Este blog busca problematizar a Realidade mediante a expressão de linhas múltiplas e signos dispersos.
quarta-feira, 31 de julho de 2013
ESTRANHOS AFETOS
Entretanto, sou incapaz de dizer o que é que eu quero, apesar de ansiar pelo que eu espero de alguma forma secreta. Pois muitas vezes, e com frequência cada vez maior, a medida que o tempo passa, dou comigo de repente a interromper minha andança, como se eu fosse paralisada por um olhar estranho e novo sobre a superfície da terra que conheço tão bem. Um olhar que insinua alguma coisa; mas que se vai antes de perceber seu sentido. É como se um riso nunca visto furtivamente se estendesse num rosto bem conhecido; por um lado dá medo, no entanto por outro ele nos faz um sinal.
Virginia Woolf
BANCOS LUCRAM MAIS, APESAR DA ECONOMIA FRACA
Apesar do fraco desempenho da atividade econômica brasileira neste ano, o lucro dos três maiores bancos privados — Itaú Unibanco, Bradesco e Santander — cresceu 1,93% no primeiro semestre na comparação anual, totalizando R$ 14 bilhões.
(...)
Fonte: Roberto Scrivano, O Globo
terça-feira, 30 de julho de 2013
segunda-feira, 29 de julho de 2013
UMA MALA
Realmente, não creio na alma humana, nem nunca cri. Tenho a convicção de que as pessoas são como as malas: cheias de coisas diversas, são expedidas, atiradas, empurradas, lançadas ao chão, perdidas e reencontradas, até que, por fim um Último Transportador as atira para o Último Comboio.
Katherine Mansfield
domingo, 28 de julho de 2013
HOMOFOBIA, ÓDIO E IMPUNIDADE
Num intervalo de sete meses no ano passado, o professor e performer Kleper Reis, de 31 anos, foi vítima de duas agressões físicas motivadas pela homofobia, que o levaram a crises de pânico e o forçaram até a mudar de endereço. Na primeira, três amigos e ele foram espancados por cerca de 20 homens na Lapa. Na segunda, Kleper e seu companheiro deixavam uma festa em Pedra de Guaratiba quando foram abordados por dois homens, um deles com um pedaço de madeira na mão. Eles arrancaram a saia que o professor vestia, aos gritos de que ali homem não andava daquele jeito. Em ambos os casos, os agressores ainda não foram punidos.
Enquanto o projeto de lei 122/06, que criminaliza a homofobia, está emperrado em polêmicas no Congresso Nacional, agressões como a sofrida pelo professor se multiplicam. Ele foi um dos 1.902 usuários (em 4.267 atendimentos) que procuraram um dos quatro Centros de Cidadania LGBT do Programa Rio Sem Homofobia, do governo estadual, no ano passado, a maioria deles (831, ou 39%) por ter sofrido algum tipo de violência homofóbica.
Na agressão que sofreu na Lapa, em abril de 2012, Kleper conta que, ao fugir do espancamento, pediu socorro a guardas municipais para seus amigos, que continuavam apanhando. Mas, afirma ele, os agentes riram e nada fizeram. Machucados, um dos rapazes e ele seguiram para a 5ª DP (Gomes Freire), onde registrara queixa. Já no caso de Pedra de Guaratiba, em novembro passado, moradores identificaram os praticantes da violência. A agressão foi registrada como lesão corporal leve e acabou parando no Juizado Especial Criminal (Jecrim), onde, numa audiência, os acusados receberam um documento com o endereço e o telefone das vítimas. O processo ainda não foi concluído.
— Não acreditei. Com medo, me mudei de casa e, até hoje, não atualizei meu endereço — relata Kleper. — Ainda hoje recebo atendimento psicológico no Centro de Cidadania. Mas, antes, já passava por várias agressões. As verbais, diárias. Houve uma época em que cheguei a acreditar que eu era um problema. Até que entendi que a única forma de me defender era não ficar em silêncio.
(...)
