prossegue em busca da salvação.
A.M.
Bancos brasileiros têm lucros recordes em 2013
Os quatro maiores bancos brasileiros, à exceção do Santander Brasil, apresentaram bom desempenho em 2013, com avanço expressivo nos lucros, queda nos índices de inadimplência e concentração em operações de crédito com maior garantia.
Ontem, o Banco do Brasil, maior banco do país por ativos, informou lucro líquido de R$ 15,8 bilhões no ano, um recorde na história do país. O resultado foi influenciado pelos R$ 5,4 bilhões captados pela abertura do capital da BB Seguridade. Se descontado o ganho com o IPO, porém, o lucro do BB ficou abaixo do ganho ajustado do Itaú Unibanco e do Bradesco.
Maior banco privado do pais, o Itaú Unibanco registrou lucro líquido de R$ 15,696 bilhões em 2013, aumento de 15,46% na comparação com os R$ 13,594 bilhões do ano anterior. Só no último trimestre de 2013, o ganho chegou a R$ 4,646 bilhões, num resultado recorde para o período.
(...)
Fonte: O Globo
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
Primeiro levaram os negros, Mas não me importei com isso. Eu não era negro. Em seguida levaram alguns operários, Mas não me importei com isso. Eu também não era operário. Depois prenderam os miseráveis, Mas não me importei com isso, porque eu não sou miserável. Agora estão me levando. Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo.
Bertolt Brecht
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
AMOR – POIS QUE É PALAVRA ESSENCIAL
Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?
O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.
Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?
Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.
C.D. de Andrade
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Maconha cria nova 'indústria' nos EUA
Com duas longas tranças emoldurando seu rosto de 55 anos, Steve DeAngelo é um dos mais bem-sucedidos empresários da maconha nos Estados Unidos.
Ele faturou 32 milhões de dólares em 2013 com a venda de 50 tipos da erva e outros 200 produtos relacionados, entre os quais alimentos e extratos que contêm canabis, além de acessórios como cachimbos, sedas e vaporizadores, método cada vez mais popular de consumo da erva.
O resultado é um salto de 9.000% em relação aos 350.000 que DeAngelo obteve com amigos e familiares para abrir o Harborside Health Center, onde diz ter 140.000 "pacientes". Como a maioria dos empreendedores do baseado, ele começou na Califórnia, o primeiro Estado a autorizar o uso medicinal da maconha, em 1996.
Hoje ele tem uma loja em Oakland, outra em San José e se prepara para abrir a terceira em Boston, na costa leste, no que é um primeiro passo para construção de uma marca nacional. A exigência de prescrição médica não é um empecilho para as vendas, já que "é muito fácil" obtê-la, disse DeAngelo.
(...)
Fonte: Veja
domingo, 9 de fevereiro de 2014
QUEM É O PACIENTE?
(...) 1-O paciente não é um individuo, e sim uma multiplicidade; é irredutível ao eu e à consciência, mas plugado no coletivo. É do mundo, é o mundo. 2- Na entrevista, a sua fala chega misturada a falas não verbais (semióticas); mil falas estão presentes em uma fala. 3- A inteligibilidade do discurso está inscrita na Vivência, e não o contrário; 4- O uso prévio e exclusivo de fármacos por aparelhos de medicar - produz um rosto-clichê que enevoa a percepção clínica; 5- Antes de “ser” um diagnóstico, o paciente é um processo afetivo; pode estar abortado, mas é um processo; 6- O delírio (se houver) e o comportamento estão submetidos ao contexto onde ele vive. Como então, funcionam essas linhas?
(...)
A.M. in Trair a psiquiatria
sábado, 8 de fevereiro de 2014
MUNDO ENFERMO
Tisteza não é o mesmo que depressão ou melancolia, termos clínicos que acompanham a psiquiatria,a psicanálise e outras técnicas psi. É certo que a tristeza é algo desagradável, mas mesmo tal addjetivação é discutível. É que os afetos são ambíguos por sua propria natureza de afeto. Mais: a experiência clínica mostra que os afetos são melhor captados como múltiplos, como multiplicidades irreduttíveis a uma definição banal."O que você está sentindo?". "Não sei". Daí a necessidade essencial da escuta não-médica. A psicanálise até que tenta, mas acaba atolada no lodaçal edipiano. "Odeio minha mãe". Então, qual escuta? Ora, o ato da escuta está acoplado ao ato do Encontro com a loucura encarnada no dito louco, mesmo que ele não seja um louco. Desse modo, escutar é escutar o que é louco, estranho, fora das formas humanans e ao mesmo tempo no interior de experiências subjetivas de auto e hetero destruição. Isso dá trabalho, exige tempo, sensibilidade, intuição, pecepção fina e outras qualidades sequer sonhadas, mas praticadas no cotidiano das sensações de estar vivo.Voltando ao começo, tristeza não é depressão mas pode se tornar se o mundo se tornar. Será que isso está acontecendo?
