quarta-feira, 9 de julho de 2025

POÉTICA DO ENCONTRO

Na clínica do Encontro, a sintaxe poética pode ser utilizada como expressão do paciente e escuta/ intervenção do terapeuta. Sim, a matéria do processo dito terapêutico é o desejo em suas multiplicidades singulares. Contudo, linhas de destruição aprontam e apontam suas armas na cena da transferência. E não concebemos a transferência no sentido freudiano, mas como conceito ampliado. Ele acessa estratos subjetivos que o mundo fincou qual estaca no coração dos afetos: instituições. Diante dessa ação anti-alegria,  terrorismo afetivo, empreendimento da morte, a tarefa essencial da clínica da diferença passa a ser criar, inventar, fazer surgir, arriscar, virar o jogo em prol de um contrajogo leve e dançante. Inglório o desafio, pois forças conservadoras operam maciçamente. O fim é acusar, julgar e condenar a vida do jeito que fazem com uma criança. Então é preciso resgatar a poesia , mesmo sem sermos poetas e sem que o paciente o seja. Não importa. A poesia não vive apenas de versos, ainda que belos. O que expressa é o inexpresso, o não-dito, o sem-palavras, o non sense, o paradoxo, o disparate, desejo que surge sem nome, inominável. Próximo a esse movimento vital, acha-se o que alguns mestres orientais chamam de caminho da libertação.


A.M.


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