Fonte:Rafael Galdo, Rio
sábado, 27 de julho de 2013
DESTINO
Eu nunca fui desde a infância jamais semelhante aos outros. Nunca vi as coisas como os outros as viam. Nunca logrei apaziguar minhas paixões na fonte comum.
Nunca tampouco extrair dela os meus sofrimentos.
Nunca pude em conjunto com os outros despertar o meu peito para doces alegrias,
E quando eu amei o fiz sempre sozinho.
Por isso, na aurora da minha vida borrascosa evoquei como fonte de todo o bem o todo o mal.
O mistério que envolve, ainda e sempre,
Por todos os lados, o meu cruel destino...
Edgar Allan Poe
SEM ORIGEM
Certamente é bom que o mundo conheça apenas a obra bela e não as suas origens nem as condições em que foi gerada; pois o conhecimento das fontes de onde provém a inspiração para o artista causaria frequentemente perturbação e espanto, neutralizando assim os efeitos da excelência.
Thomas Mann
UM DEUS INUMANO
Numa visão espinosiana, crer no Deus cristão é reproduzir na dimensão "divina" a relação dirigente-comandado, governante-governado, rei-súdito, patrão-empregado, senhor-escravo,etc. Assim, o Pensamento se mantém prisioneiro de uma relação entre seres humanos, ou, dito de um modo cristão, numa relação entre pessoas. Deus é uma pessoa. No entanto, basta considerar a existência do infinito (tempo-espaço) para jogar por terra essa bobagem humanística. Não há dimensão existencial, espiritual, que se compare em grandeza a finitude humana com o cosmos. Daí, nessa matéria, a atitude mais honesta e inteligente é a do agnóstico, do materialista, do ateu e do trágico.Pena que o deísmo mais tosco convença a tanta gente e produza subjetividades atoladas no medo e na servidão voluntária.
A.M.
Além-tédio
Nada me expira já, nada me vive ---
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.
Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.
Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.
Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!
Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.
E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...
Mário de Sá-Carneiro
DESEJO
Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você.
Julio Cortázar
sexta-feira, 26 de julho de 2013
DELEUZE RESPONDE
Qual a relação entre a luta entre os homens e a obra de arte?
A relação mais estreita possível e, para mim, a mais misteriosa. Exatamente o que Paul Klee queria dizer quando afirmava: “Pois bem, falta o povo”. O povo falta e ao mesmo tempo não falta. “Falta o povo” quer dizer que essa afinidade fundamental entre a obra de arte e um povo que ainda não existe nunca será clara. Não existe obra de arte que não faça apelo a um povo que ainda não existe.
G. Deleuze in O que é o ato de criação?
Nunca amamos ninguém.
Amamos, tão-somente, a idéia que fazemos de alguém.
É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.
Isso é verdade em toda a escala do amor.
No amor sexual buscamos um prazer nosso, dado por intermédio de um corpo estranho.
No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma idéia nossa.
Fernando Pessoa
BRISA MARINHA
Tradução: Augusto de Campos
A carne é triste, sim, e eu li todos os livros.
Fugir! Fugir! Sinto que os pássaros são livres,
Ébrios de se entregar à espuma e aos céus
[ imensos.
Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos,
Impede o coração de submergir no mar
Ó noites! nem a luz deserta a iluminar
Este papel vazio com seu branco anseio,
Nem a jovem mulher que preme o filho ao seio.
Eu partirei! Vapor a balouçar nas vagas,
Ergue a âncora em prol das mais estranhas
[ plagas!
Um Tédio, desolado por cruéis silêncios,
Ainda crê no derradeiro adeus dos lenços!
E é possível que os mastros, entre ondas más,
Rompam-se ao vento sobre os náufragos, sem
[ mas-
Tros, sem mastros, nem ilhas férteis a vogar...
Mas, ó meu peito, ouve a canção que vem do
[ mar!
BRISE MARINE
La chair est triste, hélas! et j´ai lu tous les
[ livres.
Fuir! là-bas fuir ! Je sens que des oiseaux sont
[ ivres
D´être parmi l´écume inconnue et les cieux!