A.M.
“No campo de concentração, vivi do modo mais racional que me era possível, e escrevi É isto um homem? me esforçando para explicar aos outros, e a mim mesmo, os eventos em que eu estivera envolvido, mas sem nenhuma intenção literária clara. Meu modelo (ou, se você preferir, meu estilo) era o do “relatório semanal” que se faz nas fábricas: ele deve ser preciso, conciso e utilizar uma linguagem compreensível para todos da hierarquia industrial”.
ESCREVER
Porque escrever significa revelar-se em excesso, a máxima revelação e entrega de si mesmo, na qual um ser humano, ao estar envolvido com outros, sentiria estar perdendo-se de si, e da qual, assim, ele sempre irá recuar enquanto estiver em seu juízo perfeito. É por isso que nunca se está sozinho o suficiente quando se escreve, nunca haverá silêncio o suficiente quando se escreve, nem a noite é noite o bastante.
Franz Kafka
MIMOSA BOCA ERRANTE
Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.
Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados,
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?
Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.
Já sei a eternidade: é puro orgasmo.
Carlos D. de Andrade
A revolução é o meio
Não faz muito, os fins justificavam os meios usados para realizar as revoluções e a construção da igualdade justificava o sacrifício da liberdade. Mais recentemente, os propósitos sociais foram sacrificados em nome da plena liberdade comercial.
Para surpresa, as populações foram às ruas manifestar radical descontentamento com o estado das coisas. Mas esses movimentos têm carecido de objetivos transformadores e utópicos claros. Passam a impressão de que seus diversos objetivos parciais não carregam propósitos de transformação social. É como se a revolução estivesse no meio e não nos fins.
Uma revolução sem classe social vanguardista, sem líder condutor, sem partido, realizada pela desilusão, descontentamento e desespero com a realidade atual, sem proposta de outra realidade a ser colocada no lugar. Por isso, os movimentos não se enquadram nos modelos conhecidos.
É por desconhecer o que acontece que surge a tentação de negar a existência da revolução em marcha que se caracteriza, sobretudo, pela mobilização de pessoas pela internet. Com os instrumentos tradicionais de análise, é impossível entender este processo e nada indica que novos instrumentos lógicos estejam surgindo entre os intelectuais ou os políticos.
A perspectiva é de um longo tempo de instabilidade social, decorrente não apenas de raras marchas de 100 mil, mas por cinco mil marchas de 200 pessoas. Número incapaz de derrubar governos, mas suficiente para desorganizar a estrutura social sem ameaçar a estrutura política.
(...)
Cristovam Buarque
João Paulo Cunha renuncia ao mandato parlamentar
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), um dos 25 condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão, renunciou ao mandato na noite desta sexta-feira, depois de ter afirmado várias vezes, inclusive esta semana, que não faria isso.
Ele está preso desde terça-feira no Complexo Penitenciário da Papuda. Ele é o quarto e último deputado condenado pelo mensalão a renunciar ao mandato, depois de José Genoino (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP).
(...)
Fonte: Isabel Braga e André de Souza, O Globo
Amor Amor
Quando o mar
quando o mar tem mais segredo
não é quando ele se agita
nem é quando é tempestade
nem é quando é ventania
quando o mar tem mais segredo
é quando é calmaria
quando o amor
quando o amor tem mais perigo
não é quando ele se arrisca
nem é quando ele se ausenta
nem quando eu me desespero
quando o amor tem mais perigo
é quando ele é sincero
Cacaso
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
BURACOS
Aprendi desde cedo que fazer higiene mental era não fazer nada por aqueles que despencam no abismo. Se despencou, paciência, a gente olha assim com o rabo do olho e segue em frente. Imaginava uma cratera negra dentro da qual os pecadores mergulhavam sem socorro. Contudo, não conseguia visualizar os corpos lá no fundo e isso me apaziguava. E quem sabe um ou outro podia se salvar no último instante, agarrado a uma pedra, a um arbusto?... Bois e homens podiam ser salvos porque o milagre fazia parte da higiene mental. Bastava merecer esse milagre.
