A NOVA GUERRA FRIA
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“Com a chegada de Trump ao poder, o esquema volta a funcionar de forma muito precisa. Trump não tem qualquer interesse no desarmamento nuclear, não tem intenção de propor nada. Obama sempre propunha coisas, novos tratados de armas táticas, de armas estratégicas ofensivas, mas Trump não, e agora, dentro do modelo clássico dos republicanos diante da URSS, foi colocado em andamento um ambicioso plano de renovação de armas nucleares estratégicas e táticas e defesa antimísseis. Aqui, os nossos (Rússia) não compreenderam. Acreditam que a arma nuclear é o principal elemento de prestígio, um símbolo de status da Rússia no mundo”.
A Rússia já está engajada em uma corrida armamentista contra os Estados Unidos, que pode ser “mais difícil, cara e perigosa do que a corrida armamentista da Guerra Fria”. Na realidade trata-se de vários processos, tais como uma corrida pela renovação das forças estratégicas no marco do novo tratado de forças estratégicas ofensivas, assinado em 2010; outra corrida entre as forças nucleares ofensivas russas e o sistema de defesa antimísseis norte-americano; e outra competição mais pelos sistemas de mísseis de precisão de longo alcance com cargas convencionais, inclusive as que no futuro superarão a velocidade do som. Existe ainda uma corrida entre a defesa aérea cósmica russa e os meios norte-americanos de ataque aéreo cósmico. Esta competição múltipla, de “canais de armas ofensivas e defensivas, nucleares e não nucleares”, não existia nos anos da Guerra Fria, segundo Arbatov. “Putin pensava que Trump, que criticava Obama, logo o visitaria em Moscou, reconheceria que os Estados Unidos se enganaram, que se abraçariam, ficariam amigos e acabariam com as sanções. É preciso conhecer o sistema político norte-americano para saber que isso não é possível”, afirma. “O presidente Putin quer conter a escalada da Guerra Fria, mas sem fazer nenhuma concessão séria, porque o que ele mais teme é parecer fraco e assim não há resultado”, diz Arbatov (*)
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Pilar Bonet, El País, Moscou, 30/05/2017, 11:28 hs
(*) Alexei Arbatov, cientista político russo.
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