Rien, ni les vieux jardins reflétés par les yeux
Ne retriendra ce coeur qui dans la mer se
[ trempe
O nuits ! ni la clarté déserte de ma lampe
Sur le vide papier que la blancheur défend
Et ni la jeune femme allaitant son enfant.
Je partirai ! Steamer balançant ta mâture,
Lève l´ancre pour une exotique nature!
Un Ennui, désolé par les cruels espoirs,
Croit encore à l´adieu suprême des mouchoirs!
Et, peut-être, les mâts, invitant les orages
Sont-ils de ceux qu´un vent penche sur les
[ naufrages
Perdus, sans mâts, sans mâts, ni fertiles îlots...
Mais, ô mon coeur, entends le chant des
[ matelots!
Stéphane Mallarmé
MÁQUINAS DO DESEJO
O corpo-sem-órgãos (CsO) é um anti-conceito, limite intransponível da experiência. Processo esquizofrênico. No caso da entidade clínica é prática de vida que aparentemente fracassou. Mesmo assim permanece ativo enquanto coleção de linhas existenciais sem contorno, fluxos nômades, gritos. São as máquinas do desejo. A subjetivação é, pois, uma dessubjetivação incessante. Somos todos esquizos. Considere o seu próprio corpo. Ele é invenção de mundos. Não o corpo do qual a medicina, papai-mamãe e a escola gostam. É outra coisa, uma política. Aparece aqui e ali em situações de grande responsabilidade moral – para desfazer a moral.
(...)
A.M.
quinta-feira, 25 de julho de 2013
DO SER AO DEVIR
O que isso mostra (referindo-se às situações longe do equilíbrio) é o papel construtivo do não-equilíbrio e em seguida a incerteza. (...) Você tem também o elemento incerteza, ligado à probabilidade, que aparece. E, para mim, no fundo, isso foi a prova de que a flecha do Tempo tem uma grande importância. Veja: poderíamos dizer que as moléculas biológicas são moléculas que incorporaram o Tempo. (...) No equilíbrio tudo é simples e estável. Longe do equilíbrio, o complexo e o instável podem perecer. A grande objeção era que a vida é complicada demais para ser explicada pela física e pela química. Essa objeção cai a partir do momento em que, longe do equilíbrio, você tem a possibilidade de estruturas complexas.
(...)
Ilya Prigogine
quarta-feira, 24 de julho de 2013
O Pavão
Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
Rubem Braga
A Tirania do Sofrimento
O homem, quando sofre, faz uma ideia muito ideia muito especial do bem e do mal, ou seja, do bem que os outros lhe deveriam fazer e que ele pretende como se do seu sofrimento derivasse um qualquer direito a ser compensado, e do mal que pode fazer aos outros como se igualmente o seu sofrimento o autorizasse a praticá-lo.
Luigi Pirandello
Declínio do PT não favorece em nada o PSDB
O PT atravessa uma das piores crises de sua história. Desde o início das grandes manifestações de rua, em junho, a perda de apoio ao partido e ao governo da presidente Dilma Rousseff parece uma sangria desatada. Isso todo mundo já sabe. O fato curioso – e ainda pouco destacado dessa história – é que nada disso favorece diretamente seu maior inimigo, o PSDB.
Nas pesquisas sobre intenção de voto, os eleitores que estão deixando de declarar apoio a candidatos petistas não migram para as bandas tucanas. O que aumenta é o número de brancos, nulos e indefinidos (na última pesquisa Ibope/Estadão esse contingente quase duplicou).
Na avaliação do cientista político Ricardo Antunes, da Unicamp, a rebelião das ruas não foi direcionada a um partido específico, mas a todos que simbolizam o atual estado de coisas. “Foi um tsunami em relação aos partidos da ordem”, diz ele. Até agora, a única personalidade política que ganhou com a crise foi a ex-senadora Marina Silva, que ainda não tem partido.
