Este blog busca problematizar a Realidade mediante a expressão de linhas múltiplas e signos dispersos.
terça-feira, 31 de agosto de 2021
segunda-feira, 30 de agosto de 2021
domingo, 29 de agosto de 2021
A FORÇA MAIOR
A alegria subverte a clínica.E não é maníaca. Tampouco faz o par alternante com a depressão. É, isto sim, o combustível da produção desejante de territórios existenciais, e se espraia para além de duas pessoas fabricadas numa verticalidade hierárquica. Nada a ver com a alegria fluoxetínica pois, além de estar ausente nos neurocircuitos totalitários, ela não se reduz à adequação do paciente ao meio social. Essência do devir, desanuncia a sua chegada. Surpresa ! A equação “bom comportamento=alegria”será, então, substituída pela da “potência=produção de mundos”. O corpo erótico é essa alegria, curva silenciosa e invisível que o permeia. Tudo a ver com o modo louco de viver sem a crosta psiquiátrica. Não se trata, é preciso dizer, do louco romântico. Uma experiência sustentada por mil fluxos afetivos que chegam de fora, que são o Fora. Alimenta-se da realidade "real". Mistura e dissolução dos códigos, poucos a suportam, vivendo que estão sob a tirania da técnica, da consciência, da razão utilitária, do intelecto, da moral e do bom senso. Ao inverso, desviar as subjetividades para o non sense torna-se um sentido. A psiquiatria não compreende. É que a alegria chega sem aviso, sem explicações, sem origens. Insiste nos devires inauditos como forma de estar presente no mundo (apesar de tudo) e afirmar uma prática inscrita na pele. A força de um furacão no horizonte expressa os extremos da intensidade do desejo, entre a alegria e a angústia.
A.M.
ESTUDOS SOBRE O SUICÍDIO - IV
A complexidade do tema "suicídio" conduz a pesquisa para linhas dispostas num rizoma. Este é um método, uma visão transdisciplinar. Ultrapassa as fronteiras entre os saberes em prol da construção de um conhecimento que os atravessa. Nesse caso a questão é a da vida. Tanto a nível especulativo quando a nível empírico, é a vida e mais precisamente "o que é viver" que se expressa como densidade existencial irrecusável. Enfim, é o que está em jogo. Entre os focos de atenção para com o tema está o ato concreto de alguém se matar. Como foi possível? Como ele conseguiu? O "como" não se refere ao método usado, mas mais profundamente à pergunta: que forças atuaram no momento fatal? É simples constatar que motivos de toda ordem existem para alguém se matar. Quem nunca pensou nisso, nem que por um breve momento? Nas síndromes psiquiátricas a ideação suicida, apesar de comum, nem sempre chega a se consumar como ato. Então, eis a nossa hipótese: mais importantes que os motivos são as linhas de forças destrutivas na organização subjetiva (afetiva) que triunfam: chegou a hora. Como isso se agencia? Como isso passa ao ato? Os afetos (um "gosto ou desgosto em viver") são uma vivência interna (o "não querer viver") produzida de fora, ou seja, pela sociedade. O "não querer viver" é social. Não no sentido de que "a sociedade é culpada" mas no sentido em que somos seres sociais e é isso que nos faz humanos. Não existe, pois, o indivíduo e a sociedade separados porque o indivíduo já é a sociedade-em-nós. O suicídio é um sintoma social do "não querer viver". Ou no mínimo, que está muito difícil viver. Esta é a base conceitual para se pensar esse tema sem apelar para uma reflexão mortuária em disfarces moralistas (a religião), técnicos (a medicina), políticos (o estado) e publicitários (a mídia).
A.M.
sábado, 28 de agosto de 2021
Perplexidades órfãs – IV
A esquerda brasileira é um desastre ético, político, econômico e cultural. É fraca e pusilânime.
Alimenta-se dos restos de 1964. Um ressentimento monstruoso move seus corações.
