SUBJETIVIDADE E TEMPO
(...) (...) Tudo o que é subjetivo remete ao “fora” porque se refere ao mundo. Não há como situar a subjetividade“dentro” de algo ou “acima” do mundo, como querem as Transcendências, mesmo as disfarçadas. Na matriz teórica de tais posições, está a crença no Ser e portanto a negação do tempo. Ao contrário, conforme H. Bergson nos ensinou, não é o tempo que está em nós, nós é que estamos no tempo, enfiados num tecido que não é o da história mas o do devir. A subjetividade-está-no-mundo. Tal assertiva fenomenológica serve de ponto de apoio para uma clínica em produção, em movimento, e não como produto final. É fato que a psiquiatria, tomada em seu percurso epistemológico, nunca formulou uma teoria da subjetividade. Talvez, na vertente jasperiana, haja um esboço do que estamos nos referindo, ao se falar do eu e de suas alterações. Mas isso é muito escasso se considerarmos a gama de condutas ditas psicopatológicas que figuram na CID-10, cap. F. Neste sentido, uma pergunta se impõe: o que é o “psíquico”? Ora a subjetividade ultrapassa o “psíquico”. Este padece de versões marcadas por uma espécie de “interiorização” do universo objetivo que permaneceria estático, ou pior, jogado às alturas do imaginário, espécie de epifenômeno sobrevoando o que se considera matéria. Entretanto, se nos basearmos no tempo, tudo muda. Tal universo não estará apenas voltado para fora, mas será o Fora. Não mais composto por formas estáveis ou substâncias formadas. Isso é o Fora, ou seja, o Caos. Pensar o “subjetivo” de tal perspectiva é incluir o tempo, a passagem, a “durée”, ao estilo bergsoniano. Portanto, convém não falar em “subjetividade” mas em “processos subjetivos ”ou “modos de subjetivação”.
(...)
A.M.
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