sábado, 31 de janeiro de 2015

Lava Jato: empreiteiras ameaçam Lula e Dilma 

Pilhados na operação Lava Jato, executivos de empreiteiras discutem reservadamente com advogados a hipótese de identificar o que chamam de verdadeiros mentores e grandes beneficiários da corrupção na Petrobras. Dizem ter provas capazes de acomodar no centro do escândalo Lula e Dilma Rousseff.
(...)
Blog do Josias de Sousa,31/01/2015, 22:00 hs
DEIXAR VIVER

O egoísmo não consiste em vivermos conforme os nossos desejos, mas sim em exigirmos que os outros vivam da mesma forma que nós gostaríamos. O altruísmo em deixarmos todo mundo viver do jeito que bem quiser.

Oscar Wilde

GRANDES ESCRITOS


Se não existe vida fora da Terra, então o universo é um grande desperdício de espaço.

Carl Sagan
QUEIXA DE DEFUNTO


Antônio da Conceição, natural desta cidade, residente que foi em vida, a Boca do Mato, no Méier, onde acaba de morrer, por meios que não posso tornar público, mandou-me a carta abaixo que é endereçada ao prefeito. Ei-la:

Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Doutor Prefeito do Distrito Federal. Sou um pobre homem que em vida nunca deu trabalho às autoridades públicas nem a elas fez reclamação alguma. Nunca exerci ou pretendi exercer isso que se chama os direitos sagrados de cidadão. Nasci, vivi e morri modestamente, julgando sempre que o meu único dever era ser lustrador de móveis e admitir que os outros os tivessem para eu lustrar e eu não.

Não fui republicano, não fui florianista, não fui custodista, não fui hermista, não me meti em greves, nem em cousa alguma de reivindicações e revoltas; mas morri na santa paz do Senhor quase sem pecados e sem agonia.

Toda a minha vida de privações e necessidades era guiada pela esperança de gozar depois de minha morte um sossego, uma calma de vida que não sou capaz de descrever, mas que pressenti pelo pensa mento, graças à doutrinação das seções católicas dos jornais.

Nunca fui ao espiritismo, nunca fui aos “bíblias”, nem a feiticeiros, e apesar de ter tido um filho que penou dez anos nas mãos dos médicos, nunca procurei macumbeiros nem médiuns.

Vivi uma vida santa e obedecendo às prédicas do Padre André do Santuário do Sagrado Coração de Maria, em Todos os Santos, conquanto as não entendesse bem por serem pronunciadas com toda eloqüência em galego ou vasconço.

Segui--as, porém, com todo o rigor e humildade, e esperava gozar da mais dúlcida paz depois de minha morte. Morri afinal um dia destes. Não descrevo as cerimônias porque são muito conhecidas e os meus parentes e amigos deixaram-me sinceramente porque eu não deixava dinheiro algum. E bom, meu caro Senhor Doutor Prefeito, viver na pobreza, mas muito melhor é morrer nela. Não se levam para a cova maldições dos parentes e amigos deserdados; só carregamos lamentações e bênçãos daqueles a quem não pagamos mais a casa.

Foi o que aconteceu comigo e estava certo de ir direitinho para o Céu, quando, por culpa do Senhor e da Repartição que o Senhor dirige, tive que ir para o inferno penar alguns anos ainda.

Embora a pena seja leve, eu me amolei, por não ter contribuído para ela de forma alguma. A culpa é da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro que não cumpre os seus deveres, calçando convenientemente as ruas. Vamos ver por quê. Tendo sido enterrado no cemitério de Inhaúma e vindo o meu enterro do Méier, o coche e o acompanha mento tiveram que atravessar em toda a extensão a Rua José Bonifácio, em Todos os Santos.

Esta rua foi calçada há perto de cinqüenta anos a macadame e nunca mais foi o seu calçamento substituído. Há caldeirões de todas as profundidades e larguras, por ela afora. Dessa forma, um pobre defunto que vai dentro do caixão em cima de um coche que por ela rola sofre o diabo. De uma feita um até, após um trambolhão do carro mortuário, saltou do esquife, vivinho da silva, tendo ressuscitado com o susto.

Comigo não aconteceu isso, mas o balanço violento do coche machucou-me muito e cheguei diante de São Pedro cheio de arranha duras pelo corpo. O bom do velho santo interpelou-me logo:

— Que diabo é isto? Você está todo machucado! Tinham-me dito que você era bem-comportado — como é então que você arranjou isso? Brigou depois de morto?

Expliquei-lhe, mas não me quis atender e mandou que me fosse purificar um pouco no inferno.

Está aí como, meu caro Senhor Doutor Prefeito, ainda estou penando por sua culpa, embora tenha tido vida a mais santa possível. Sou, etc., etc. Posso garantir a fidelidade da cópia a aguardar com paciência as providências da municipalidade.