Antunes observa que a queda livre nos índices de aprovação do governo da presidente Dilma nas pesquisas de opinião não resultou em qualquer crescimento de Aécio Neves, provável candidato do PSDB nas eleições de 2014. Em algumas pesquisas, o ex-governador mineiro, que tenta catalisar a oposição, até perdeu apoio.
“O PSDB está sem rumo”, diz o analista. “A situação de seu principal nome, o José Serra, permanece indefinida. O Aécio tem dificuldade para decolar porque não é um nome nacional. Mesmo que se acredite que será empurrado por votos de São Paulo e Minas, dois colégios eleitorais expressivos, o Brasil não se resume a isso.”
(...)
Fonte: blog -Roldão Arruda, 23/07/2013
terça-feira, 23 de julho de 2013
Discurso morno de Francisco frustra manifestantes
Recebido nesta segunda-feira com festa por uma multidão de fiéis apaixonados — antes mesmo do desfile em carro aberto que o protocolo oficial de sua visita previa —, o Papa Francisco frustrou, em seu primeiro discurso em terras brasileiras, a expectativa de quem aguardava algum tipo de menção ao turbulento momento pelo qual passa o país.
No Palácio Guanabara, alvo de alguns dos mais violentos protestos da onda que tomou o Brasil nas últimas semanas, o líder da Igreja Católica se limitou a falar dos objetivos evangelizadores de sua visita, com algumas pitadas de preocupações sobre o futuro dos jovens em um mundo que não consegue se erguer de uma profunda crise econômica. Sobre a efervescência nas ruas do Brasil, porém, ele se calou.
(...)
Fonte:Luiz Ernesto Magalhães e Rodrigo Rotzsch, O Globo
segunda-feira, 22 de julho de 2013
INTERNAUTAS CONVOCAM PROTESTOS CONTRA A VISITA DO PAPA
A recepção ao papa Francisco no Palácio Guanabara (sede do governo fluminense, na zona sul do Rio) será marcada por protestos convocados pelas redes sociais pelo grupo Anonymous Rio e pela Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea). A manifestação do Anonymus questiona os gastos públicos com a recepção ao pontífice e pede a saída do governador Sérgio Cabral e do vice Luiz Fernando Pezão, ambos do PMDB. Eles recepcionarão o papa. A solenidade está marcada para as 17h no palácio, com a presença da presidente Dilma Rousseff e do prefeito Eduardo Paes.
(...)
Fonte: Agência Estado, 22/07/2013
CARTA AO PAPA (trecho)
O Confessionário não é você, oh Papa, somos nós; entenda-nos e que os católicos nos entendam.
Em nome da Pátria, em nome da Família, você promove a venda das almas, a livre trituração dos corpos.
Temos, entre nós e nossas almas, suficientes caminhos para percorrer, suficientes distâncias para que neles se interponham os seus sacerdotes e esse amontoado de doutrinas afoitas das quais se nutrem todos os castrados do liberalismo mundial.
Teu Deus católico e cristão que, como todos os demais deuses, concebeu todo o mal:
1°. Você o enfiou no bolso.
2°. Nada temos a fazer com teus cânones, índex, pecado, confessionário, padralhada, nós pensamos em outra guerra (...)
Antonin Artaud, 1938
domingo, 21 de julho de 2013
Dever de Sonhar
Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis.
