sexta-feira, 13 de setembro de 2024

SOBRE O MÉTODO DA DIFERENÇA

O  psiquiatra  se despersonaliza. Torna-se algo que se torna outra coisa.Vive nos e dos  paradoxos  da linguagem que o  empurram a encontrar  o  paciente, o  mundo,  o  cosmos.  Não  compreende o que se passa. Perplexo, interroga e interroga-se. Dança e entoa em silêncio cânticos extraídos  do fundo de  vielas existenciais. Não  busca uma  ontologia  da  psicose  e/ou  dos transtornos mentais. Ele  talvez  consiga ser  um  feiticeiro da modernidade técnica, criando linhas  de  pura alegria (ainda  e  principalmente)   nas  quedas  e surtos dos  pacientes  e  de  si  mesmo.  O método da diferença  traz essa possibilidade para o interior  da  clínica. Os fármacos podem (claro  que  sim!)  ser parceiros  numa   empreitada  sem signos  prévios. Use  e  controle  essa  droga  lícita, sabendo que   ela  pode se  tornar  ilícita  se atentar contra  a criatividade  do  viver.  Não só  a química,  mas  todo  e qualquer  objeto  pode  induzir a uma dependência  abjeta.  O  psiquiatra-feiticeiro não é esse objeto. O psiquiatra remedeiro, sim. Este se  alimenta  de subjetividades enrijecidas, esvaziadas, ocas, trastes apelidados de pacientes.É preciso um combate incessante contra a máquina farmacológica.  O  fármaco é apenas um elemento  prático-terapêutico.Um devir-feiticeiro é outra coisa, um estilo: a sensibilidade, a intuição, a percepção do invisível, o senso de observação, a escuta do silêncio, a espreita, o olhar de lince, a pele em brasa, a expressão da flor, um devir-poesia, devir-arte, etc, todo um conjunto  de dispositivos... práticos...


A.M.

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