sábado, 29 de novembro de 2025

OUTRA POLÍTICA?


1-O sistema do capital, atualizado pelas máquinas técnico-científicas, estabeleceu um regime único de verdade: o indivíduo como entidade biológica versus o Estado e o Mercado. 

2-Tudo passa a girar em torno dessas condições de vida eternizadas  pela ideia (poderosa) de progresso.

3- Uma outra política implicaria em ultrapassar a órbita do Estado-nação em favor de povos expressos em multiplicidades étnicas, culturais, políticas, espirituais, cósmicas, etc.

4- A dimensão do Coletivo na fabricação incessante de modos de sentir, perceber e fazer a Realidade: seria o fim do Império e das suas metástases nazi-fascistas.

5-Num projeto dessa ordem a Religião desapareceria em prol de  experiências espirituais sem espírito. Só o corpo em potência.

6-Muito difícil.


A.M 



Lawns by Carla Bley

MÁSCARA


Passa o tempo da face

E o prazer de mostrá-la.

Vem o tempo do só,

A rua do desgosto,

O trilho interminável

Numa estrada sem casas.

O final do espetáculo,

A sala abandonada,

O palco desmantelado.


Do que foi uma face

Resta apenas a máscara,

O retrato, a verônica,

O fantasma do espelho,

O espantalho barbeado,

A face deslavada,

Mais sulcada, mais suja,

De beijada, cuspida,

Amarrotada

Como um jornal velho.

Máscara desbotada

De carnavais passados.

Esta é a nossa cara

Escaveirada.


Até que a terra

Com sua garra

Nos rasgue a máscara



Dante Milano

quarta-feira, 26 de novembro de 2025


No início do verão às vezes faz dias encantadores em Petersburgo - claro, mornos, serenos. Como que de propósito aquele dia era um desses tais dias raros. O príncipe perambulou algum tempo a esmo. Conhecia mal a cidade. Às vezes parava nos cruzamentos das ruas diante de outros edifícios, nas praças, nas pontes; em certo momento entrou em uma padaria para descansar. Vez por outra olhava atentamente para os transeuntes com grande curiosidade; contudo, o mais das vezes não notava nem os transeuntes nem aonde exatamente estava indo. Estava em uma tensão angustiante e intranquilo e ao mesmo tempo sentia uma necessidade inusual de estar só. Queria estar só e entregar-se a essa tensão sofredora de modo absolutamente passivo, sem procurar a mínima saída. Com asco negava-se a resolver a pergunta que desabara sobre sua alma e seu coração. "E daí, por acaso eu tenho culpa de tudo isso?" - balbuciava de si para si, quase sem ter consciência das suas palavras.
(...)

Fiódor Dostoiévski

terça-feira, 25 de novembro de 2025

O AGENTE SECRETO - Trailer Oficial

AQUARELA


Da minha infância

retiro as fotografias da família

no luto diário,

os olhos invisíveis

condenando curiosidades,

o baú de preciosidades

(e traças devassas),

trancadas a cadeado,

os sonhos desenfreados,

a mística do susto,

os flagrantes,

evitados a custo,

e por fim retiro

-me do porão

com tudo o que continha minha imaginação

delirante.

Fica a vida.

Que nem parecia importante


Leila Míccolis

domingo, 23 de novembro de 2025

Ladyva - Epic Boogie Woogie Explosion with Big Band - Live

A Voz da Loucura

Através dos estudos de Foucault, observamos que ao falar da loucura, ela foi deixada de fora. Ela permanece calada enquanto falamos em seu nome. O Réu não pode se pronunciar. Fazemos apenas uma fofoca da loucura e silenciamos em sua presença.

No fim das contas, o que vimos é que a loucura foi capturada. Suas forças foram engolidas pela razão, seu modo de funcionamento foi tomado, conquistado por outro. 

A loucura é Dionísio que faz Platão tremer. A loucura é o movimento que resiste à dialética que tudo arrasta. Com Pinel e a psiquiatria, a loucura se tornou uma verdade menor, que deve ser abolida através de métodos de cura.

Tudo isso nos faz pensar que a loucura é como um estágio precoce da civilização, uma rebeldia dentro da totalidade ordenada. Afinal, só se torna louco aquele que abriga um conflito interno. E a saúde será organizar estes impulsos. 

