Este blog busca problematizar a Realidade mediante a expressão de linhas múltiplas e signos dispersos.
domingo, 30 de novembro de 2025
sábado, 29 de novembro de 2025
OUTRA POLÍTICA?
1-O sistema do capital, atualizado pelas máquinas técnico-científicas, estabeleceu um regime único de verdade: o indivíduo como entidade biológica versus o Estado e o Mercado.
2-Tudo passa a girar em torno dessas condições de vida eternizadas pela ideia (poderosa) de progresso.
3- Uma outra política implicaria em ultrapassar a órbita do Estado-nação em favor de povos expressos em multiplicidades étnicas, culturais, políticas, espirituais, cósmicas, etc.
4- A dimensão do Coletivo na fabricação incessante de modos de sentir, perceber e fazer a Realidade: seria o fim do Império e das suas metástases nazi-fascistas.
5-Num projeto dessa ordem a Religião desapareceria em prol de experiências espirituais sem espírito. Só o corpo em potência.
6-Muito difícil.
A.M
MÁSCARA
Passa o tempo da face
E o prazer de mostrá-la.
Vem o tempo do só,
A rua do desgosto,
O trilho interminável
Numa estrada sem casas.
O final do espetáculo,
A sala abandonada,
O palco desmantelado.
Do que foi uma face
Resta apenas a máscara,
O retrato, a verônica,
O fantasma do espelho,
O espantalho barbeado,
A face deslavada,
Mais sulcada, mais suja,
De beijada, cuspida,
Amarrotada
Como um jornal velho.
Máscara desbotada
De carnavais passados.
Esta é a nossa cara
Escaveirada.
Até que a terra
Com sua garra
Nos rasgue a máscara
Dante Milano
quinta-feira, 27 de novembro de 2025
quarta-feira, 26 de novembro de 2025
terça-feira, 25 de novembro de 2025
AQUARELA
Da minha infância
retiro as fotografias da família
no luto diário,
os olhos invisíveis
condenando curiosidades,
o baú de preciosidades
(e traças devassas),
trancadas a cadeado,
os sonhos desenfreados,
a mística do susto,
os flagrantes,
evitados a custo,
e por fim retiro
-me do porão
com tudo o que continha minha imaginação
delirante.
Fica a vida.
Que nem parecia importante
Leila Míccolis
domingo, 23 de novembro de 2025
A Voz da Loucura
Através dos estudos de Foucault, observamos que ao falar da loucura, ela foi deixada de fora. Ela permanece calada enquanto falamos em seu nome. O Réu não pode se pronunciar. Fazemos apenas uma fofoca da loucura e silenciamos em sua presença.
No fim das contas, o que vimos é que a loucura foi capturada. Suas forças foram engolidas pela razão, seu modo de funcionamento foi tomado, conquistado por outro.
A loucura é Dionísio que faz Platão tremer. A loucura é o movimento que resiste à dialética que tudo arrasta. Com Pinel e a psiquiatria, a loucura se tornou uma verdade menor, que deve ser abolida através de métodos de cura.
Tudo isso nos faz pensar que a loucura é como um estágio precoce da civilização, uma rebeldia dentro da totalidade ordenada. Afinal, só se torna louco aquele que abriga um conflito interno. E a saúde será organizar estes impulsos.
Por isso Foucault considera a Loucura como “Ausência de Obra”. Ela é o outro lado da sociedade, seu lado errante! A força centrífuga que desordena a força social centrípeta. Ela é a força anômala (sem nomos), o movimento do esquizo (rompimento/divisão), a potência de diferenciação (quebra da identidade). A loucura mostra que tudo aquilo que a civilização quer construir é falso, tem pés de barro.
A loucura é a negação da dialética, do progresso, da acumulação, da continuação. Ela é o questionamento de uma razão teleológica. Sim, e é exatamente por isso que Foucault se interessa pela loucura, por suas descontinuidades, suas possibilidades de pensar diferente.
Para dizer com os poetas, a loucura é um grande “Eu preferiria não”, é a recusa da obra, é a im-produção, é o processo de desacumulação.
(...)
Rafael Trindade, do site Razão Inadequada, acessado em 23/11/2025
sábado, 22 de novembro de 2025
quinta-feira, 20 de novembro de 2025
SOBRE O TEMPO
A questão da pesquisa do tempo é essencialmente filosófica. Deste modo o tempo é antes de tudo o que estabelece condições reais aos modos de existência (ou de subjetivação). É o tempo da duração (Bergson) e não o tempo espacializado, de onde a ciência retira critérios para uma vida regrada, normatizada, cronometrada. Ao contrário, se o tempo é criação ou não é nada, conforme H. Bergson disse, ele é puro afeto, intensidade, aquilo que não pode ser medido, exceto para a ordem social firmar seus valores, normas e limites. Num processo de terapia o modelo do tempo espacializado tende, sem que se note, a paralisar o desejo.
A.M.
quarta-feira, 19 de novembro de 2025
terça-feira, 18 de novembro de 2025
toda mulher é uma paisagem
a curva do sol nascente terra
invade as distâncias
viaja na linha das feiticeiras
onde o arco-íris lambe cores
na primeira hora da manhã
e o lusco-fusco dos segredos
surge na penumbra da sala.
quem é essa mulher que decora
o universo das estrelas sem dono
e desce à margem dos tesouros
escondidos entre cometas azuis
e cordilheiras sem precipícios.
quem me perturba as retinas
o êxtase de esperas tão lentas
com o beijo roçando as coxas
cor de seca maciez de algodão.
quem não é pode ser não existe
nada além do sorriso criança
antes que a madrugada finde
com o gosto dos seus líquidos.
é esta paisagem do tempo
que me move.
A.M
segunda-feira, 17 de novembro de 2025
2 - O QUE É ALMA?
domingo, 16 de novembro de 2025
sexta-feira, 14 de novembro de 2025
O QUE É O QUE É?
Respondendo a Miguel:
1- O QUE É CAPITALISMO?
O capitalismo é um sistema econômico, político, social e cultural. Sua origem remete ao século XIV e XV na Europa, "evoluindo" a uma forma industrial em meados do século XIX e no século XX, o chamado capitalismo financeiro. Em tempos atuais, ao colonizar e habitar a Terra, configura um sistema integrado (global) de dominação e constroe a "sua" realidade, mundo do capital como realidade natural. Para isso, mais que "econômico", ele produz subjetividades (almas) convertidas, seduzidas ao seu modo de produção da vida e da existência. A divisão de classes, o horror econômico, a busca insana pelo lucro, a competição individual, o consumo desenfreado, a ética de destruição da natureza, a ética do "cada um por si", o financiamento científico-industrial das guerras, enfim, "tudo está demente no sistema". É, pois, difícil combater o capitalismo, já que ele nos constitui como habitantes do planeta, servos do seu poder e clientes dos seus valores, serviços e projetos. Mas, será possível uma saída? Sim, claro. A História continua e o Tempo é irreversível.
A.M.
quarta-feira, 12 de novembro de 2025
terça-feira, 11 de novembro de 2025
TEMPO E VELOCIDADE
O Real tornou-se a realidade virtual. Trata-se de um processo social irreversível, assim como é o tempo. O encontro entre os corpos se faz em grande parte ( não há dados quantitativos) através a mediação da imagem. Isso se inscreve na experiência de si, mais sensível em crianças e adolescentes, mas também em adultos na recepção cerebral de estímulos ( fluxos) imagéticos. Eles vêm de todas as partes, anulando a separação interno/externo, subjetivo/objetivo, dentro/fora em prol de semiologias guiadas por equipamentos de poder. A Realidade virtual destituiu o corpo como potência inscrita no espaço-tempo dos encontros. Os fusos horários sucumbem â Hora da imagem descarnada e asséptica. Como no Admirável Mundo Novo (Huxley, 1932) todos parecem adorar esse circuito de velocidade e prazer.
A.M.
segunda-feira, 10 de novembro de 2025
domingo, 9 de novembro de 2025
Sobre o Império de Édipo
Foi Deleuze quem disse que, tal como a revolução russa, é difícil saber quando a psicanálise começou a dar errado. Dito isso, cabe a pergunta: quando a revolução psicanalítica se tornou um estandarte para bandeiras reacionárias? Não queremos com este texto “provar” que Édipo não existe, ele está aí, é fato, é servido do café da manhã até o jantar. Através disso, produzimos neuróticos como em uma linha de montagem.
Por isso, o objetivo é muito mais o de fazer um escracho de Édipo, encontrar as linhas de fuga que racham a máquina edípica e explodem o familismo, ou ao menos que escorrem pelo meio da máquina de moer subjetividades chamada complexo de édipo. Desta forma, talvez seja possível limpar o inconsciente deste vírus que o contamina. Retirar esta pedra angular (considerado pelo próprio Freud) da teoria psicanalítica é talvez ver suas estruturas desmoronarem e, quem sabe, se rearranjarem.
Fluxos gotejam, passam através do triângulo, separam-lhe os vértices”
– Deleuze e Guattari, O anti-Édipo, p. 94
Do site "Razão Inadequada", acessado em 09/11/2025
sábado, 8 de novembro de 2025
O ASSINALADO
Tu és o louco da imortal loucura;
O louco da loucura mais suprema.
A terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema desventura.
Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma desventura extrema;
Faz que tu'alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.
