domingo, 8 de março de 2020

SEM  IDENTIDADE

O olhar da diferença é um olhar cego. Ele não enxerga, apenas vê. Percebe impressões vagas e exatas. Trabalha nos detalhes ínfimos das coisas. Funciona como quando se diz que "o amor é cego". Não que a diferença seja o amor, até porque este não existe como coisa, substância, essência, objeto sólido, mas como amar, acontecimento. Mais ainda, amar o acontecimento como o que não retorna jamais, e que sempre virá com a manhã da noite mais profunda e leve.No exercício dos seus paradoxos, nas cambalhotas do pensamento da alegria,  o olhar da diferença é mais que um olhar, muito mais que a própria perspicácia desse olhar. É que ela se orienta por sensações. Questão ético-estética: a potência, enfim. É uma prática de vida, um estremecimento, um frêmito, um grito silencioso, um instante lunático aterrissado nas horas em que Virgínia Woolf captou com todas as suas forças, com todo o esplendor da poesia que viveu. 

A.M.

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