Não pensa, não cria, não inventa. Só repete antigos clichês.
Gira em torno do partido dos trabalhadores e das suas palavras de ordem estalinistas. Um horror.
Seus militantes adoram Lula, cultuam Lula, respiram Lula. E este também.
A esquerda brasileira gosta de xingar o presidente o tempo todo. Parece não ter mais o que fazer.
Diz também que o presidente sofre de transtorno mental. Nada mais equivocado.
Tenho muitos amigos na esquerda brasileira. Sinto muito.
A esquerda brasileira ainda defende uma espécie de fundamentalismo da pobreza à la Madre Teresa de Calcutá. E acredita que irá para o Céu.
O fascismo à brasileira achou o terreno bem fértil.E se espalhou como um câncer.
Deu no que deu.
A.M.
quinta-feira, 26 de agosto de 2021
segunda-feira, 23 de agosto de 2021
domingo, 22 de agosto de 2021
Perplexidades órfãs – III
1-Como foi dito, não existe o “bolsonarismo”, mas sim o fascismo à brasileira. No entanto, para facilitar a compreensão do argumento, usaremos o termo.
2-O bolsonarismo é uma cepa tropical do fascismo, doença psicossocial iniciada em 1922 na Itália.
3-No Brasil esta cepa assumiu características semiológicas peculiares. Descrevamos o portador sintomático. A registrar: Isso tem uma base clínica.
4-Ele se julga uma boa pessoa (talvez seja de fato) amante dos valores do humanismo tipo senso comum. Linhas cristãs e mesmices do homem comum.
5-A atividade cognitiva costuma estar preservada. Nada de lesão cerebral ou disfunção dos neurotransmissores. Definitivamente, os neurocientistas não o alcançam. Trata-se de um cidadão ( ou cidadã) normal.
6-O perfil social é o de classe média, habituada e identificada ao ritmo do consumo internético, veloz e massacrante. Ele não se importa. Até goza.
7-Apresenta ideação deliróide (quase delírio) ou delirante (delírio primário) com forte teor paranóide. Em um caso como no outro, “há um complô planetário em marcha”.
8-O seu objeto persecutório favorito alterna formas abstratas ( o comunismo) com formas concretas ( STF – Alexandre de Moraes, o “Xandão”). O nosso paciente sofre por isso.
9-Apesar da atividade cognitiva preservada, equivoca-se quando reduz a esquerda ao partido dos trabalhadores. E pior, ao Lula. Inútil contestá-lo. Há uma espécie de ideação “burra” que se afirma como verdade.
10- Ora, tal delírio sistematizado não teria problema, não assustaria ninguém se não tivesse como combustível um ódio profundo e visceral à transformação social.
11- No “sete de setembro” vai para a rua anunciar a nova ordem das tradições intactas, apesar de todo o pesadelo da humanidade. Um horror coletivo.
A.M.
sexta-feira, 20 de agosto de 2021
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili,
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Carlos Drummond de Andrade
quinta-feira, 19 de agosto de 2021
TEMAS EM PSICOPATOLOGIA CLÍNICA - 3
Os delírios em psicopatologia costumam ser percebidos conforme o ideário positivista da ciência (psiquiatria biológica) ou do humanismo crônico das ciências humanas (psicologia e afins). Deste modo, a medicina psiquiátrica quer deletar o sintoma e a psicologia clínica quer compreendê-lo. Nem uma coisa nem outra são possíveis. Trata-se de uma falácia epistemológica disfarçada de boas intenções. Os delírios assombram as consciências vigis e vigilantes. É que eles se referem a modos de subjetivação secretados pelo mundo e ultrapassam a divisão bem/mal em prol da construção de territórios de verdade. "Um pouco de verdade senão eu sufoco!" Assim, é possível "sentir-se vivo" mesmo que tudo em volta esteja em decomposição. Os delírios são, portanto, "verdades verdadeiras" mesmo que não sejam. Isso não importa, pelo menos a nível da escuta do paciente. A sua função social está inscrita nas entranhas de um "inconsciente órfão, ateu, anarquista" (Deleuze-Guattari, 1972) à flor da pele, à flor do tempo, à flor do desejo, à flor do socius e coextensivo a todas as expressões humanas. Então o eu se volatiza e o delírio o substitui. Se todos deliram (e deliram!) não significa que todos estejam loucos, mas que correm e se debatem numa megaloucura insubornável, assim como contra a morte. Os tempos atuais revelam, mormente em comunicações/informações midiáticas, uma verdade explícita: o mundo torna-se, em velocidades aceleradas, um manicômio planetário ao ar livre.
