quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Transição


ao tirar o sutiã soltava os peitos

o recheio todo feito de algodão

precisava ser mulher de qualquer jeito

o seu corpo foi fazer revolução


começou por arrancar aqueles pelos

que habitavam suas pernas sua cara

e deixou que lhe crescessem os cabelos

e vestiu roupa de flor — a que sonhara


já não era decassílabo o soneto

muito menos o heroico alexandrino

travestiu-se de mulher algo divino


caminhava pelos becos pelo gueto

como fosse a mais bela das rainhas

e ostentasse uma coroa com espinhos


Líria Porto

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