Lima Barreto

ANDRÉ KOHN


quando minha veia poética
estorou ela virou pra mim
e disse "deixa sangrar"

Nicolas Behr
DIFICÍLIMO

Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira.O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos.Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos.
(...)
Martin Luther King

PABLO MILANES - Yolanda


ESTRATÉGIAS...

Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas...

Sun Tzu

NEDERLANDS DANS THEATER at the Music Center


RIR SEMPRE

Quem de vós pode, ao mesmo tempo, rir e sentir-se elevado?
Aquele que sobe ao monte mais alto, esse ri-se de todas as tragédias, falsas ou verdadeiras.
Corajosos, despreocupados, escarninhos, violentos ― assim nos quer a sabedoria: ela é mulher e ama somente quem é guerreiro.

Friedrich Nietzsche
CRENÇAS: A VERDADE PRODUZIDA

A formação da subjetividade "obedece" às linhas de crença que desde cedo se instalam em todos nós. Esta mulher e/ou este homem, que a todo momento estão próximos a você, criança, saiba (acredite): são seus pais, e sobre este significante poderoso incidem crenças sócio-culturais de há muito arraigadas. Amai-vos! Ora, este é apenas o início de um longo processo de semiotização (fabricação de significados) que se estenderá pelo resto da sua vida.Não é um mal em si, até porque não há mal em si, apenas relações, linhas, conexões, agenciamentos de forças. Podemos agrupá-los sob o nome de desejos (ou afetos) que passam a consistir e a constituir o tecido da realidade, da nossa realidade. Neste sentido, para que tal crença (qualquer uma) "pegue" e se conserve como numa espécie de  "formol psíquico", é essencial a implantação do afeto correspondente.Não que a cada crença haja um afeto que a sustente, mas que os afetos se espraiam num território-meio existencial onde as crenças parasitam a alma e se reproduzem à revelia de um eu (ele próprio uma crença e das mais duras...) que assiste a tudo e cumpre ordens instantâneas e automatizadas. Seja você mesmo! Há, pois, ilusões profundamente instiladas na crença em si, no próprio eu-individual (este sou eu...) como senhor-comandante das ações mais elementares ou mesmo as mais complexas. A coisa funciona muito bem ao ponto de crenças como a Religião, o Estado, a Escola, as Forças Armadas, a Mídia, e tantas outras, fincarem suas bases em "regiões" profundas de um inconsciente histórico-sócio-político OPACO à consciência dos seres humanos normais, e por isso dominados e controlados e monitorados "por dentro" deles mesmos. 

A.M.

GRANDES ESCRITOS


PEGA LADRÃO!!

Para o procurador-geral Rodrigo Janot, Renato de Souza Duque (ex-diretor de Serviços da Petrobras) pode usar os recursos que supostamente ganhou ilegalmente quando trabalhava na Petrobras. “Parece bastante claro que o paciente [Duque] possui inúmeras possibilidades (notadamente financeiras, a partir de dezenas de milhões de reais angariados por práticas criminosas) de se evadir por inúmeros meios e sem mínimo controle segudo, especialmente se consideradas as continentais e incontroladas fronteiras brasileiras”, diz Janot no documento.
Duque deixou a carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, no dia 3 de dezembro. O habeas corpus concedido a ele foi assinado pelo ministro Zavascki, que acatou um pedido da defesa para revogar uma decisão do juiz federal Sérgio Moro, o qual decretou a prisão preventiva do executivo da Petrobras. A decisão do STF foi em caráter liminar e pode ser revertida a qualquer momento.
O advogado Alexandre Lopes de Oliveira, que representava Duque à época da prisão do ex-diretor, foi procurado pelo G1, mas não foi encontrado para comentar o documento assinado por Janot.
(...)
Samuel Nunes do G1 do PR e do G1 em Brasília, 30/01/2015, 23:38 hs

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Nada serviu tanto o despotismo como as ciências e os talentos.

Fiodor Dostoievski
DERROTA VITORIOSA

Era o relógio de meu avô, e quando o ganhei de meu pai ele disse Estou lhe dando o mausoléu de toda a esperança e todo desejo; é extremamente provável que você o use para lograr o reducto absurdum de toda a experiência humana, que será tão pouco adaptado às suas necessidades individuais quanto foi às dele e às do pai dele. Dou-lhe este relógio não para que você se lembre do tempo, mas para que você possa esquecê-lo por um momento de vez em quando e não gaste todo seu fôlego tentando conquistá-lo. Porque jamais se ganha batalha alguma, ele disse. Nenhum batalha sequer é lutada. O campo revela ao homem apenas sua própria loucura e desespero, e a vitória é uma ilusão dos filósofos e néscios.
(...)
William Faulkner

ZDZISLAW BEKSINSKI


Noturno nº 1

Nunca me sinto pobre,
ao contemplar as estrelas.

Qualquer doido
(eu)
possui
o latifúndio do céu.

Aguardente negra e gratuita
a noite me embriaga.

Sonho melhor
acordado.

