domingo, 28 de março de 2021

Xeque-mate


Quando menos se espera, já são horas.

A dama de espadas perde o gume

e o pássaro pousado vai embora.


Quando menos se espera, o que se anuncia

não é a sorte grande, a estrela Aldebarã

ou a sagração da primavera.

São tempos de abutre

e o coração, músculo bélico, fraqueja.


De repente, já é sábado,

há uns assuntos desagradáveis para resolver

e, sobre a pele confusa da alma,

uma densa crosta de óxido e desalento.


Quando menos se espera, o rei está em xeque,

e é dezembro.

Há uma complicação de trânsito

na avenida

uma artéria que não dá passagem.

Quando menos se espera, já é tarde.



Carlos Machado

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