Lygia Fagundes Telles
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
PENSAMENTO SOB CONTROLE
Não existe exame laboratorial que demonstre e/ou confirme o diagnóstico de psicose (loucura)., como o de nenhum outro diagnóstico psiquiátrico. Trata-se de uma obviedade denegada à luz do dia pelas forças repressivas da Ordem Tecnológica. No Encontro com o paciente só existe a escuta/observação e a história de vida como instrumentos propedêuticos válidos. Contudo, os diagnósticos psiquiátricos pululam em toda parte, adentrando os poros da sociedade de controle, progresso macabro da modernidade.Todos estão ou estarão doentes em breve.Exagero? Pode ser. No entanto, o essencial é a doce passividade das gentes em face dos poderes, não só psiquiátricos. Caminhamos abatidos, como no holocausto nazista, em direção à vida aprisionada na Instituição do Controle Natural, Legal e Gozoso. Basta olhar em volta...
A.M.
Manifestação contra reajuste de passagens se transforma em protesto violento na Central
RIO - Um ato contra o reajuste de passagens de ônibus se transformou num confronto entre manifestantes e policiais na Central do Brasil. Policiais atiraram bombas de gás e de efeito moral contra o grupo de cerca de 800 manifestantes que protesta na região. As bombas causam bastante correria na área da Avenida Presidente Vargas. Há informações de que há feridos no local.
Um grupo manifestantes derrubou tapumes de metal de uma obra na Rua Bento Ribeiro, nas imediações da Central do Brasil. Eles tentaram usar os tapumes como escudos e atacaram policiais do Batalhão de Choque jogando pedras. Muitos manifestantes correm pelas ruas com camisas escondendo o rosto. Vários fogueiras foram feitas no meio da rua. Pessoas que circulam na área procuram abrigos.
A estação de trem da Central está fechada, e os acessos Campo de Santana e Ministério do Exército, da Estação Central do Metrô, se encontram fechados. A Supervia, por sua vez, informa que o policiamento está reforçado no local, mas que algumas pessoas chegaram a pular catracas. A concessionária informa que as saídas dos trens segue normal, mas pede que a integração entre trem e metrô seja feita em São Cristóvão.
Neste momento, a Avenida Rio Branco está parcialmente interditada, na altura da estação Carioca. As vias no entorno da Central como a Rua Bento Ribeiro, Senador Pompeu estão interditadas. A recomendação é evitar a região da Central do Brasil. A melhor opção é seguir pela Lapa. A Avenida Presidente Vargas tem lentidão em toda a extensão, no sentido Praça da Bandeira. Trânsito lento também na Praça Tiradentes, Avenida Presidente Antônio Carlos e na Avenida Rio Branco.
(...)
Fonte: O Globo
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
CONCEITO DO M'ETODO
(...) O método de Deleuze rejeita o recurso às mediações. É por isso que ele é essencialmente antidialético. A mediação é exemplarmente uma categoria. Ele nos propõe a produção imanente sem a mediação. Deleuze nos provoca com idéias de pensar e de criar conceitos, como dispositivos, ferramentas, algo que é inventado, criado, produzido, a partir das condições dadas e que opera no âmbito mesmo destas condições. O conceito é um dispositivo que faz pensar. Nossa prática, como intercessores, colocam-nos em condição de não se refugiar na “reflexão sobre”, mas de operar, criar, experimentar, sem ser “agitando velhos conceitos estereotipados como esqueletos destinados a intimidar toda criação, (…) [não se contentando] em limpar, raspar os ossos” (Deleuze e Guattari, 1992, p. 109). Deixando emergir as multiplicidades, tais como conceitos e experimentações que se criam na frutífera parceria entre Deleuze e Guattari..
(...)
Tania Mara Gralli, Blanci Brites (orgs.)
A Estrela
Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.
Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alto luzia?
E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.
Manuel Bandeira
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