terça-feira, 30 de agosto de 2022

A FRAUDE

A grande limitação epistemológica, ou seja, a "doença" profunda da Medicina, chama-se mecanicismo. Trata-se de um pensamento raso em termos conceituais. Ele se baseia numa suposta linearidade causa-efeito na ocorrência das doenças. No entanto, esse fato não provocaria tantos estragos no paciente se o lugar social da Medicina não fosse o de um poder consolidado e inserido "naturalmente" na realidade do capital. Não falamos do capital somente como determinante econômico, mas sobretudo como operador semiótico (captura dos órgãos =significados fixos), de onde e por onde a Clínica Médica passa a ser utilizada como instrumento de controle dos corpos e, daí, uma produção incessante de lucro. Na esteira dessas questões, a psiquiatria contemporânea desponta como a especialidade médica que melhor traduz o reducionismo violento sobre o paciente, haja vista a ausência de objetos sólidos e visíveis na sua prática. Ninguém nunca "pegou" na mente, ou ninguém nunca "viu" a angústia ou a fobia ou o pânico ou o delírio de um paciente. É uma constatação - óbvia - mas que não aparece nas pesquisas etiológicas (causas das doenças) e talvez por isso elas constituam um campo tão pobre em investimentos e resultados. Há, pois, uma vontade política de querer fazer com que as coisas continuem para sempre como são. Ou como estão. O Medo, produto social, sustenta esse estado de coisas. Ou mais amplamente, todos os afetos baixos (que diminuem a potência de existir) são agenciados no mundo da mercadoria como antídotos subjetivos contra qualquer ideia de que um mundo não-capitalístico possa existir, ou sequer ser imaginado. Toneladas de tele-imagens virtuais, midiáticas, performáticas, linguageiras, são lançadas a cada minuto em todos, em tudo, em todas as partes, todos os lugares, tempos do cotidiano tecnológico cronometrado e apaixonantemente passivo.

A.M.


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