sexta-feira, 1 de novembro de 2019

ESTUDO SOBRE AS PSICOSES - II

Sob a ótica da diferença, a experiência psicótica substitui a entidade clínica "psicose". Para além dos sufixos de virose, micose, artrose, tuberculose etc, o modelo biomédico se desfaz em prol de uma relação de implicação com a Realidade: a diferença. Mas, de que realidade se trata? A experiência psicótica responde: da realidade do delírio. É nele que formiga a singularidade psicótica e só através da análise desse processo existencial complexo ( o louco) é que a psiquiatria poderá "compreender o incompreensível". Para isso acontecer, deve se tornar louca, não psicótica. Esta vivência, (tanto para o técnico quanto para o paciente), prenhe de afeto e crença, tem na esquizofrenia o arqui-modelo das psicoses ( a loucura) onde a dissolução do sentido faz do delírio não um sintoma, mas o próprio paciente. Assim, as psicoses remetem à experiência do não sentido expresso como sentido (regime semiótico) em múltiplos graus de recusa à Realidade. No fim das contas, se seguirmos os códigos da medicina psiquiátrica, conceituar uma psicose não só é difícil, mas impossível. Resta a diferença, transdisciplinar e não identitária, conectar com o psicótico via saberes fora da psiquiatria, mas que a atravessam e a constituem como prática clínica. É esse o caminho (método) para explorar estranhos universos. 

A.M.

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