Cassiano Nunes
DESOBEDIÊNCIA

Se mil homens se recusassem a pagar seus impostos este ano, esta não seria uma medida violenta e sangrenta, como seria a de pagá-los e permitir ao Estado cometer violências e derramar sangue inocente.

Henry David Thoreau

TUDO SE PARECE


ECONOMÊS PARA SERVOS DO CAPITAL

No ano passado, foi registrado déficit primário de R$ 32,53 bilhões, diz BC.
Após pagar juro, resultado é um dos piores do mundo e dívida pública sobe.

Influenciadas pelo resultado ruim do governo federal, as contas de todo o setor público consolidado – que englobam também os estados, municípios e empresas estatais – registraram o primeiro déficit primário (receitas menos despesas, sem contar juros) da História em 2014.

Segundo números divulgados pelo Banco Central nesta sexta-feira (30), o setor público consolidado teve um déficit primário de R$ 32,53 bilhões, ou 0,63% do Produto Interno Bruto (PIB), em todo ano passado.

É o pior resultado desde 2001, quando começou a série histórica do BC. Até o momento, o menor valor (na comparação com o PIB) havia sido registrado em 2013 – quando houve superávit primário de 1,9% do PIB, equivalente a R$ 91 bilhões.

No ano passado, as contas públicas tiveram forte deterioração devido ao aumento de gastos em ano eleitoral, à ajuda para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e à queda real da arrecadação – resultado do fraco nível de atividade da economia e das desonerações de tributos anunciadas nos últimos anos pelo governo.

"A moderação da atividade econômica afetou a arrecadação pública, um dos fatores que explica a redução do resultado [primário das contas públicas]. Outro fator são as desonerações. A Receita Federal estima em um pouco mais de 100 bilhões [em impacto das reduções de tributos em 2014]. E por fim destaca-se o crescimento das despesas com investimentos", avaliou Fernando Rocha, chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central.

(...)
Alexandro Martello,do G1 em Brasília, 30/01/2015, 12:02 hs
ROEDORES

-Meu senhor - respondeu-me um longo verme gordo - nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhemos o que roemos, nem amamos ou detestamos o que roemos; nós roemos.

Machado de Assis in Dom Casmurro

SEU JORGE e SANDRA DE SÁ - Olhos Coloridos


Nós, latino-americanos

Somos todos irmãos
mas não porque tenhamos
a mesma mãe e o mesmo pai:
temos é o mesmo parceiro
que nos trai. Somos todos irmãos
não porque dividamos
o mesmo teto e a mesma mesa:
divisamos a mesma espada
sobre nossa cabeça.

Somos todos irmãos
não porque tenhamos
o mesmo braço, o mesmo sobrenome:
temos um mesmo trajeto
de sanha e fome. Somos todos irmãos
não porque seja o mesmo sangue
que no corpo levamos:
o que é o mesmo é o modo
como o derramamos.

Ferreira Gullar
VERDADE

Por que a verdade gera o ódio? Por que é que os homens têm como inimigo aquele que prega a verdade, se amam a vida feliz, que não é mais que a alegria vinda da verdade (gaudium de veritate)? Talvez por amarem de tal modo a verdade que todos os que amam outra coisa querem que o que amam sejam verdade. Como não querem ser enganados, não se querem convencer de que estão no erro. Assim, odeiam a verdade, por causa daquilo que amam em vez da verdade. Amam-na quando os ilumina, e odeiam-na quando os repreende.
(...)
Santo Agostinho in Confissões,livro X

ZEITGEIST - parte 1


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

RECÉM-FORMADOS? CUIDADO!

Exame do Cremesp reprova 55% dos alunos recém-formados em medicina

Índice é menor do que o do ano anterior, de 59,2%.
Reprovação não impede obtenção do diploma e exercício da profissão.
Números mostram alto índice de reprovação no exame do Cremesp 

Dos 2.891 recém-formados em medicina que fizeram o exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), 55% do total (1.589 estudantes) foram reprovados. O índice é menor do que o registrado no ano passado, quando 59,2% não acertaram o mínimo exigido (60% das questões) e foram reprovados. Mas foi maior do que em 2013 - índice de 54,2% de reprovados. 
Todo estudante que se formou em medicina e quer se inscrever no conselho paulista precisa fazer o exame para poder tirar o registro do CRM (Conselho Regional de Medicina) e atuar como médico no estado. Apesar de ser um exame obrigatório, mesmo quem for reprovado também pode obter o registro.
Isso porque, por força de lei, o conselho não pode condicionar o registro médico ao resultado de uma prova. Para tanto, seria preciso uma lei federal, como acontece com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
O exame do Cremesp de 2014, realizado em outubro passado, apontou também que a reprovação foi maior entre os formados em instituições de ensino privadas (65,1%). Entre os alunos de escolas públicas, o índice foi de 33%.
Com abstenção de apenas 0,9%, o número de participantes em 2014 foi o maior desde que o exame começou a ser aplicado, há dez anos.