Por isso Foucault considera a Loucura como “Ausência de Obra”. Ela é o outro lado da sociedade, seu lado errante! A força centrífuga que desordena a força social centrípeta. Ela é a força anômala (sem nomos), o movimento do esquizo (rompimento/divisão), a potência de diferenciação (quebra da identidade). A loucura mostra que tudo aquilo que a civilização quer construir é falso, tem pés de barro. 

A loucura é a negação da dialética, do progresso, da acumulação, da continuação. Ela é o questionamento de uma razão teleológica. Sim, e é exatamente por isso que Foucault se interessa pela loucura, por suas descontinuidades, suas possibilidades de pensar diferente.

Para dizer com os poetas, a loucura é um grande “Eu preferiria não”, é a recusa da obra, é a im-produção, é o processo de desacumulação.

(...)

Rafael Trindade, do site Razão Inadequada, acessado em 23/11/2025

sábado, 22 de novembro de 2025

LINHA DE FUGA


Bolsonaro está preso, mas a extrema direita nazi-fascista continua. Ela recita delírios paranóicos movidos a ódio,  ressentimento e preconceito às diferenças. É bom lembrar que isso está em toda parte, não só no Brasil.  


A.M.

700.000 almas in memoriam


 

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

SOBRE O TEMPO

A questão da pesquisa do tempo é essencialmente filosófica. Deste modo o tempo é antes de tudo o que estabelece condições reais aos modos de existência (ou de subjetivação). É o tempo da duração (Bergson) e não o tempo espacializado, de onde a ciência retira critérios para uma vida regrada, normatizada, cronometrada. Ao contrário, se o tempo é criação ou não é nada, conforme H. Bergson disse, ele é puro afeto, intensidade, aquilo que não pode ser medido, exceto para a ordem social firmar seus valores,  normas e limites. Num processo de terapia o modelo do tempo espacializado tende, sem que se note, a paralisar o desejo.


A.M.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

toda mulher é uma paisagem


a curva do sol nascente terra

invade as distâncias

viaja na linha das feiticeiras 

onde o arco-íris lambe cores

na primeira hora da manhã

e o lusco-fusco dos segredos

surge na penumbra da sala.

quem é essa mulher que decora

o universo das estrelas sem dono

e desce à margem dos tesouros

escondidos entre cometas azuis

e  cordilheiras sem precipícios.

quem me perturba as retinas

o êxtase de esperas tão lentas

com o beijo roçando as coxas

cor de seca  maciez de algodão.

quem não é pode ser não existe

nada além do sorriso criança 

antes que a madrugada finde

com o gosto dos seus líquidos.

é esta paisagem do tempo

que me move.



A.M

Carly Simon - Moonlight Serenade (Live On The Queen Mary 2)

desde que a minha vida

saiu dos trilhos

sinto que posso ir

a qualquer lugar.


Zack Magieze

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Orquestra Tabajara de Severino Araújo - CHORO DO ARCHANJO - Jards Macalé

2 - O  QUE  É  ALMA?


(Respondendo a Miguel)



"Alma" é um conceito muito antigo na história da filosofia.  Sofreu a influência de várias doutrinas religiosas, entre elas, o cristianismo.  Uma base teórica comum a situa  na relação com o corpo. Neste sentido todo o campo das ciências do homem usa a alma como conceito chave para compreender as ações humanas. No entanto, essa tradição põe a alma "fora" do corpo ou "habitando" o corpo. Alma e corpo seriam substâncias separadas, o que se conclui na visão de Descartes (1596/1650): a alma é a consciência. Acredita-se nisso até os dias atuais, exceto na obra de alguns pensadores, entre eles, Nietszche, Espinosa, Freud, Groddeck, Deleuze, Guattari e Foucault. Tais pensadores desvalorizam a consciência como causa e princípio de ação. Ela, a consciência, é tão só um efeito. Para analisar o ser humano para além da consciência, há uma hipótese legítima e necessária: o inconsciente: invisível, enigmático, intrigante, ele é um criador de mundos.  O conceito de Inconsciente substituiu o de alma. Melhor dizendo, o inconsciente é a própria alma. Força motriz (vitalidade) e  potência de subjetivação (a diferença) ele é o mais "profundo" em nós. Daí se expressar imediatamente em processos corporais e se tornar o próprio corpo. Em suma, a alma é o corpo, e mais exatamente a alma é um corpo: visível como o da medicina e invisível como o de mil outros saberes. Não menos importantes.



A.M.

domingo, 16 de novembro de 2025

Amar é sofrer. Para evitar sofrer, não se pode amar. Mas, então, sofre-se por não se amar.


