ENFERMAGEM E SAÚDE MENTAL
A enfermagem tem uma história profundamente ligada à medicina e, portanto, é uma extensão do modelo biomédico usado como concepção de mundo. Em termos essenciais esse modelo prioriza o corpo como organismo visível sobre o qual se faz uma intervenção objetiva, seja aplicar uma injeção, realizar um curativo, controlar os dados vitais, entre vários procedimentos importantes para a recuperação do paciente. No entanto, em saúde mental as coisas se passam de modo diferente. Nessa área da clínica social e dos saberes múltiplos, o modelo psiquiátrico (que é obvio o da medicina) revela uma insuficiência secular e infelizmente nociva, na medida em que despreza o universo invisível do outro. Quer dizer, da mente. Um dos efeitos desse modelo foi a trágica era dos manicômios (século XIX) quando os pacientes eram humilhados e torturados (cf Foucault e tantos autores mostraram). Ora, o que queremos ressaltar é o fato de que a enfermagem em saúde mental, para chegar ao paciente, de fato ajudá-lo, servi-lo, encontrá-lo, tem que se descolar do modelo biomédico. Por que? Porque estamos no universo de sentido da saúde mental (isso é caps!) e não no da psiquiatria. O cuidado psicossocial extrapola os limites do organismo visível, mensurável e palpável. Estabelecidas tais condições, como atuaria a enfermagem em saúde mental? Não há protocolos fixos, mas critérios clínicos: o essencial é experimentar o ato-da-enfermagem como relação com o paciente. Isso vem imerso numa ética da alegria, do prazer, da produção de autonomia social, das linhas subjetivas singulares e da espontaneidade criativa. O que não exclui algo da tradicional função da enfermagem à la Florence Nightingale (século XIX) nas condutas de assepsia, por exemplo.
A.M.
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