Erro em questões consideradas fáceis

Segundo critérios da Fundação Carlos Chagas (FCC), que aplicou o exame, 33% das questões foram consideradas "fáceis", 4,6% foram "muito fáceis" e 32,4%, "médias". As demais questões (29,6% do total) eram "difíceis".
O Cremesp afirma que os recém-formados erraram questões básicas sobre atendimento inicial de vítima de acidente automobilístico, atentado de vítima de ferimento por arma branca, pneumonia, pancreatite aguda e pedra na vesícula.
Por exemplo, dois a cada três candidatos erraram o diagnóstico de uma lactante de seis semanas com tosse leve há dez dias, sem febre e com a respiração acelerada. Este mesmo percentual não soube avaliar o risco operatório para uma mulher com pedra na vesícula, diabética, hipertensiva e com histórico de angina (estreitamento de artérias que provoca dor no peito) durante esforços moderados.
(...)
Cauê Fabiano, do G1 em São Paulo, em 29/01/2015, 11:58 hs
SURGIMENTO DO NOVO

A vida é o reino do não-linear, a vida é o reino da autonomia do tempo, é o reino da multiplicidade das estruturas. E isso não se vê facilmente no universo não-vivo.
(...)
Ilya Prigogine in O Nascimento do Tempo
Nível dos reservatórios na região Sudeste/Centro-Oeste cai abaixo de 17%

Patamar de 17% foi rompido praticamente uma semana após ao blecaute que atingiu as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul

O volume de água armazenada nos reservatórios associados à capacidade de geração elétrica brasileira continua em queda, segundo dados diários do Operador Nacional do Sistema (ONS) elétrico.

Na terça-feira, o nível dos reservatórios na região Sudeste/Centro-Oeste, responsável por 70% da capacidade de armazenamento do País, chegou a 16,93%. O patamar de 17% foi rompido praticamente uma semana após a ocorrência de um blecaute que atingiu as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul.

(...)
André Magnabosco,Agência Estado,Estadão, 29/01/2015, 04:35 hs

FRANZ MARC


quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

VIAJAR

A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.

José Saramago
Já é primavera:
Uma colina sem nome
Sob a névoa da manhã.

Matsuo Bashô

GRANDES ESCRITOS


DEUS E O ESTADO

Três elementos ou três princípios fundamentais constituem, na história, as condições essenciais de todo desenvolvimento humano, coletivo ou individual: 1º) a animalidade humana; 2º) o pensamento; 3º) a revolta. À primeira corresponde propriamente a economia social e privada; à segunda, a ciência; à terceira, a liberdade. Os idealistas de todas as escolas, aristocratas e burgueses, teólogos e metafísicos, políticos e moralistas, religiosos, filósofos, sem esquecer os economistas liberais, adoradores desmedidos do ideal, como se sabe, ofendem-se muito quando se lhes diz que o homem, com sua inteligência magnífica, suas idéias sublimes e suas aspirações infinitas, nada mais é, como tudo o que existe neste mundo um produto da vil matéria. Poderíamos responder-lhes que a matéria da qual falam os materialistas, matéria espontaneamente, eternamente móvel, ativa, produtiva, a matéria química ou organicamente determinada e manifesta pelas propriedades ou pelas forças mecânicas, físicas, animais e inteligentes, que lhe são forçosamente inerentes, esta matéria nada tem de comum com a vil matéria dos idealistas. Esta última, produto de falsa abstração, é efetivamente uma coisa estúpida, inanimada, imóvel, incapaz de dar vida ao mínimo produto, um caput mortuum, uma infame imaginação oposta a esta bela imaginação que eles chamam Deus; em relação ao Ser supremo, a matéria, a matéria deles, despojada por eles mesmos de tudo o que constitui sua natureza real, representa necessariamente o supremo nada. Eles retiraram da matéria a inteligência, a vida, todas as qualidades determinantes, as relações ativas ou as forças, o próprio movimento, sem o qual a matéria sequer teria peso, nada lhe deixando da impenetrabilidade e da imobilidade absoluta no espaço; eles atribuíram todas estas forças, propriedades ou manifestações naturais ao ser imaginário criado por sua fantasia abstrativa; em seguida, invertendo os papéis, denominaram este produto de sua imaginação, este fantasma, este Deus que é o nada, "Ser supremo"; e, por conseqüência necessária, declararam que o Ser real, a matéria, o mundo, era o nada. Depois disso eles vêm nos dizer gravemente que esta matéria é incapaz de produzir qualquer coisa que seja, até mesmo colocar-se em movimento por si mesma, e que por conseqüência deve ter sido criada por seu Deus. 
(...)
M. Bakunin

