Escuta em saúde mental
Escutar em saúde mental não é ouvir. Apenas.
O técnico em saúde mental tem orelhas enormes movidas a uma percepção delicada.
Anda à espreita de novidades.
Contudo, em face da herança psiquiátrica, é muito difícil escutar. A psiquiatria não escuta. Mesmo que haja (raros) psiquiatras que escutem, isto se dá apesar da psiquiatria e não por causa da psiquiatria. Nesse mister ela é um horror.
Escutar passa essencialmente pelos afetos e perceptos. A psiquiatria não dispõe de uma teoria nem de um nem do outro. Como então estabelecer um vínculo com o “seu” paciente? Restou vampirizar sinapses cansadas.
Afetos do paciente, afetos do técnico. Perceptos do paciente, perceptos do técnico. Bons e maus. Construtivos e destrutivos. Esse é o jogo.
Convém ao técnico em saúde mental não buscar ser juiz, policial ou professor. E saber que não julga, não pune nem salva. Só tenta facilitar as coisas da existência.
A escuta é um conceito-chave em saúde mental. Traz a pergunta: diante da loucura, o que é que eu faço? Que devo fazer? Uma ética.
A não-escuta reflete o mundo atual tecnológico. Ninguém escuta ninguém.
Assim, como acolher se não escuto? Como tratar se não escuto? Como cuidar se não escuto?
Expor-se às mil formas de ser/agir no mundo é a escuta em saúde mental. Nada fácil.
A.M.
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