domingo, 14 de maio de 2017

FLUXOS DO DESEJO
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De maneira profunda, Lawrence mostra que a sexualidade, incluindo a castidade, é uma questão de fluxos, “uma infinidade de fluxos diferentes e até opostos”. Tudo depende da maneira como esses fluxos, seja qual for o objeto, a fonte e o objetivo, são codificados e cortados segundo figuras constantes ou, ao contrário, tomados em cadeias de descodificação que os recortam segundo pontos móveis e não figurativos (os fluxos-esquizas). Lawrence critica a pobreza das imagens idênticas imutáveis, papéis figurativos que são outros tantos estrangulamentos dos fluxos de sexualidade: “noiva, amante, mulher, mãe” — poder-se-ia também dizer “homossexuais, heterossexuais” etc. — todos esses papéis são distribuídos pelo triângulo edipiano pai-mãe-eu, um eu representativo que se supõe definir-se em função das representações pai-mãe, por fixação, regressão, assunção, sublimação — e tudo isso sob que regra? A regra do grande Falo que ninguém possui, significante despótico que anima a luta mais miserável, a ausência comum a todas as exclusões recíprocas em que os fluxos se exaurem, ressecados pela má consciência e pelo ressentimento. “Por exemplo, colocar a mulher num pedestal, ou, ao contrário, torná- -la indigna de alguma consideração: fazer dela uma dona de casa modelo, uma mãe ou uma esposa modelo, são simplesmente meios para nos esquivarmos a qualquer contato com ela. Uma mulher não figura alguma coisa, ela não é uma personalidade distinta e definida... Uma mulher é uma estranha e doce vibração do ar, que avança, inconsciente e ignorada, em busca de uma vibração que lhe responda. Ou então é uma vibração penosa, discordante e desagradável ao ouvido, que avança ferindo todos os que se encontram ao seu alcance. E o mesmo pode ser dito do homem”.
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G. Deleuze e F. Guattari in O anti-édipo

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