USA- CUBA


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

CONTATO 

Um contato direto, público, dos extraterrestres com os humanos poderia: 1- produzir uma espécie de dissolução das crenças e doutrinas vigentes há milênios na Terra; 2- Ocorrer situações de pânico coletivo levando a uma "rachadura" nas subjetividades terráqueas, e por conseguinte, a uma dissolução do sentido. 3- As organizações e estruturas de poder (o Estado, por ex.) sofreriam um abalo de tal magnitude que os poderes seriam questionados em suas estruturas mais rígidas e pregressas. 4-O Encontro entre espécies tão diferentes criaria condições de perigo ao aparecimento de doenças e epidemias devastadoras; 5-Se pensamos assim, é porque valorizamos miríades de fatos (aparições) que vêm sendo notados e estudados há centenas de anos. A realidade da existência de extraterrestres nos parece evidente; 6- Neste cipoal de fenômenos, é claro que existe todo tipo de mistificação, manipulação, sensacionalismo, ilusionismo coletivo e desvios éticos até mesmo religiosos, utilizando os fenômenos para justificar idéias fraudulentas e práticas de dominação social, moral, espiritual e psicológica. 7-De todo modo, um contato dessa ordem inauguraria uma era na história da Terra e da humanidade. 8- Mesmo não ocorrendo (ainda) tal encontro, a dimensão cósmica na apreciação dos problemas do homem, bem como o nosso avanço tecnológico, fazem da Terra um pequeno corpo (vide as comunicações) que passa a ter uma implicação diretamente ético-política, fazendo-nos cidadãos do planeta e não de um Estado-nação qualquer. 9- Estamos cientes do quanto essas idéias ("ufológicas") roçam uma espécie de Delírio para quem considera que estamos sós no universo e quem acredita que vivemos no melhor dos mundos ou que não vê saída para o Ódio e o Ressentimento entalados nos confins da alma humana. 10- Concluindo: os extraterrestres não irão nos destruir nem nos salvar. São apenas abridores de mil possibilidades de vida para os que estão dispostos ao enfrentamento com o Desconhecido e a busca por uma afirmação de novos valores.

A.M.
LINHA DO FORA

(...) Longe de ser uma entidade fechada em si, toda obra de arte que merece esse nome passa a existir no contato com o receptor, e renasce a cada nova interação com um novo espectador ou ouvinte. A fruição artística é, na verdade um diálogo.

Umberto Eco

ARNALDO ANTUNES - Contato Imediato


A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes ouço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos,
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

Fernando Pessoa
ARTEVIDA

A tragédia em cena já não me basta. Quero transportá-la para minha vida. Eu represento totalmente a minha vida. Onde as pessoas procuram criar obras de arte, eu pretendo mostrar o meu espírito. Não concebo uma obra de arte dissociada da vida.

Antonin Artaud

ALFONSO SIMONETTI


segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

ATÉ MORRER

Eu lutei contra a dominação branca, e eu lutei contra a dominação negra. Eu nutri o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal que espero viver para alcançar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer.

Nelson Mandela
O estudo em geral, a busca da verdade e da beleza são domínios em que nos é consentido ficar crianças toda a vida.

Albert Einstein

OPERAÇÃO PRATO - 1977


AMAR?

‎Você diz que ama a chuva, mas você abre seu guarda-chuva quando chove. Você diz que ama o sol, mas você procura um ponto de sombra quando o sol brilha. Você diz que ama o vento, mas você fecha as janelas quando o vento sopra. É por isso que eu tenho medo. Você também diz que me ama.
(...)
W. Shakespeare

domingo, 25 de janeiro de 2015

POTÊNCIA DO FALSO

As categorias do pensamento não são o verdadeiro e o falso e sim o nobre e o vil, o alto e o baixo, segundo a natureza das forças que se apoderam do próprio pensamento. Verdadeiro ou falso sempre temos a parte que merecemos: existem verdades da baixeza, verdades que são as do escravo. Inversamente, nossos pensamentos mais elevados levam em conta a influência exercida pelo falso; mais ainda, nunca renunciam em fazer do falso um alto poder, um poder afirmativo e artístico que encontre na obra–de–arte a sua efetuação, sua verificação, seu devir–verdadeiro. 
(...)
Gilles Deleuze

PHILIP GLASS- Etude 20 - Maki Namekawa


Ataques de grupos extremistas pelo mundo despertam onda anti-islã nas ruas do país

A recente chacina na sede do jornal Charlie Hebdo, em Paris, transformou, para muito pior, a vida de brasileiras muçulmanas. Religiosas de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso sofreram violências de diferentes níveis - foram apedrejadas, cuspidas, ignoradas no transporte público e alvos de piadas maldosas nas ruas -, nos dias seguintes ao ataque em uma onda de islamofobia que se opõe frontalmente à imagem brasileira de país multireligioso e pacífico.

