PARA UMA CLÍNICA DAS MULTIPLICIDADES
Tristeza não é o mesmo que depressão ou melancolia, termos clínicos que acompanham a psiquiatria, a psicanálise e outras técnicas psi. É certo que a tristeza é algo desagradável, mas mesmo tal adjetivação é discutível. "Mas pra fazer um samba com beleza/É preciso um bocado de tristeza/É preciso um bocado de tristeza/ Senão não se faz um samba não" (V. de Moraes, Samba da Benção). É que os afetos são ambíguos por sua própria natureza. A experiência clínica em psicopatologia mostra que eles são melhor captados como múltiplos, multiplicidades irredutíveis a uma definição banal, objetiva."O que você está sentindo?". Daí, a necessidade da escuta não-médica, não-opinativa, não regida pelo senso comum, expressão da ordem moral vigente. A psicanálise até que tenta, mas acaba atolada no lodaçal edipiano. "Odeio minha mãe". Então, qual seria a escuta? Ora, essa busca está acoplada ao ato do Encontro com a loucura encarnada no dito louco, mesmo que ele não seja louco no sentido médico. Escutar é ENCONTRAR o que é dito e considerado estranho às formas humanas e ao mesmo tempo no "interior" de experiências subjetivas compondo linhas de criação/produção ou de auto ou hetero destruição. Tal prática dá trabalho, exige tempo, prudência, sensibilidade, intuição, percepção fina e outras qualidades sequer sonhadas, mas praticadas no cotidiano das sensações de estar vivo-dentro-do-mundo. Como dissemos ao começo, tristeza não é depressão mas pode se tornar se o mundo se tornar. Será que isso não já está acontecendo?
A.M.
A tristeza anda de mãos dadas com a depressão, como se fossem primas.Uma hora, a tristeza fala,e a depressão escuta...
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