APOCALIPSE, NÃO?
As tecnologias da imagem, veiculadas pelos equipamentos de informação e comunicação (internet, celulares, TVs, etc) produzem formas de sentir, perceber, pensar e agir que chamamos de subjetividade contemporânea. Este fato atualíssimo alterou profundamente a consciência, o eu, a razão, valores, códigos, afetos, enfim, elementos psíquicos que respondiam pelo que outrora se chamava "pessoa". O "mundo interno", então constituído como território existencial de si mesmo, espécie de autonomia individual do ser-no-mundo, se desfez, se desfaz e desmorona a olhos vistos. Simples: considere o aumento da morbidade dos transtornos mentais. A fenomenologia e todas as doutrinas do pensamento calcadas no poder da consciência (inclusive o materialismo histórico) ruiram sob o efeitos da era da Tecnologia, ao que parece irreversível. Veio para ficar. Nós não somos mais nós mesmos. De toda a parte as notícias e os comunicados chegam como recheio subjetivo para fatos, situações, tragédias, acontecimentos que não nos dizem respeito e ao mesmo tempo nos dizem respeito. O tempo não é mais a temporalidade de uma vivência e sim, ao contrário, a vivência é que está no Tempo Mundial (que importam os fusos horários?) e transfigura em éter o que era tão certo como este corpo-aqui-visível-de-carne. Há uma rachadura nas certezas do eu. As crenças vacilam. O virtual é o real. Não mais existe "o tempo vivido", mas o tempo mundial descarnado, evaporado, codificado, por exemplo, em mensagens do zap, a confluir naquilo que Virilio chama de cataclísma. Uma velocidade estonteante do tempo desconcerta a todos, mesmo quem não o saiba.Trata-se de uma mudança "espiritual" muito mais profunda do que se imagina, já que as comodidades objetivas (o mundo-em-mim-sem-sair-de-casa) escondem e legitimam a vertigem da loucura do cotidiano normal. Não mais é possível a nostalgia de tempos idos (bons tempos!) sob pena de afundarmos numa depressão coletiva. O que fazer? Não se tem a menor idéia! Em suma, as tecnologias da imagem nos fabricam à sua imagem e semelhança qual um deus profano que se expressa e se impõe pela ubiquidade, simultaneidade e pelo desaparecimento do passado e do futuro, portanto, da História. Se há um devir-revolucionário (sempre há!) ele é tragado pelas ondas gigantescas das imagens planetárias. Um novo conservadorismo sóciopolítico emerge; a direita se reveste de ciência triunfante. O axioma do progresso técnico se afirma como religião do capital. A busca de referências de sentido muitas vezes se instalam em fascismos políticos ou religiosos. Ou as duas coisas.Todos rezam.
A.M.
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