A.M.
PARA ALÉM DO HOMEM
As condições sob as quais sou compreendido, sob as quais sou necessariamente compreendido – conheço-as muito bem. Para suportar minha seriedade, minha paixão, é necessário possuir uma integridade intelectual levada aos limites extremos. Estar acostumado a viver no cimo das montanhas – e ver a imundície política e o nacionalismo abaixo de si. Ter se tornado indiferente; nunca perguntar se a verdade será útil ou prejudicial... Possuir uma inclinação – nascida da força – para questões que ninguém possui coragem de enfrentar; ousadia para o proibido; predestinação para o labirinto. Uma experiência de sete solidões. Ouvidos novos para música nova. Olhos novos para o mais distante. Uma consciência nova para verdades que até agora permaneceram mudas. E um desejo de economia em grande estilo – acumular sua força, seu entusiasmo... Auto-reverência, amor-próprio, absoluta liberdade para consigo...
F. Nietzsche
terça-feira, 17 de agosto de 2021
segunda-feira, 16 de agosto de 2021
Perplexidades órfãs – II
1-O paciente deprimido crônico e incurável baixa meu humor. Me sinto um inútil.
2-Há uma poética do mundo. Ela roça a pele das manhãs. E faz brilhar.
3-Escute com atenção, cuidado e leveza tudo que o delirante diz. Não esqueça de guardar seu próprio delírio para você mesmo.
4-Tenho quinhentos e vinte e um anos e nunca vi o Brasil tão descachimbado.
5-O tempo e a morte a tudo e a todos nivelam . Até os canalhas sabem.
6-Um amigo psiquiatra me disse outro dia que ainda estou em tempo de mudar de profissão.
7-O povo afegão não é o Taleban. Será que avisaram os americanos?
8-Sempre trabalhei com a esquerda. Como lateral fazia muitos cruzamentos, claro, pela esquerda. Belos gols de cabeça, ó companheiros!
9-Não gosto quando chamam o nosso presidente de Belzebu. Não me agrada. E olhe que estou sendo sincero.
10-As mulheres afegãs valem menos que rãs.
11-Em Vitória da Conquista, andar de Hyllux (e similares) é uma conquista.
12-Em psiquiatria há histórias clínicas tão ricas e trágicas que os pacientes deveriam ser remunerados.
13-Com poucas exceções, professores universitários costumam ser pernósticos (isso é antigo).
14-Previsões de Baba Vanga para 2022: não haverá carnaval, mas haverá eleições para presidente. Na marra.
15-Cuidado! Quem parece louco, não é. Quem não parece, é. Eis o dilema da psiquiatria e seus sequazes.
16-O fascismo à brasileira é marcado por ideias de alta conspiração. Brasil contra tudo e Deus contra todos.
17-O petista ainda não resolveu seu luto histórico e devastador. Imagino a sua dor. Mas isso não justifica vir atormentar e encher o saco dos espíritos livres.
18-Na recente passeata dos blindados em Brasília havia um tanque soltando um flato. Sem parar.
19-Setembro está chegando para lembrar que o suicídio está ao alcance de todos. De quem foi essa ideia macabra?
20-Não toque na vida. Ela é quem toca em você.
