10 ANOS DE CAPS: RELATOS DO TEMPO- 15
26 de setembro de 2013
O encontro com o Caps produziu uma fissura clínica e teórica em certezas médicas. Que, apesar de tudo, eu ainda carregava. Por extensão a face do psiquiatra foi redesenhada na receita branca. Ou na azul, tanto faz. Quem sou? À medida em que crescia a demanda, os casos se complicavam, tanto na etiologia quanto numa semiologia clínica. O que se passa? O campo das psicoses foi o que mais expressou mudanças. Um conjunto de dados psicopatológicos viria compor enigmas a esclarecer; é psicose? de que tipo? como intervir? o que fazer? será preciso internar? O conceito de psicose mudara tanto ao ponto de dizer o que só outras patologias diziam. Tal foi e é o caso da histeria, encoberta muitas vezes por sintomas psicóticos. Mas para além das psicoses e da sua dúvida implícita (o que é isso?), as síndromes depressivas tomaram de assalto o vasto leque das patologias mentais. Mil, cem mil depressões, e mil, cem mil psicoses na linha tênue de uma clínica do real caótico. O discurso raso da psiquiatria não mais funcionava. No seu lugar o cuidado em saúde mental se esboçou como prática em saúde mental. Prática de vida. Compreendi, então, através da carne dos dias e no rosto mortificado dos pacientes graves que a identidade do ser-psiquiatra restaria abalada. Para sempre.
A.M.
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