sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

ALEGRIA, A FORÇA MAIOR

A alegria subverte a clínica.E não é maníaca. Tampouco faz o par alternante com a depressão. É, isto sim, o combustível da produção desejante de territórios existenciais, e se espraia para além de duas pessoas fabricadas numa verticalidade hierárquica. Nada a ver com a alegria fluoxetínica pois, além de estar ausente nos neurocircuitos totalitários, não se reduz à adequação do paciente ao meio social. Essência do devir,  desanuncia a sua chegada. Surpresa ! A equação “bom comportamento=alegria”será, então, substituída pela da “potência=produção de mundos”. O humor é essa alegria, curva silenciosa que permeia e constitui os corpos. Tudo a ver com o modo louco de viver sem a crosta psiquiátrica. Não se trata, é preciso dizer, do louco romântico. Esta experiência (a da alegria), é marcada por mil fluxos que chegam de fora, que são o Fora. Alimenta-se da realidade "real". Mistura e dissolução dos códigos, poucos a suportam, vivendo que estão sob a égide da técnica, da consciência, da razão utilitária, da moral e do bom senso. Tirania do logos. Ao inverso, desviar o humor para o non sense torna-se um sentido. A psiquiatria não compreende. É que a alegria chega sem aviso, sem explicações, sem suportes, sem causas, sem origens. Insiste nos devires inauditos como forma de estar presente no mundo (apesar de tudo) e afirmar uma prática escrita na pele: o acontecimento, enfim.

A.M.

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