Fernando Pessoa
CARTA DA TRANSDISCIPLINARIDADE - Lisboa, Portugal, 1994
Preâmbulo
Considerando que a proliferação atual das disciplinas acadêmicas conduz a um crescimento exponencial do saber que torna impossível qualquer olhar global do ser humano;
Considerando que somente uma inteligência que se dá conta da dimensão planetária dos conflitos atuais poderá fazer frente à complexidade de nosso mundo e ao desafio contemporâneo de autodestruição material e espiritual de nossa espécie;
Considerando que a vida está fortemente ameaçada por uma tecnociência triunfante que obedece apenas à lógica assustadora da eficácia pela eficácia;
Considerando que a ruptura contemporânea entre um saber cada vez mais acumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido leva à ascensão de um novo obscurantismo, cujas conseqüências sobre o plano individual e social são incalculáveis;
Considerando que o crescimento do saber, sem precedentes na história, aumenta a desigualdade entre seus detentores e os que são desprovidos dele, engendrando assim desigualdades crescentes no seio dos povos e entre as nações do planeta;
Considerando simultaneamente que todos os desafios enunciados possuem sua contrapartida de esperança e que o crescimento extraordinário do saber pode conduzir a uma mutação comparável à evolução dos humanóides à espécie humana;
Considerando o que precede, os participantes do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade (Convento de Arrábida, Portugal 2 - 7 de novembro de 1994) adotaram o presente Protocolo entendido como um conjunto de princípios fundamentais da comunidade de espíritos transdisciplinares, constituindo um contrato moral que todo signatário deste Protocolo faz consigo mesmo, sem qualquer pressão jurídica e institucional.
Artigo 1
Qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma mera definição e de dissolvê-lo nas estruturas formais, sejam elas quais forem, é incompatível com a visão transdisciplinar.
Artigo 2
O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade, regidos por lógicas diferentes é inerente à atitude transdisciplinar. Qualquer tentativa de reduzir a realidade a um único nível regido por uma única lógica não se situa no campo da transdisciplinaridade.
Artigo 3
A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz emergir da confrontação das disciplinas dados novos que as articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade não procura o domínio sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa.
Artigo 4
O ponto de sustentação da transdisciplinaridade reside na unificação semântica e operativa das acepções através e além das disciplinas. Ela pressupõe uma racionalidade aberta por um novo olhar, sobre a relatividade definição e das noções de ““definição”e "objetividade”. O formalismo excessivo, a rigidez das definições e o absolutismo da objetividade comportando a exclusão do sujeito levam ao empobrecimento”.
Artigo 5
A visão transdisciplinar está resolutamente aberta na medida em que ela ultrapassa o domínio das ciências exatas por seu diálogo e sua reconciliação não somente com as ciências humanas mas também com a arte, a literatura, a poesia e a experiência espiritual.
Artigo 6
Com a relação à interdisciplinaridade e à multidisciplinaridade, a transdisciplinaridade é multidimensional. Levando em conta as concepções do tempo e da história, a transdisciplinaridade não exclui a existência de um horizonte trans-histórico.
Artigo 7
A transdisciplinaridade não constitui uma nova religião, uma nova filosofia, uma nova metafísica ou uma ciência das ciências.
Artigo 8
A dignidade do ser humano é também de ordem cósmica e planetária. O surgimento do ser humano sobre a Terra é uma das etapas da história do Universo. O reconhecimento da Terra como pátria é um dos imperativos da transdisciplinaridade. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade, mas, a título de habitante da Terra, é ao mesmo tempo um ser transnacional. O reconhecimento pelo direito internacional de um pertencer duplo - a uma nação e à Terra - constitui uma das metas da pesquisa transdisciplinar.
Artigo 9
A transdisciplinaridade conduz a uma atitude aberta com respeito aos mitos, às religiões e àqueles que os respeitam em um espírito transdisciplinar.
Artigo 10
Não existe um lugar cultural privilegiado de onde se possam julgar as outras culturas. O movimento transdisciplinar é em si transcultural.
Artigo 11
Uma educação autêntica não pode privilegiar a abstração no conhecimento. Deve ensinar a contextualizar, concretizar e globalizar. A educação transdisciplinar reavalia o papel da intuição, da imaginação, da sensibilidade e do corpo na transmissão dos conhecimentos.
Artigo 12
A elaboração de uma economia transdisciplinar é fundada sobre o postulado de que a economia deve estar a serviço do ser humano e não o inverso.
Artigo 13
A ética transdisciplinar recusa toda atitude que recusa o diálogo e a discussão, seja qual for sua origem - de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política ou filosófica. O saber compartilhado deverá conduzir a uma compreensão compartilhada baseada no respeito absoluto das diferenças entre os seres, unidos pela vida comum sobre uma única e mesma Terra.
