O MURO DA CONSCIÊNCIA
(...) A psicopatologia clínica inscreve-se num campo movediço e por si mesmo caótico. Um caotizar incessante de movimento infinito. No entanto, é preciso realizar um corte no caos para tornar possíveis significações estáveis. Entramos num universo irredutível à psicopatologia médica. Sem dúvida, que, fora da psiquiatria há outros mundos. Não é possível psiquiatrizá-los senão com golpes de força ou dissimulação objetiva de uma violência subjetiva.São subjetivações não “cadastradas” Elas resistem... a experiência dita espiritual (imaterial) sob os mais variados credos, matizes e rituais: candomblé, espiritismo, evangélica, esotérica, cósmica, mística, zen budista, os transes, experiências de saída do corpo, os casos de para-normalidade, etc, situações onde a noção de consciência e do eu se esfumam em prol de uma vivência mais alargada da realidade. As categorias nosológicas da psiquiatria de nada nos servem para captar esse “interior” subjetivo. É bem verdade que não são situações comuns. Mas estão inseridas na mesma cultura dos ditos transtornos mentais. Daí, que traçar uma linha divisória entre os fenômenos (normal versus anormal) torna-se difícil , senão impossível, caso nos fixemos na propedêutica e no pensar médicos. Não se trata de sugerir aportes para uma pesquisa em psiquiatria transcultural, mas estabelecer parâmetros clínicos que referendem discursos e práticas como legítimos na construção de territórios existenciais das subjetividades envolvidas. O conceito de consciência tende a se apagar em prol dos modos de subjetivação insólitos, estranhos, e não coadunáveis com a racionalidade vigente.
(...)
A.M. - in Trair a psiquiatria
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