CONTRA O PODER DA LINGUAGEM
O que é uma semiótica, isto é, um regime de signos ou uma formalização
de expressão? São ao mesmo tempo mais e menos do que a linguagem. A
linguagem se define por sua condição de "sobrelinearidade"; as línguas se
definem por constantes, elementos e relações de ordem fonológica, sintática
e semântica. E sem dúvida cada regime de signos efetua a condição da
linguagem e se utiliza dos elementos da língua, mas nada além disso.
Nenhum regime pode se identificar à própria condição, nem ter a
propriedade das constantes. Como Foucault bem aponta, os regimes de
signos são somente funções de existência da linguagem, que ora passam por
línguas diversas, ora se distribuem em uma mesma língua, e que não se
confundem nem com uma estrutura nem com unidades dessa ou daquela
ordem, mas as cruza e as faz surgir no espaço e no tempo. É nesse sentido
que os regimes de signos são agenciamentos de enunciação dos quais
nenhuma categoria lingüística consegue dar conta: o que faz de uma
proposição ou mesmo de uma simples palavra um "enunciado" remete a
pressupostos implícitos, não-explicitáveis, que mobilizam variáveis
pragmáticas próprias à enunciação (transformações incorpóreas). Exclui-se,
então, a idéia de o agenciamento poder ser explicado pelo significante, ou
antes pelo sujeito, já que esses remetem, ao contrário, às variáveis de
enunciação no agenciamento. É a significância ou a subjetivação que
supõem um agenciamento, não o inverso.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil platôs, vol 4
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