A.M
OS CÁLCULOS INCORRETOS
A diferença não é o diverso. O diverso é dado. Mas a diferença é aquilo pelo qual o dado é dado. É aquilo pelo qual o dado é dado como diverso. A diferença não é o fenómeno, mas o númeno mais próximo do fenómeno. É, portanto, verdade que Deus fez o mundo calculando, mas os seus cálculos nunca estão correctos; e é mesmo esta injustiça no resultado, esta irredutível desigualdade que forma a condição do mundo. O mundo «faz-se» enquanto Deus calcula; não haveria mundo se o cálculo fosse correcto. O mundo é sempre assimilável a um "resto" e o real no mundo só pode ser pensado em termos de números fraccionários ou mesmo incomensuráveis. Todo o fenómeno remete para uma desigualdade que o condiciona. Toda a diversidade e toda a mudança remetem para uma diferença que é a sua razão suficiente. Tudo o que se passa e aparece é correlativo de ordens de diferenças: diferença de nível, de temperatura, de pressão, de tensão, de potencial, diferença de intensidade.
(...)
Gilles Deleuze in Diferença e Repetição
domingo, 15 de agosto de 2021
sábado, 14 de agosto de 2021
Perplexidades órfãs
1-Não existe “bolsonarismo”. Existe fascismo à brasileira.
2-O fascismo se espalha como delírio coletivo encarnado em cada indivíduo. Neurônios conspiratórios.
3-Deus não é uma ideia inteligente. Sequer está em discussão a sua existência. Simplesmente essa ideia bloqueia o ato de pensar. Uma pedra no caminho.
4-Não é fácil pensar. Refletir não é pensar. Informar não é pensar. Pensar é criar: um exercício perigoso.
5-Um psicótico grave, num arroubo erótico, pegou na bunda de uma mulher que passava. Ela revidou, espancando-o e chamou a polícia. O paciente ficou dois dias na prisão e teve a cabeça raspada.
6-O encontro corona-hospedeiro é uma metáfora da vida. O acaso costuma aí jogar os seus dados.
7-Se a esquerda é uma entidade, ela se torna um alvo fácil. É preciso a camuflagem.
8-Anjos parceiros, espíritos de luz, criaturas da noite, forças da natureza, raios de sol nascente, noites de lua cheia e deuses do cosmos funcionam muito bem.
9-Jesus, um revolucionário. Foi preciso criar uma Igreja, depois mil, cem mil igrejas para combater e destruir a sua proposta.
10-A obra de Karl Marx não é uma bíblia. Nenhum autor é uma bíblia. Nem a bíblia é uma bíblia.
11-Tanques, fuzis, revólveres e metralhadoras dão tesão a muita gente. E fazem gozar sem parar, sem parar, sem parar...
12-Um portador da demência de Alzheimer, estágio avançado, me disse outro dia: o golpe de 64 não foi um golpe, não matou, não perseguiu, não torturou.
13-Uma onda conservadora gigante percorre o mundo. O ódio à diferença alimenta os seus seguidores.
14-Antes de ser um sistema politico, o fascismo é um sentimento. Isso é o que o sustenta e o glorifica.
15-O suicídio não é uma solução, mas uma realidade cada dia mais real.Os jovens sabem.
16-A arte resiste à infâmia, à opressão, ao preconceito. Se não resistir, não é arte.
17-Lá vem ele com os clichês de direita, lá vem ela com os clichês de esquerda. Deus, é insuportável!
18-Além da tragédia brasileira atual, tenho vergonha de dizer a amigos de outros países que aqui se usa quebra-molas (aos montes), até em rodovias.
19-Velocidades internéticas: o fim do diálogo.
20- No futebol, ainda vale a pena assistir uma caneta, um elástico, um chapéu e um gol de placa. Mesmo do adversário.