Um dia após a invasão do jornal parisiense, os ataques ganharam força similar aos milhares de compartilhamentos “Je suis Charlie” nas redes sociais. A Mesquita Brasil, maior templo da religião no País, amanheceu pichada na capital paulista. Horas depois, no interior de Minas Gerais, A.P.B., de 27 anos, foi cuspida por uma pessoa enquanto brincava com o filho de seis anos no clube da sua cidade. “Assassina! Ninguém quer você aqui”, gritou o agressor. Assim como em outros ataques diários, A. abaixou a cabeça e ouviu aos xingamentos calada.
(...)
Fonte:Carolina Garcia, iG, São Paulo,25/01/2015, 06:00 hs
SEM EU

(...)Mas na realidade não há nenhum eu, nem mesmo no mais simples, não há uma unidade, mas um mundo plural, um pequeno firmamento, um caos de formas, de matizes, de situações, de heranças e possibilidades.

Hermann Hesse
A TIRANIA DO SOFRIMENTO

O homem, quando sofre, faz uma ideia muito especial do bem e do mal, ou seja, do bem que os outros lhe deveriam fazer e que ele pretende como se do seu sofrimento derivasse um qualquer direito a ser compensado, e do mal que pode fazer aos outros como se igualmente o seu sofrimento o autorizasse a praticá-lo.

Luigi Pirandello

DEPOIS DA CHUVA de Cláudio Marques e Marília Hughes, 2015


sábado, 24 de janeiro de 2015

SEM MOTIVO

Que a felicidade não dependa do tempo, nem da paisagem, nem da sorte, nem do dinheiro. Que ela possa vir com toda simplicidade, de dentro para fora, de cada um para todos. Que as pessoas saibam falar, calar, e acima de tudo ouvir. Que tenham amor ou então sintam falta de não tê-lo. Que tenham ideais e medo de perdê-lo. Que amem ao próximo e respeitem sua dor. Para que tenhamos certeza de que: “Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”.

Carlos Drummond de Andrade
ARTE DO ENCONTRO

[...] o terapeuta também 'está em análise', tanto quanto o paciente. Ele é parte integrante do processo psíquico do tratamento, tanto quanto este último, razão por que também está exposto às influências transformadoras. Na medida em que o terapeuta se fecha a esta influência, ele também perde sua influência sobre o paciente. E, na medida em que essa influência é apenas inconsciente, abre-se uma lacuna em seu campo de consciência, que o impedirá de ver o paciente corretamente. Em ambos os casos, o resultado do tratamento está comprometido.

Carl Jung

ALEXEY SLUSAR


SORRISO

Sorriso, diz-me aqui o dicionário, é o acto de sorrir. E sorrir é rir sem fazer ruído e executando contracção muscular da boca e dos olhos.

O sorriso, meus amigos, é muito mais do que estas pobres definições, e eu pasmo ao imaginar o autor do dicionário no acto de escrever o seu verbete, assim a frio, como se nunca tivesse sorrido na vida. Por aqui se vê até que ponto o que as pessoas fazem pode diferir do que dizem. Caio em completo devaneio e ponho-me a sonhar um dicionário que desse precisamente, exatamente, o sentido das palavras e transformasse em fio-de-prumo a rede em que, na prática de todos os dias, elas nos envolvem.

Não há dois sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o irónico, o sorriso de esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?) o de quem morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o Sorriso.

O Sorriso (este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria profunda, não tem nada que ver com as contracções musculares e não cabe numa definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes hesitante, por um frémito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Se move músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E contudo era um sorriso.

José Saramago

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES

Lá vem o acendedor de lampiões de rua!
Este mesmo que vem, infatigavelmente,
Parodiar o Sol e associar-se à lua
Quando a sobra da noite enegrece o poente.

Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite, aos poucos, se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
Ele, que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade
Como este acendedor de lampiões de rua!

Jorge de Lima

MICHEL FOUCAULT

o pensador da linguagem

MATÉRIA DA POESIA

A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não tem voz.

Ferreira Gullar
CONTRA A LEI

Quem não se viu centenas de vezes, a cometer ações vis ou estúpidas, pela única razão de que sabia que não devia cometê-las? Acaso não sentimos uma inclinação constante, mesmo quando estamos no melhor do nosso juízo, para violar aquilo que é lei, simplesmente porque a compreendemos com tal?
(...)