Artigo 14
Rigor, abertura e tolerância são características fundamentais da atitude e da visão transdisciplinar. O rigor na argumentação, que leva em conta todos os dados, é a barreira às possíveis distorções. A abertura comporta a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível. A tolerância é o reconhecimento do direito às idéias e verdades contrárias às nossas.
Artigo final
A presente Carta Transdisciplinar foi adotada pelos participantes do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, que visam apenas à autoridade de seu trabalho e de sua atividade.
Segundo os processos a serem definidos de acordo com os espíritos transdisciplinares de todos os países, o Protocolo permanecerá aberto à assinatura de todo ser humano interessado em medidas progressistas de ordem nacional, internacional para aplicação de seus artigos na vida.
ALEGRIA, A FORÇA MAIOR
No meio das trevas, sorrio à vida, como se conhecesse a fórmula mágica que transforma o mal e a tristeza em claridade e em felicidade. Então, procuro uma razão para esta alegria, não a acho e não posso deixar de rir de mim mesma. Creio que a própria vida é o único segredo.
Rosa Luxemburgo
HABEAS CORPUS
Bem diferente do jeans e camiseta, um clássico do figurino dos ativistas que estão pelas ruas do Rio, uma turma de paletó e gravata, ou tailleur, tem marcado presença nos protestos que vêm ocorrendo há mais de um mês. São quase 50 advogados que se revezam como voluntários em manifestações e delegacias para garantir o direito das pessoas de se manifestarem de forma pacífica. O grupo faz parte do coletivo Habeas Corpus, que tem o apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ). Juntos, eles já atuaram na defesa de 350 manifestantes e de policiais vítimas de agressões.
(...)
Fonte:Fernanda Pontes, Rio
sábado, 20 de julho de 2013
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Mario Quintana
BASES DO FAMILIARISMO
(...) As determinações familiares se tornam a aplicação da axiomática social. A família se torna o subconjunto ao qual se aplica o conjunto do campo social. Como cada um tem um pai e uma mãe a título privado, é um subconjunto distributivo que simula para cada um o conjunto coletivo das pessoas sociais, que fecha o seu domínio e embaralha suas imagens. Tudo se rebate sobre o triângulo pai-mãe-filho, que ressoa, respondendo, "papai-mamãe", cada vez que é estimulado com as imagens do capital. Em resumo, Édipo chega: ele nasce no sistema capitalista da aplicação das imagens sociais de primeira ordem às imagens familiares privadas de segunda ordem.. Ele é um conjunto de chegada que responde a um conjunto de partida determinado. Ele é nossa formação colonial íntima que responde à forma de soberania social. Somos todos pequenas colônias e é Édipo que nos coloniza. Quando a família deixa de ser uma unidade de produção e de reprodução, quando a conjunção encontra nela o sentido de uma simples unidade de consumo, é pai-mãe que consumimos (...)
G. Deleuze e F. Guattari - do livro O anti-édipo
DORMIR
Tudo o que dorme é criança de novo. Talvez porque no sono não se possa fazer mal, e se não dá conta da vida, o maior criminoso, o mais fechado egoísta é sagrado, por uma magia natural, enquanto dorme. Entre matar quem dorme e matar uma criança não conheço diferença que se sinta.
