sábado, 14 de novembro de 2020

Tempo  de  eleição


Chega  a  hora   das  eleições, mas o tempo  não passa. Ou, pelo  menos, não salta, digamos, para um outro  universo de sentido, onde o homem  comum possa  dizer: “enfim, algo  novo”. Ora, o homem “comum” é  o da  cidade e também do campo, o que  está  em contato  com a   experiência  do  cotidiano-dia-e-noite ( trabalho,  ruas,  matas,  estradas,  serviços, casas,  etc) e por  isso  expressão  de  um tempo  que  não  passa. Mas  que, apesar  de  tudo, passa.  Inútil esconder:  fluxos de toda ordem circulam sem cessar. Isso escorre, isso flui...

Desse modo, há um terrível  paradoxo no  cumprimento de uma espécie de sobrevida  para viver,  inverso do desejo de viver, ou apenas  viver por e para viver.

Chega  a Hora. 

Como escolher se não há escolha?

Escolher um candidato  passa  a ser uma ação  que  oscila  no mercado  das  ofertas  clientelísticas  conforme  razões  de  mando e comando  do poder  econômico  em sua face  mais risonha (todos  riem na foto)  e  cínica. Com os  pobres, os  inferiores, os  miseráveis, os párias, a palavra vira  repetição cega e automática. Ou não  vira, não vira  (no sentido  em que  se diz “esse   carro não  vira”), permanecendo em seu  lugar a ladainha interminável da servidão moderna.

No fim, que é o começo, não só a  Cidade  é  enfeada e desfigurada,  com  banners, fotos de bandidos honestos, signos do horror melífluo... não, não! Ao contrário, é  toda  a  cena  da  disputa  que se escancara, via mídia, onde você  decide,  cidadão, a  não decidir.


 A.M.


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