O CISTO SOCIAL
A experiência capsiana é (ou deveria ser) movida por dois conceitos. São eles: o “cuidado ao paciente” e o “técnico em saúde mental”. A criação destes conceitos emerge no interior da prática com o paciente. É aí onde o “psicossocial” interpela o “biomédico” como parte de uma luta diária em prol de regimes ético-estéticos inauditos. Isso pode parecer estranho e demasiado abstrato. Lamento que não o seja ainda mais abstrato: é que o puro afeto não tem forma. A abstração ordinária (perda das formas instituídas) está inscrita em cada gesto como o que inova e faz dos modelos fixos peças recicláveis em arranjos clínicos disformes. O Caps é a clínica-linha como signo de vida da crueza do real-social. O cuidado ao paciente funciona em alianças institucionais e fluxos atrevidos rasgando convenções arcaicas. Isso margeia a periferia dos espíritos que resistem à infâmia e a vergonha. O técnico em saúde mental é o que ultrapassou as divisões entre disciplinas e entre os saberes e se transferiu para a técnica, aí onde já não há mais fronteiras. O contato com a loucura (este não é um conceito médico) é regido pela percepção do caos da psicopatologia num mundo fora e dentro de nós, técnicos do equilibrismo. Sim, não é para qualquer um. Diante disso, o planejamento de um serviço ambulatorial em saúde mental dispara na contra-corrente das práticas clínicas de autonomia subjetiva. Tal serviço parece mais um cisto parasitário do corpo coletivo, tudo em nome da verdade médica. Como calar?
A.M.
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