Fernando Pessoa
O MURO DA CONSCIÊNCIA
(...) A psicopatologia clínica inscreve-se num campo movediço e por si mesmo caótico. Um caotizar incessante de movimento infinito. No entanto, é preciso realizar um corte no caos para tornar possíveis significações estáveis. Entramos num universo irredutível à psicopatologia médica. Sem dúvida, que, fora da psiquiatria há outros mundos. Não é possível psiquiatrizá-los senão com golpes de força ou dissimulação objetiva de uma violência subjetiva.São subjetivações não “cadastradas” Elas resistem... a experiência dita espiritual (imaterial) sob os mais variados credos, matizes e rituais: candomblé, espiritismo, evangélica, esotérica, cósmica, mística, zen budista, os transes, experiências de saída do corpo, os casos de para-normalidade, etc, situações onde a noção de consciência e do eu se esfumam em prol de uma vivência mais alargada da realidade. As categorias nosológicas da psiquiatria de nada nos servem para captar esse “interior” subjetivo. É bem verdade que não são situações comuns. Mas estão inseridas na mesma cultura dos ditos transtornos mentais. Daí, que traçar uma linha divisória entre os fenômenos (normal versus anormal) torna-se difícil , senão impossível, caso nos fixemos na propedêutica e no pensar médicos. Não se trata de sugerir aportes para uma pesquisa em psiquiatria transcultural, mas estabelecer parâmetros clínicos que referendem discursos e práticas como legítimos na construção de territórios existenciais das subjetividades envolvidas. O conceito de consciência tende a se apagar em prol dos modos de subjetivação insólitos, estranhos, e não coadunáveis com a racionalidade vigente.
(...)
A.M. - in Trair a psiquiatria
Brasileiros preparam site com dados de propinas em todo o país
Será lançado no Brasil em agosto um site colaborativo no qual qualquer pessoa poderá alimentar um banco de dados sobre propinas pagas no país.
A iniciativa é do jornalista Mauricio Svartman, 31 anos, e da produtora cultural Paula Chang, 28 anos. Eles foram buscar inspiração na Índia, onde o “I Paid a Bribe” (Eu Paguei Propina, em português), desenvolvido por uma ONG local, já recolheu mais de 21 mil casos de propina desde 2010.
O objetivo é mapear a cultura da corrupção no Brasil, orientar políticas governamentais a respeito e constranger gestores públicos a zelarem por seus respectivos órgãos.
Svartman e Chang chegaram a discutir o desenvolvimento de um site próprio, com apoio do grupo Transparência Hacker. Mas entraram em contato com os indianos do “I Paid a Bribe” e receberam o sistema de programação pronto, de graça, para abrir uma versão brasileira do site. Eis uma imagem do site da Índia:
O mecanismo é simples. O cidadão que se sentiu constrangido a pagar “um café” para, por exemplo, ser atendido em um hospital público ou liberar um alvará, entra no site e informa a data, local, órgão público, circunstâncias e valor.
A versão indiana se consolidou como uma referência mundial em coleta de dados sobre corrupção. O site gera gráficos dinâmicos sobre o valor das propinas, regiões mais corruptas e tendências em cada cidade ou órgão público.
“É difícil tirar alvará em muitas cidades sem dar dinheiro pro departamento de urbanismo. Já ouvi muito sobre portos no Brasil não liberarem mercadorias sem pagar. E há empresas que ganham licitação mas, na hora H, alguém do governo diz que precisa pagar mais tanto. O site será bom para ter um panorama imediato disso”, afirma Svartman.
O endereço será www.eupagueipropina.com, com hospedagem custeada pelos dois brasileiros. O plano surgiu em abril, antes da recente onda de protestos, e não é vinculado a partidos políticos, diz Svartman.
Fonte: Bruno Lupion , blog do Fernando Rodrigues, 17/07/2013
sexta-feira, 19 de julho de 2013
PULSAÇÕES LIVRES
Como qualquer um pode lhe dizer, não sou um homem muito bom. Não sei que palavra usar para me definir. Sempre admirei o vilão, o fora-da-lei, o filho-da-puta. Não gosto dos garotos bem barbeados com gravatas e bons empregos. Gosto dos homens desesperados, homens com dentes rotos e mentes arruinadas e caminhos perdidos. São os que me interessam. Sempre cheios de supresas e explosões. Também gosto de mulheres vis, cadelas bêbadas que não param de reclamar, que usam meias-calças grandes demais e maquiagens borradas. Estou mais interessado em pervertidos do que em santos. Posso relaxar com os imprestáveis, porque sou um imprestável. Não gosto de leis, morais, religiões, regras. Não gosto de ser moldado pela sociedade.
