quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

A língua delira


 A língua está em toda parte, mas não possui nenhum domínio que lhe seja próprio. Não existe

língua em si. O que especifica a linguagem humana é precisamente que não remete jamais a si

mesma, que permanece sempre aberta a todos os ouros modos de semiotização. Quando se

fecha numa língua nacional, um dialeto, uma gíria, uma língua especial, um delírio, isto diz

respeito sempre a um certo tipo de operação política ou micropolítica (...) Não há nada menos

lógico, menos matemático, que uma língua. Sua estrutura resulta da petrificação de uma espécie

de forro cujos elementos provêm de empréstimos, amálgamas, aglutinações, mal-entendidos

(...) A unidade de uma língua é sempre inseparável da construção de uma formação de poder.

Não se encontram nunca fronteiras nítidas nas cartas dialetais, mas somente zonas limítrofes ou

de transição. Não existe língua-mãe, mas fenômenos de retomada de poder semiótico por um

grupo, uma etnia, ou uma nação. A língua se estabiliza em torno de uma paróquia, fixa-se em

torno de um bispado, instala-se em torno de uma capital política. Evolui por fluxo ao longo dos

vales fluviais, ao longo das linhas de estradas de ferro, desloca-se em montes de carvão


F. Guattari, 1979/1988

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