POLÍTICAS DA HISTERIA
A psicopatologia do século XXI assiste à histeria não mais como uma entidade clínica, ao estilo dos tempos freudianos. Bem mais, o que hoje se observa são sintomas histéricos esparsos inscritos em corpos-organismos que a psiquiatria e saberes correlatos instituem sem cessar. Depressões, psicoses, manias, somatoses, anorexias e outras síndromes inomináveis, traçam um mosaico de sintomas que faz por estabelecer e preparar um campo nosológico "ideal" para o uso de psicofármacos. Trata-se de um máquina clínica funcionando na consciência do sofrimento psíquico, não só do paciente, mas dos que estão em torno (familiares, amigos, colegas, etc). A histeria não deixa dúvidas: o corpo que "não aguenta mais" (cf David Lapoujade) é o corpo dos supliciados pela culpa, pelo ressentimento e pela vingança. Respiradores do ódio. Nesse mister a forma-religião (em destaque as cristãs) cumpre um papel milenar em aliança plena e feliz com as relações sociais capitalísticas. A política, distanciada e relegada às funções do Estado opressor, desaparece e reaparece como dor de existir em cada cidadão, mesmo e principalmente quando não o admite. Eis que o consumo das imagens-clichês da internet e similares emerge nas telas de um horror desejado à distância: Ucrãnia, Amazônia, etc. O hiper-realismo...
A.M.
Nenhum comentário:
Postar um comentário