Tempo de eleição
Chega a hora das eleições, mas o tempo não passa. Ou, pelo menos, não salta, digamos, para um outro universo de sentido, onde o homem comum possa dizer: “enfim, algo novo”. Ora, o homem “comum” é o da cidade e também do campo, o que está em contato com a experiência do cotidiano-dia-e-noite ( trabalho, ruas, matas, estradas, serviços, casas, etc) e por isso expressão de um tempo que não passa. Mas que, apesar de tudo, passa. Inútil esconder: fluxos de toda ordem circulam sem cessar. Isso escorre, isso flui...
Desse modo, há um terrível paradoxo no cumprimento de uma espécie de sobrevida para viver, inverso do desejo de viver, ou apenas viver por e para viver.
Chega a Hora.
Como escolher se não há escolha?
Escolher um candidato passa a ser uma ação que oscila no mercado das ofertas clientelísticas conforme razões de mando e comando do poder econômico em sua face mais risonha (todos riem na foto) e cínica. Com os pobres, os inferiores, os miseráveis, os párias, a palavra vira repetição cega e automática. Ou não vira, não vira (no sentido em que se diz “esse carro não vira”), permanecendo em seu lugar a ladainha interminável da servidão moderna.
No fim, que é o começo, não só a Cidade é enfeada e desfigurada, com banners, fotos de bandidos honestos, signos do horror melífluo... não, não! Ao contrário, é toda a cena da disputa que se escancara, via mídia, onde você decide, cidadão, a não decidir.
A.M.
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