HAVERÁ UMA SAIDA PARA CHARLIE?
Na França, hoje, além de sermos todos Charlie, somos todos infelizes. Se Muçulmanos, sentimos a discriminação da parte dos franceses, as dificuldades de integração e a tentação de uma saída heroica para o infortúnio. A pior das saídas está retratada no ato terrorista de nossos irmãos que metralharam os chargistas do Charlie Hebdo.
Judeus, sentimos a discriminação secular, um ódio as vezes disfarçado, mas o risco permanente de sermos agredidos na escola, no trabalho, nas ruas e o risco maior de sermos assassinados num super mercado cacher, pelo simples fato de sermos judeus. Temos a oportunidade de mudar para Israel, mas já somos franceses, estamos aqui há gerações, mesmo antes dos aliados terem derrotado o nazismo.
Franceses, sentimos a deterioração da economia e uma incapacidade de retomar níveis compatíveis com nossos hábitos de consumo, de paz, de trabalho e de felicidade. Os imigrantes nos incomodam querendo produzir espaços culturais próprios e diferentes dos nossos. Querem a burca quando nossas mulheres não usam nem mais as boinas no inverno. Concorrem conosco na busca de empregos. Criam um clima ainda maior de instabilidade.
A até nós, turistas, nos sentimos infelizes, porque o infortúnio é uma língua internacional que não poupa as classe sociais, as diferenças de cultura, sexo ou idade. Cada um no seu gênero ou na sua condição sente o desconforto solto no ar.
Mas, se somos todos Charlie numa circunstância eventual de revolta, também somos todos Charlie numa circunstancia permanente de infelicidade. Se reagimos à primeira numa marcha esplendorosa, porque não reagimos à segunda numa atitude solidaria de reconstrução?
Não há uma saída para os muçulmanos, uma saída para os judeus nem uma saída para os franceses. Ou há uma saída para todos ou não há saída para ninguém. O mundo tornou-se um corpo de células muito próximas. Ou se entendem ou se destroem.
Jorge da Cunha Lima , presidente da Aliança Francesa, 17/01/2015
Ou isto,ou aquilo!Concordo plenamente.
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