Charles Bukowski
O SORTUDO
Outra história que eu gosto, tanto que repito sempre, é a do sortudo. Um sortudo extraordinário. Um sortudo de nascença que conseguia tudo o que queria sem qualquer esforço. Na escola, nos negócios, no jogo. E com as mulheres. Não era um homem especialmente sedutor, apenas tinha sorte. E foi acumulando conquistas amorosas, para desespero e inveja dos outros. Foram tantas as conquistas que um dia ele parou para fazer um inventário sexual e concluiu que de todos os tipos de mulheres no mundo, ele não faturara uma hindu. Ou é hindua? Enfim, uma moça da Índia. Por sorte, conheceu uma naquela mesma noite. E naquela mesma noite ela estava em sua cama, apresentando-o às mil maneiras de fazer o amor oriental. Até que, saciados, os dois dormiram. O sortudo acordou mais cedo. Ficou olhando o rosto da moça, que dormia profundamente. E viu que ali estava a oportunidade de descobrir uma coisa que sempre o intrigara. O que é aquele sinal que as mulheres da Índia têm no meio da testa?
Então o sortudo raspou o sinal da testa da moça com a unha – e ganhou um Gol zero quilômetro!
Luis Fernando Veríssimo
O ACONTECIMENTO MAIOR
Morrer pertence à vida, assim como nascer. Para andar, primeiro levantamos o pé e, depois, o baixamos ao chão (...) Algum dia saberemos que a morte não pode roubar nada do que nossa alma tiver conquistado, porque suas conquistas se identificam com a própria vida.
Rabindranath Tagore
HOMICÍDIOS EM ALTA
(...) O Mapa da Violência mostra que, na Bahia, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes cresceu 223,6%. Na Paraíba, 202,3%. No Rio Grande do Norte, 190,2%. Como em toda a violência no País, essa mudança também atinge principalmente os jovens. Em Alagoas, morrem 156, 4 jovens a cada 100 mil habitantes, quase oito vezes superior à de São Paulo.
A epidemia de assassinatos que atinge o Nordeste pode ser traduzida pelos números das capitais. Em 1999, Salvador era a área metropolitana mais tranquila do País. Em 12 anos, pulou para a 3.ª colocação - a taxa de homicídios passou de 7,9 por 100 mil para 69 por 100 mil. Maceió, a 1.ª do ranking hoje, com 111 assassinatos por 100 mil, era apenas a 14.ª há 12 anos.
Das oito cidades que compunham a lista das capitais mais violentas, apenas Vitória e Recife ainda continuam entre as primeiras. A capital do Espírito Santo caiu do 1.º para o 5.º lugar e Recife, da 2.ª para 4.ª posição. São Paulo, que era o 3.º lugar em 1999, hoje é a capital menos violenta do País.
(...)
Fonte:
Lisandra Paraguassu , Brasília
quinta-feira, 18 de julho de 2013
SIGNOS DISPERSOS
O método de "O cérebro MENTE" segue um percurso de rizomas.Ou seja, tudo vale postar como expressão de um desequilíbrio semiótico. Personagens díspares se cruzam, se atracam, se chocam, se aliam em expressões de signos multifacetados. Isto se insinua a quem joga os dados do acaso.
A.M.
NEUROFRAUDES
(...) O biologismo tem duas correntes, que eu chamo de neuromania e darwinite. A neuromania se baseia na crença de que a consciência humana é idêntica à atividade cerebral. Existem, é claro, correlações entre a atividade cerebral e aspectos da consciência. Estas podem ser demonstradas observando-se que partes do cérebro se “acendem” quando os sujeitos relatam determinadas experiências. No entanto, isso não quer dizer que a atividade neural é uma causa suficiente desses aspectos da consciência: que, por exemplo, os eventos vistos no córtex orbito-frontal quando vemos um objeto bonito sejam toda a causa de nossa experiência da beleza, e ainda menos que eles sejam nossa experiência da beleza.
Na verdade, não há uma explicação neural concebível de muitos aspectos da consciência humana.
(...)
Raymond Tallis
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