Edgar Allan Poe

NEDERLANDS DANS THEATER - Celebrates Jiri Kyliam


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

PARA UMA CLÍNICA DAS MULTIPLICIDADES

Tristeza não é o mesmo que depressão ou melancolia, termos clínicos que acompanham a psiquiatria, a psicanálise e outras técnicas psi. É certo que a tristeza é algo desagradável, mas mesmo tal adjetivação é discutível. "Mas pra fazer um samba com beleza/É preciso um bocado de tristeza/É preciso um bocado de tristeza/ Senão não se faz um samba não" (V. de Moraes, Samba da Benção). É que os afetos são ambíguos por sua própria natureza. A experiência clínica em psicopatologia mostra que eles são melhor captados como múltiplos, multiplicidades irredutíveis a uma definição banal, objetiva."O que você está sentindo?". Daí, a necessidade da escuta não-médica, não-opinativa, não regida pelo senso comum, expressão da ordem moral vigente. A psicanálise até que tenta, mas acaba atolada no lodaçal edipiano. "Odeio minha mãe". Então, qual seria a escuta? Ora, essa busca está acoplada ao ato do Encontro com a loucura encarnada no dito louco, mesmo que ele não seja louco no sentido médico. Escutar é ENCONTRAR o que é dito e considerado estranho às formas humanas e ao mesmo tempo no "interior" de experiências subjetivas compondo linhas de criação/produção ou de auto ou hetero destruição. Tal prática trabalho, exige tempo, prudência, sensibilidade, intuição, percepção fina e outras qualidades sequer sonhadas, mas praticadas no cotidiano das sensações de estar vivo-dentro-do-mundo. Como dissemos ao começo, tristeza não é depressão mas pode se tornar se o mundo se tornar. Será que isso não já está acontecendo?

A.M.

GRANDES ESCRITOS


PENSAR O FORA

Um filósofo é um homem que vive, vê, ouve, suspeita, espera e sonha constantemente com coisas extraordinárias, que fica surpreso com suas próprias idéias como se viessem de fora, do alto e debaixo, como por uma espécie de acontecimentos e de raios de trovão que só ele pode sofrer.
(...)
Friedrich Nietzsche
PESSOAS

As relações humanas nunca funcionavam mesmo. Só as duas primeiras semanas tinham alguns "tchans"; a partir daí, os parceiros perdiam o interesse. Caiam as máscaras e as verdadeiras pessoas começavam a aflorar: maníacas, imbecis, dementes, vingativas, sádicas, assassinas.
(...)

Charles Bukowski

JOHAN CRISTIAN DAHL


NAVIO-ESPIÃO RUSSO EM HAVANA

Neste momento, autoridades cubanas estão recebendo uma comissão formada pelos principais diplomatas americanos para uma série de reuniões na capital Havana - algo que não ocorria há 35 anos - como parte dos esforços de reaproximação entre os dois países.

Ao mesmo tempo, um navio espião da Rússia está atracado à vista de todos no porto da cidade.

A visita da delegação americana é resultado dos planos anunciados em dezembro pelo presidente Barack Obama e pelo seu equivalente, Raúl Castro, de retomar relações diplomáticas mútuas.

Mas a aparição do navio espião Viktor Leonov na véspera da visita histórica da delegação americana é uma lembrança das rivalidades dos velhos tempos da Guerra Fria.

O Viktor Leonov está ancorado em um píer de Havana Velha. Sua chegada não foi anunciada oficialmente pelas autoridades cubanas.

À agência AFP, autoridades americanas disseram que a presença do navio russo não tem importância, porque é perfeitamente legal e não tão incomum.

O serviço russo da BBC destaca que navios de inteligência do país viajam a Cuba com regularidade.

O próprio Viktor Leonov, que tem uma tripulação de 200 pessoas, esteve em Havana um ano atrás.

O crescente interesse do governo russo por Cuba levou a um acordo para reabrir uma base espiã na ilha.

De acordo com a imprensa russa, o acordo foi fechado durante a visita do presidente do país, Vladimir Putin, em julho passado.

Correspondentes veem a medida como parte dos esforços de Putin para reestabelecer a influência geopolítica do país, em meio à deterioração das relações entre Moscou e Washington com a crise na Ucrânia.

Fonte:UOL Notícias, BBC Brasil, 22/01/2015,06:11 Hs

YAMANDÚ COSTA - Carinhoso


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

CÉTICO

Não creia em tudo aquilo que está lendo.
Duvide até da própria assinatura.
Não cante sem reler a partitura.
Recuse poesia com remendo.

Se um cego diz seu seu calvário horrendo,
coloque mais pimenta, que ele atura.
Se ser um masoquista é o que ele jura,
no máximo masturba-se escrevendo.

Cantando espalharei por toda parte,
mas sei que poucos vão acreditar
que sou Átila, Nero ou Bonaparte.

Vá lá, não sou guru nem superstar.
Na dúvida, porém, nunca descarte
que onde há fumaça o fogo pode estar.

Glauco Mattoso
DISFARCE

Muitas pessoas estão ocupadas só para disfarçar a angústia; seu ativismo é um modo de fugir de si mesmas. Elas obtêm um pseudo e temporário senso de vivacidade correndo de um lado para o outro, como se estivessem realizando algo só pelo fato de se movimentarem, ou como se estarem ocupadas fosse uma prova de sua importância.

Rollo May

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

RECORDAÇÕES

Quando eu era pequeno, meus pais descobriram que eu tinha tendências masoquistas. Aí passaram a me bater todo dia, para ver se eu parava com aquilo.

Woody Allen

GRANDES ESCRITOS


DESEJOS

Lá estão novamente gritando os meus desejos. Calam-se acovardados, tornam-se inofensivos, transformam-se, correm para a vila recomposta. Um arrepio atravessa-me a espinha, inteiriça-me os dedos sobre o papel. Naturalmente são os desejos que fazem isto, mas atribuo a coisa à chuva que bate no telhado e à recordação daquela peneira ranzinza que descia do céu dia e dias.

