CONSCIÊNCIA PESADA
(...) Os guardiões conceituais do "diagnóstico-essência" são a consciência e o eu. Sob tais conceitos estamos sempre tentando desalienar e esclarecer o paciente (caso da consciência) e/ou adestrá-lo ou adaptá-lo ao pragmatismo social (caso do eu). Pode-se perguntar se a função dos técnicos em saúde mental não seria exatamente essa: incluir o portador de transtorno mental na sociedade que o rejeita, conforme o ideário da Reforma Psiquiátrica. Nesse ponto, uma questão ético-política se impõe.Primeiramente, a ética: a vida está sendo promovida, exaltada, aumentada em suas capacidades de intensificação, expansão, criação? Segundo, a política: que forças, ou que complexos de forças se apoderam do paciente enquanto subjetividade? A consciência e o eu são funções psíquicas secundárias a essas dimensões existenciais e não o contrário. Elas não são coisas, essências, substâncias, fundamentos. São efeitos de devires e potências que as atravessam sem cessar, em busca de uma afirmação plena.Assim, a clínica, antes que técnica, é ético-política. A consciência não existe. O eu não existe. No entanto, são ficções reais, que convencem os próprios portadores de pesos subjetivos milenares, os transtornados da mente.
(...)
A.M. in Trair a psiquiatria
Nenhum comentário:
Postar um comentário