Tu és o poeta, o grande assinalado;
Que povoas o mundo despovoado
De belezas eternas, pouco á pouco.
Na natureza prodigiosa e rica,
Toda a audácia dos nervos justifica,
Os teus espasmos imortais de louco.
Cruz e Sousa
sexta-feira, 7 de novembro de 2025
O QUE É A MENTE? parte 2
1- Na clínica em psicopatologia (ou para além dela) é possível afirmar que o delírio vem do social. Atribuir ao cérebro a origem do delírio não só é um equívoco etiológico como também um pretexto para que a psiquiatria atual funcione como serva da máquina de poder disfarçada de ciência neurobiológica.
2- A linha (percurso) do delírio do social até a forma de expressão num discurso individual torna-se possível porque a mente é um sistema conceitual aberto; abarca múltiplas realidades, determinações que efetuam uma variação contínua e subjetiva (afetiva).
3-Desse modo, a pesquisa da mente é correlata à pesquisa do delírio; isso porque a questão da verdade está no centro da discussão; qual é a verdade? existe uma verdade única? a mente acredita em delírios?
4-Ora, a mente é o delírio do universo; exposta aos fluxos de signos de toda ordem ( sociais, pessoais, familiares, religiosos, éticos, políticos, históricos, espirituais, etc) a mente é ela própria delirante mesmo que não esteja a delirar; ou que não pareça delirar.
5-Observe: tudo pode estar nos trilhos (uma marcha militar impecável, operários numa linha reta de montagem, servos ajoelhados diante do um chefão impassivel, fiéis num grupo rezando etc) : a depender de uma visão de perspectiva, de uma análise de desejo, tudo isso poderá ser considerado delirante.
6-Eis pois a máquina social que nos dias atuais é a máquina do capital; ela codifica a experiência do universo em prol de um único sistema de valores econômicos e semióticos: o Deus-capital.
7-A linguagem é uma instituição muito antiga. Ela chega de fora e produz a mente; o cérebro não produz a linguagem: é o inverso; no entanto, ele é condição orgânica (biológica) para a expressão subjetiva: representa, replica, informa e comunica; mas não pensa.
8-O pensamento, composto de afetos recolhidos do universo, é um pathos ( sensibilidade), ato (veloz) de pensar, prática de corpo, fazedor de mundos, sentido de vida.
9-Só que é muito difícil pensar; normalmente se pensa que pensa; nada, nada, só uma pálida representação do real.
10- Isso porque a máquina do capital, aliada da ciência e da tecnologia (instituições de grande prestígio social), impede a mente de exercer a sua função de pensar: por isso a adoram.
A.M
terça-feira, 4 de novembro de 2025
CARGOS SECRETOS
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) inicia hoje o julgamento que pode levar à cassação do mandato e à inelegibilidade do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), por um esquema de criação de cargos secretos no estado, revelado por uma série de reportagens do UOL.
Castro é acusado de abuso de poder político e econômico. Há outros 12 réus na ação, incluindo o presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), Rodrigo Bacellar (União Brasil), e o então vice-governador Thiago Pampolha (MDB), que deixou o cargo em maio deste ano para assumir uma vaga de conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado).
(...)
Do UOl, acessado em 04/11/2025
segunda-feira, 3 de novembro de 2025
Subjetividade nazi - fascista à brasileira
Pensar a formação histórico-patriarcal brasileira inscrita na Realidade é condição para compreender a subjetividade (ou subjetivação) atual.
Subjetivar o mundo objetivo e objetivar linhas subjetivas. Isso se equivale. É que não existe o indivíduo com um ser isolado, autônomo.
Existem processos (linhas) existenciais com expressão prática sócio-desejante. Mil afetos.
Vêm da Itália ( 1922) e da Alemanha (1933) processos existenciais de base política que eram chamados de fascismo e nazismo.
Apesar do fascismo e do nazismo terem sido derrotados na segunda guerra, os sentimentos que eles evocam sobrevivem.
Com máscaras.
Tais sentimentos se abrigam na chamada direita ou mais precisamente na extrema direita. Mas ninguém, óbvio, quer ser chamado de fascista e/ou nazista.
Eles habitam a Cloaca brasileira: católicos, evangélicos, liberais, empresários, conservadores e outros menos votados.
A.M.
sábado, 1 de novembro de 2025
LINGUAGEM INGÊNUA
A escrita rizomática ( Deleuze/Guattari ) é uma escrita sem centro, sem tema fixo, sem razão e sem explicações a dar. É uma escrita em processo. Não busca reconhecimento e/ou salvação. Significa dizer que vive no tempo do inacabado e se alimenta de intensidades móveis. Por fim, que é o meio, recolhe fluxos de signos da ética e da política.
Isso a faz viver.
A.M.

