quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A FANTÁSTICA FÁBRICA DAS DEPRESSÕES

Tenho atendido muitos pacientes que já chegam com o diagnóstico de Depressão. Tal diagnóstico, é claro, lhes foi imposto por psiquiatras apaixonados pelo ato de passar remédio. É como se fizessem (aos pacientes) dizer a priori: "Eu sou a Depressão". Esta é uma espécie de  identidade factícia que tampona um "vazio" subjetivo de múltiplas causas e linhas existenciais heterogêneas. Ora, tal diagnóstico irá referendar o uso indiscriminado de psicofármacos. A crença instilada na mente do  paciente é a de que o remédio químico irá curá-lo, ainda que a palavra "cura" possa não ser usada. Ela circula implícita, mas não menos atuante na produção da morbidade do século. Depressão! Fico sabendo dessas histórias de terror clínico e homicídio psíquico através dos próprios pacientes, quando dos relatos anamnésticos. Me pergunto: o que pensar? O essencial a reter é: 1-Há vários tipos de depressão que não se coadunam com as categorias semiológicas da CID-10; 2-Por exemplo, depressões com indicação exclusiva para psicoterapia; 3-A depressão grave (antiga endógena) tem indicação para a farmacoterapia, desde que haja suporte psicológico do próprio psiquiatra, o que não significa psicoterapia no sentido usual. Quero dizer que o remédio químico, por melhor e mais "avançado" que seja, é insuficiente para o Encontro com o deprimido; 4-Há pessoas não deprimidas diagnosticadas como deprimidas. Talvez, sob a palavra de ordem do psiquiatra travestida de ajuda clínica,tornem-se, enfim, deprimidas for ever. 5-A depressão não é uma entidade clínica ou uma essência do ser-doente, mas uma síndrome psíquica gestada por múltiplos vetores etiológicos que é preciso pesquisar; 6- A depressão pode estar no mundo e não no paciente...

A.M.

Um comentário: