sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A FAVOR DO VOTO CONTRA

Millôr Fernandes, que a cada dia está mais atual e inteligente, teve uma ótima ideia para democratizar o nosso sistema eleitoral, infelizmente nunca aplicada ou sequer proposta: o voto contra. O eleitor teria direito a dois votos, um no seu candidato preferido, e outro contra quem considerasse indigno de um cargo publico e nocivo à sociedade, um direito tão democrático como eleger um representante.

No final das contas, entre os prós e os contra, talvez não melhorasse muito o nível dos eleitos, mas muitos notórios malfeitores travestidos de políticos, que compram apoios e usam dinheiro sujo para fraudar as eleições, que buscam um mandato para fugir da Justiça, ficariam fora do poder. Economizaríamos tempo e dinheiro dos longos processos de cassação do TSE, sairia mais barato prevenir do que remediar.

Nos Estados Unidos, como fazem com automóveis, os eleitores têm direito a um recall de políticos que estão dando defeito. Seja por traição ao eleitorado com promessas não cumpridas, escândalos de corrupção, irresponsabilidade fiscal ou ineficiência administrativa, um recall pode ser proposto na Justiça e o elemento, democraticamente, ser cassado se assim quiser a maioria. Vários eleitos com grandes votações já foram enxotados no meio do mandato.

Em sua clarividência, Millôr talvez imaginasse o Brasil atual, onde parece haver mais vontade de votar contra do que a favor. O voto contra seria uma alternativa mais eficiente e democrática ao voto branco ou nulo — um protesto inútil que acaba beneficiando os que lideram a votação.

É triste, mas hoje no Brasil, mais do que as qualidades e propostas dos candidatos, o fator mais importante na definição das eleições pode ser a quantidade de abstenções, brancos e nulos. Entre os 70% de descontentes, a maior parte dos que vão votar em Aécio Neves quer é se livrar de Dilma e do PT. Entre os que estão descontentes, mas votam em Dilma, a maioria odeia Aécio e os tucanos mais do que gosta dela e de seu governo.

Se a ideia de Millôr estivesse em vigor, Marina Silva seria eleita no primeiro turno. Ou iria para o segundo com o Pastor Everaldo.

Nelson Motta

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