A EQUIPE TÉCNICA EM SAÚDE MENTAL : 10 LINHAS PARA O MÉTODO DA DIFERENÇA
(para Klécia e Vinicius, à época, companheiros de jornada)
1-A equipe técnica é um dispositivo grupal. Ou seja, trabalha e funciona visando um objeto e um objetivo: o paciente e o cuidado.
2-O Cuidado é um conjunto de ações práticas, incisivas, velozes, até mesmo ações não-práticas (por exemplo, usar novos conceitos, fazer diagnósticos, etc) que redundam em ações concretas e mudam alguma coisa para outra coisa.
3-Pensar é também uma prática, já que não se trata do pensamento reflexivo, mas do pensamento-em-ato, pensamento-corpo. Pensar é um exercício perigoso. Nisso há uma distinção importante para com os métodos da Academia, impregnados de positivismo e falso humanismo.
4-De acordo com o método da diferença, há um estilo deshierarquizado da equipe atuar em saúde mental. Figuras de autoridade técnica e institucional (como o médico, por exemplo) são usadas tão só como tijolos nas relações de produção do Cuidado.
5-Em face da sua história (cf. M. Foucault) a psiquiatria ainda ocupa o lugar da verdade em saúde mental, tanto em em relação ao paciente, quanto aos demais técnicos e à sociedade como um todo. Com status médico, compromissos morais e políticos inconfessáveis, aparece como o centro de ação para o Cuidado. Mas não é. Apenas reduz ou suprime (quando consegue) sintomas.
6-A busca da diferença no paciente é ao mesmo tempo a busca da diferença na equipe, em cada técnico, independente do nivel de escolaridade, do status social, do poder nas relações de trabalho e de tantas outras assimetrias O método da diferença valoriza a potência de criar e não a verticalidade dos contratos de mando e comando.
7-O método da diferença se corporifica na clínica da diferença. Um cuidado, para ser verdadeiro e real, passa pela escuta do outro e das suas linhas subjetivas expostas.
8-Se observarmos um caps, um ambulatório, um manicômio, há pistas cotidianas muito claras que mostram o quanto a clinica da diferença está sendo traída. Tudo começa pela Escuta quando não há escuta.
9-É necessária uma auto-análise grupal como condição para a Escuta. A questão técnico-individual (qual a sua graduação?) é substituída por qualidades como o senso de observação, a intuição, a sensibilidade fina, a inteligência, a atitude de espreita, entre outras.
10- Fazer a clinica da diferença é fazer a diferença na clínica. E seguir um método que vai além dos funcionários da organização, seja pública ou privada. Este método implica na produção do desejo de buscar e expressar novas linguagens, outros mundos, sonhos. Uma ética do trabalho se alia a uma estética da loucura não médica.
A.M. (fev/2021)
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