PSIQUIATRIA DEPRIMIDA
A psicopatologia é uma ferramenta essencial da psiquiatria clínica.Ou, pelo menos, deveria ser. Mais, ainda, a etiologia (causa) dos transtornos também deveria. No entanto, em neurotempos atuais ocorre o inverso. Não se fala e não se faz pesquisa psicopatológica e/ou etiológica. Só há transtornos mentais de origem orgânica, mesmo não sendo, e suas descrições encaixotadas e encaixotantes. A psicopatologia foi esquecida e tornou-se a neuromania dos crâneos. Basta olhar em torno: o vazio epistemológico deixado só é preenchido pela vontade de controlar da psiquiatria cidobiológica. Tal vontade opera no cadastramento tecno-burocrático dos desvios de conduta, do mau comportamento social, do irracionalismo violento, do eu-individual desesperado, da inadequação do sujeito aos valores e normas capitalísticos, e muito mais. Isto se traduz em diagnósticos-verdade, palavras-de-ordem. Cumpra-se! Sob a arrogância do poder médico, quem duvida? Em tal contexto, a loucura se alastra por toda parte, não como experiência de abertura a novas semiologias, a novos ares, a novas terras, a uma nova Terra, ao novo, enfim, mas como esvaziamento de sentido da existência, fim de mundo, apocalipse, noite eterna, buraco negro... Confira a alta cotação das religiões no mercado espiritual do medo. A ideação suicida, suas tentativas, o próprio suicídio, a auto-flagelação de jovens, o grande medo tornado fobia, são sintomas da angústia inominável do tecido social em decomposição. Uma psiquiatria sem pesquisa psicopatológica e epistemológica, além de se constituir como psiquiatria ela mesma deprimida, atua como especialidade médica que cauciona o sofrimento psíquico e o bioproduz, daí retirando lucro, poder, prestígio, reverência e status social.
A.M.
Nenhum comentário:
Postar um comentário