Woody Allen

sábado, 15 de novembro de 2025

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

ORQUÍDEAS ETERNAS


 

O  QUE  É  O  QUE  É?

Respondendo a Miguel:


1- O QUE É CAPITALISMO? 


O capitalismo é um sistema econômico, político, social e cultural. Sua origem remete ao século XIV e XV na Europa, "evoluindo" a uma forma industrial em meados do século XIX e no século XX, o chamado capitalismo financeiro. Em tempos atuais, ao colonizar e  habitar a Terra, configura um sistema integrado (global) de dominação e constroe a  "sua" realidade, mundo do  capital como realidade natural. Para isso, mais que "econômico", ele produz subjetividades (almas)  convertidas, seduzidas ao seu modo de produção da vida e da existência. A divisão de classes, o horror econômico, a busca insana pelo lucro, a competição individual, o consumo desenfreado, a ética de destruição da natureza, a ética do "cada um por si", o financiamento científico-industrial das guerras, enfim, "tudo está demente no sistema". É, pois, difícil combater o capitalismo, já que ele nos constitui como habitantes do planeta, servos do seu poder e clientes dos seus valores, serviços e projetos.  Mas, será possível uma saída? Sim, claro.  A História continua e o Tempo é irreversível.


A.M.



terça-feira, 11 de novembro de 2025

TEMPO E VELOCIDADE


O Real tornou-se a realidade virtual. Trata-se de um processo social irreversível, assim como é o tempo. O encontro entre os corpos se faz em grande parte ( não há dados quantitativos) através a mediação da imagem. Isso se inscreve na experiência de si, mais sensível em crianças e adolescentes, mas também em adultos na recepção cerebral de estímulos ( fluxos) imagéticos. Eles vêm de todas as partes, anulando a separação interno/externo, subjetivo/objetivo, dentro/fora em prol de semiologias guiadas por equipamentos de poder. A Realidade virtual destituiu o corpo como potência inscrita no espaço-tempo dos encontros. Os fusos horários sucumbem â Hora da imagem descarnada e asséptica. Como no Admirável Mundo Novo (Huxley, 1932) todos parecem adorar esse circuito de velocidade e prazer.


A.M.

domingo, 9 de novembro de 2025

Sobre o Império de Édipo

Foi Deleuze quem disse que, tal como a revolução russa, é difícil saber quando a psicanálise começou a dar errado. Dito isso, cabe a pergunta: quando a revolução psicanalítica se tornou um estandarte para bandeiras reacionárias? Não queremos com este texto “provar” que Édipo não existe, ele está aí, é fato, é servido do café da manhã até o jantar. Através disso, produzimos neuróticos como em uma linha de montagem. 

Por isso, o objetivo é muito mais o de fazer um escracho de Édipo, encontrar as linhas de fuga que racham a máquina edípica e explodem o familismo, ou ao menos que escorrem pelo meio da máquina de moer subjetividades chamada complexo de édipo. Desta forma, talvez seja possível limpar o inconsciente deste vírus que o contamina. Retirar esta pedra angular (considerado pelo próprio Freud) da teoria psicanalítica é talvez ver suas estruturas desmoronarem e, quem sabe, se rearranjarem.

Fluxos gotejam, passam através do triângulo, separam-lhe os vértices” 

– Deleuze e Guattari, O anti-Édipo, p. 94


Do site "Razão Inadequada", acessado em 09/11/2025

sábado, 8 de novembro de 2025

Beksinski's Digital Dystopia: AI Horror Art Cinematics | # 1

O ASSINALADO


Tu és o louco da imortal loucura;

O louco da loucura mais suprema.

A terra é sempre a tua negra algema,

Prende-te nela a extrema desventura.


Mas essa mesma algema de amargura,

Mas essa mesma desventura extrema;

Faz que tu'alma suplicando gema

E rebente em estrelas de ternura.


Tu és o poeta, o grande assinalado;

Que povoas o mundo despovoado

De belezas eternas, pouco á pouco.


Na natureza prodigiosa e rica,

Toda a audácia dos nervos justifica,

Os teus espasmos imortais de louco.


Cruz e Sousa

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

O povo apoia a chacina do Rio? - Pastor Henrique Vieira - Programa 20 Mi...