Graciliano Ramos

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Riqueza de 1% deve ultrapassar a dos outros 99% no mundo até 2016

A partir do ano que vem, os recursos acumulados pelo 1% mais rico do planeta ultrapassarão a riqueza do resto da população, segundo um estudo da organização não-governamental britânica Oxfam.

A riqueza desse 1% da população subiu de 44% do total de recursos mundiais em 2009 para 48% no ano passado, segundo o grupo. Em 2016, esse patamar pode superar 50% se o ritmo atual de crescimento for mantido.

O relatório, divulgado às vésperas da edição de 2015 do Fórum Econômico Mundial de Davos, sustenta que a "explosão da desigualdade" está dificultando a luta contra a pobreza global.

"A escala da desigualdade global é chocante", disse a diretora executiva da Oxfam Internacional, Winnie Byanyima.

"Apesar de o assunto ser tratado de forma cada vez mais frequente na agenda mundial, a lacuna entre os mais ricos e o resto da população continua crescendo a ritmo acelerado."
(...)
Fonte:UOL Economia - BBC Brasil em 19/01/2015, 10:28 hs

ÉTICA DO FUTURO


SEM IDENTIDADE

(...) A perplexidade do moço diante de certas considerações tão ingênuas, a mesma perplexidade que um dia senti. Depois, com o passar do tempo, a metamorfose na maquinazinha social azeitada pelo hábito de rir sem vontade, de falar sem vontade, de chorar sem vontade, de falar sem vontade, de fazer amor sem vontade... O homem adaptável, ideal. Quanto mais for se apoltronando, mais há de convir aos outros, tão cômodo, tão portátil. Comunicação total, mimetismo: entra numa sala azul, fica azul, numa vermelha vermelho. Um dia se olha no espelho, de que cor eu sou? Tarde demais para sair pela porta afora.

Lígia Fagundes Telles

domingo, 18 de janeiro de 2015

VAGAS

E assim é tudo nela; de contraste em contraste, mudando a cada instante, sua
existência tem a constância da volubilidade. Na vaga flutuação dessa alma, como no
seio da onda, se desenha o mundo que a cerca; a sombra apaga a luz; uma forma
devanece a outra; ela é a imagem de tudo, menos de si própria. 

José de Alencar

MAJA WRONSKA


QUAIS DOENÇAS?

Há muitas doenças inexistentes em psiquiatria.Transtornos disso, transtornos daquilo, transtornos de tudo. Interesses de laboratórios farmacêuticos internacionais, corporativismos médicos, masturbações pseudo-teórico-acadêmicas, farmácias comerciais, etc, toda uma mega-máquina de poder garante e esconde verdades diagnósticas pouco confessáveis. No entanto, a inexistência de muitas doenças não exclui a existência do sofrimento do paciente, como no caso dos pânicos e das fobias e das angústias e das compulsões e das depressões e das psicoses... em meio a um cipoal de dores da alma. Se existem tais sofrimentos, é que há necessidade de enfrentá-los e para isso e por isso ir além dos diagnósticos cidológicos (vassalos da CID-10) os quais, em geral, não correspondem a doenças, e sim a sintomas. Sintomas de um mundo adoecido.

A.M. 
Lugar sem comportamento é o coração.
Ando em vias de ser compartilhado.
Ajeito as nuvens no olho.
A luz das horas me desproporciona.
Sou qualquer coisa judiada de ventos.
Meu fanal é um poente com andorinhas.
Desenvolvo meu ser até encostar na pedra.
Repousa uma garoa sobre a noite.
Aceito no meu fado o escurecer.
No fim da treva uma coruja entrava.

Manoel de Barros

JEAN LUC PONTY - Egocentric Molecules


PALAVRAS

Hoje as torturas são chamadas de “procedimento legal”, a traição se chama “realismo”, o oportunismo se chama “pragmatismo”, o imperialismo se chama “globalização” e as vítimas do imperialismo se chamam “países em via de desenvolvimento” . O dicionário também foi assassinado pela organização criminosa do mundo.As palavras já não dizem o que dizem ou não sabemos o que dizem.
(...)
Eduardo Galeano

P.S. - Trabalhadores são chamados de "colaboradores".

A.M.
DEVIR-POÉTICO

Poesia não é literatura. É outra coisa: é arte, mais para o lado da música e das artes plásticas, como Pound viu (ou ouviu) muito bem.
(...)
Paulo Leminski in Vida

GRANDES ESCRITOS


COLETIVO

Cem vezes todos os dias lembro a mim mesmo que minha vida interior e exterior, depende dos trabalhos de outros homens, vivos ou mortos, e que devo esforçar-me a fim de devolver na mesma medida que recebi.

Albert Einstein