sábado, 20 de julho de 2013

O MURO DA CONSCIÊNCIA

(...) A psicopatologia clínica inscreve-se num campo movediço e por si mesmo caótico. Um   caotizar  incessante  de movimento infinito. No entanto, é  preciso realizar um corte no caos para tornar possíveis significações estáveis. Entramos num universo irredutível à psicopatologia médica. Sem dúvida, que, fora da psiquiatria  há  outros mundos. Não é possível  psiquiatrizá-los  senão com golpes de  força ou dissimulação objetiva de uma violência subjetiva.São subjetivações não “cadastradas” Elas resistem... a experiência dita espiritual (imaterial) sob os mais variados credos, matizes e rituais: candomblé, espiritismo, evangélica, esotérica, cósmica, mística, zen budista, os transes, experiências de  saída  do corpo, os casos de para-normalidade, etc, situações onde a noção de consciência e do eu se esfumam em prol de uma vivência mais alargada  da realidade. As categorias  nosológicas  da  psiquiatria de nada nos servem para captar esse “interior”  subjetivo. É bem  verdade que  não  são  situações comuns. Mas estão inseridas na mesma  cultura  dos ditos  transtornos mentais. Daí, que traçar uma linha divisória entre os fenômenos (normal versus anormal)  torna-se  difícil , senão  impossível, caso nos fixemos na propedêutica e no pensar médicos. Não se trata de sugerir aportes para uma pesquisa em psiquiatria  transcultural, mas estabelecer parâmetros clínicos que referendem discursos e práticas como legítimos na construção de territórios existenciais das subjetividades envolvidas. O conceito de consciência  tende  a  se apagar  em prol dos modos de subjetivação insólitos, estranhos, e não coadunáveis com a racionalidade vigente. 
(...)
A.M. - in Trair a psiquiatria

Nenhum comentário:

Postar um comentário