O QUE É A MENTE?  parte 2


1- Na clínica em psicopatologia (ou para além dela) é possível afirmar  que o delírio vem do social. Atribuir ao cérebro a origem do delírio não só é um equívoco etiológico como também um pretexto para que a psiquiatria atual funcione como serva da máquina de poder disfarçada de ciência neurobiológica. 

2- A linha (percurso) do delírio do social até a forma de expressão num discurso individual torna-se possível porque a mente é um sistema conceitual aberto; abarca múltiplas realidades, determinações que efetuam uma variação contínua e subjetiva (afetiva).

3-Desse modo, a pesquisa da mente é correlata à pesquisa do delírio; isso porque a questão da verdade está no centro da discussão; qual é a verdade? existe uma verdade única? a mente acredita em delírios?

4-Ora, a mente é o delírio do universo; exposta aos fluxos de signos de toda ordem ( sociais, pessoais, familiares, religiosos, éticos, políticos, históricos, espirituais, etc) a mente é ela própria delirante mesmo que não esteja a delirar; ou que não pareça delirar.

5-Observe: tudo pode estar nos trilhos (uma marcha militar impecável, operários numa linha reta de montagem, servos ajoelhados diante do um chefão impassivel, fiéis num grupo rezando etc) : a depender de uma visão de perspectiva, de uma análise de desejo, tudo isso poderá ser considerado delirante.

6-Eis pois a máquina social que nos dias atuais é a máquina do capital; ela codifica a experiência do universo em prol de um único sistema de valores econômicos e semióticos: o Deus-capital.

7-A linguagem é uma instituição muito antiga. Ela chega de fora e produz a mente; o cérebro não produz a  linguagem: é o inverso; no entanto, ele é condição orgânica (biológica) para a expressão subjetiva:  representa, replica, informa e comunica; mas não pensa.

8-O pensamento, composto de afetos recolhidos do universo, é um pathos ( sensibilidade), ato (veloz) de pensar, prática de corpo, fazedor de mundos, sentido de vida.

9-Só que é muito difícil pensar; normalmente se pensa que pensa; nada, nada, só uma pálida representação do real.

10- Isso porque a máquina do capital, aliada da ciência e da tecnologia (instituições de grande prestígio social), impede a mente de exercer a sua função de pensar: por isso a adoram.


A.M

terça-feira, 4 de novembro de 2025

CARGOS SECRETOS

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) inicia hoje o julgamento que pode levar à cassação do mandato e à inelegibilidade do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), por um esquema de criação de cargos secretos no estado, revelado por uma série de reportagens do UOL.

Castro é acusado de abuso de poder político e econômico. Há outros 12 réus na ação, incluindo o presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), Rodrigo Bacellar (União Brasil), e o então vice-governador Thiago Pampolha (MDB), que deixou o cargo em maio deste ano para assumir uma vaga de conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado).

(...)

Do UOl, acessado em 04/11/2025


 

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

UM GIRASSOL DA COR DO SEU CABELO - LÔ BORGES

Subjetividade nazi - fascista à brasileira


Pensar a formação histórico-patriarcal brasileira inscrita na Realidade é condição para compreender a subjetividade (ou subjetivação) atual.

Subjetivar o mundo objetivo e objetivar linhas subjetivas. Isso se equivale. É que não existe o indivíduo com um ser isolado, autônomo. 

Existem processos (linhas) existenciais com expressão prática  sócio-desejante.  Mil afetos.

Vêm da Itália ( 1922) e da Alemanha (1933) processos existenciais de base política que eram chamados de fascismo e nazismo

Apesar do fascismo e do nazismo terem sido derrotados na segunda guerra, os sentimentos que eles evocam sobrevivem. 

Com máscaras. 

Tais sentimentos se abrigam na chamada direita ou mais precisamente na extrema direita. Mas ninguém, óbvio, quer ser chamado de fascista e/ou nazista.

Eles habitam a Cloaca brasileira: católicos, evangélicos, liberais, empresários, conservadores e outros menos votados.


A.M.


sábado, 1 de novembro de 2025

The twilight zone 1x14 // Examination day - Legendado PT

LINGUAGEM  INGÊNUA

A escrita rizomática ( Deleuze/Guattari ) é uma escrita sem centro, sem tema fixo, sem razão e sem explicações a dar. É uma escrita em processo. Não busca reconhecimento e/ou salvação. Significa dizer que vive no tempo do inacabado e  se alimenta de intensidades móveis. Por fim, que é o meio, recolhe fluxos de signos da ética e da política. 

Isso a faz viver.


A.M.

Como combater o crime organizado?