A.M.
quinta-feira, 12 de agosto de 2021
LINHAS DE RISCO NA CLÍNICA PSICOPATOLÓGICA
Depressão não é tristeza. A psiquiatria quer que tristeza seja depressão pois assim ganha mais pacientes e o seu valor (da psiquiatria) fica estabelecido como verdade: "procure um psiquiatra". Interesses de mercado. A depressão não é uma doença no sentido biomédico, com etiopatogenia firmada, epidemiologia, diagnóstico etiológico, quadro clínico preciso, tratamento, eficácia e limitações, tempo de duração média da terapêutica, prognóstico, etc. Não existe como uma doença, mas sim como sofrimento do outro. O que é? A depressão é um modo psíquico de reagir a uma multiplicidade de fatores, desde os tradicionais orgânicos (físico-químicos) até os subjetivamente mais abstratos (psico-existenciais-coletivos). Isso requer do psiquiatra, bem como de todos os técnicos em saúde mental, a observação racional e a intuição clínica necessárias para lidar com o paciente num regime de pré-diagnóstico, ou seja, o que opera em condições do encontro com modos de existir (mesmo os mais estranhos e bizarros...) inseridos em situações práticas concretas. Só dessa maneira é possível adentrar ao universo de sentido do suposto deprimido: o sentido do sem sentido. Tal realidade é tanto mais difícil de captar quando a escuta clínico-psicopatológica está contaminada por clichês antigos (os do manicômio) e clichês modernos (os da neuromania). Em ambos os casos, a depressão acaba por estar presente onde está ausente, ou vice-versa, fazendo da clínica um cipoal louco de juízos morais e ultra-medicalizações visando o controle de corpos e mentes. Ou simplesmente a escolha da psiquiatria como principal opção terapêutica ao humor hipotímico. Que pobreza intelectual!
A.M.
terça-feira, 10 de agosto de 2021
sexta-feira, 6 de agosto de 2021
A BUSCA DA DIFERENÇA
Concebemos a psiquiatria antes de tudo como uma instituição. É deste modo que ela empreende a pesquisa e o exercício da clínica, minorando sofrimentos e ajudando sujeitos a se reorganizarem psiquicamente. Mas é também deste modo que ela desenvolve e exerce práticas de segregação e violência. Por isso não é recomendável substancializá-la como sendo uma coisa nem considerá-la possuidora de uma “ natureza”. Ela é, isto sim, processo histórico-social inserido em formações subjetivas concretas. Para ser possível enxergar deste modo, partimos de outro lugar do pensamento, ainda que estejamos no mesmo lugar, que é o da clinica psicopatológica. Iremos ao que está fora das coordenadas da razão, o Aberto, para daí extrair acontecimentos, mesmo os menores, e, principalmente, quase imperceptíveis. Assim se descobrem mundos subjetivos insuspeitos de existir, e que produzem realidades radicalmente distintas das vigentes. É o universo da diferença.(...)
A.M.
quarta-feira, 4 de agosto de 2021
terça-feira, 3 de agosto de 2021
OS CÁLCULOS INCORRETOS
A diferença não é o diverso. O diverso é dado. Mas a diferença é aquilo pelo qual o dado é dado. É aquilo pelo qual o dado é dado como diverso. A diferença não é o fenómeno, mas o númeno mais próximo do fenómeno. É, portanto, verdade que Deus fez o mundo calculando, mas os seus cálculos nunca estão correctos; e é mesmo esta injustiça no resultado, esta irredutível desigualdade que forma a condição do mundo. O mundo «faz-se» enquanto Deus calcula; não haveria mundo se o cálculo fosse correcto. O mundo é sempre assimilável a um "resto" e o real no mundo só pode ser pensado em termos de números fraccionários ou mesmo incomensuráveis. Todo o fenómeno remete para uma desigualdade que o condiciona. Toda a diversidade e toda a mudança remetem para uma diferença que é a sua razão suficiente. Tudo o que se passa e aparece é correlativo de ordens de diferenças: diferença de nível, de temperatura, de pressão, de tensão, de potencial, diferença de intensidade.
(...)
Gilles Deleuze in Diferença e Repetição