IHU – Segundo o próprio Deleuze, a filosofia não possui compromisso com o consenso. Você concorda?
André Araujo – Sim, isso é bem importante. Refletia sobre essa ideia da comunicação como consenso, mas preciso também fazer essa observação de que o consenso para Deleuze é a coisa que mais produz ojeriza. Ele é um pensador que tem um paradoxo muito importante que é essa predileção por uma dimensão do conflito como alguma forma de apaziguar qualquer problema. O consenso sempre soa para Deleuze como forma de imposição de uma perspectiva dominante, por isso ele nunca vai buscar em seu pensamento uma forma de ser normativo ou como um mapeamento do modo como uma sociedade se articula e pensa.
Pelo contrário, sempre vai buscar experiências mais marginais, que estão à borda, do modo como vivemos coletivamente e que colocam em xeque os modos de vida mais estabelecidos, porque, para Deleuze, os modos de vida que temos são apenas um hábito. Não há, para ele, razão metafísica alguma para vivermos como vivemos. Há razões políticas para viver como vivemos, mas não há nada próprio no tecido do mundo que impeça que a gente constitua um modo de viver absolutamente distinto do modo como a gente vive agora.
Instituto Humanitas Usisinos, IHU, entrevista com André Araújo, julho de 2021
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