SEM UTILIDADE
O paradoxo da poesia consiste no seguinte: o poeta coloca a serviço de uma atividade – a atividade
poética – uma disposição que nega todo valor à atividade – quaisquer que sejam suas formas – e que não
tem mais sentido quando serve para alguma coisa. Ele anseia por se perder para se achar como
colecionador de palavras e criador de mitos. (...) Uma tal conseqüência não pode deixar de ser
insuportável para ele. Se a poesia é a mortificação das formas e dos valores de utilidade, não é possível
que um homem, beneficiário do gênio poético, sonhe em "utilizá-la‟, em fazer dela um bem próprio,
explorando-a como um reino ou uma conquista pessoal. É necessário obter dele o reconhecimento de que
esse gênio não lhe pertence; o dom não é dado a ninguém porque ninguém poderia usá-lo como se o
tivesse como uma propriedade sua.
(...)
Maurice Blanchot
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