LINHAS DE RISCO NA CLÍNICA PSICOPATOLÓGICA
Depressão não é tristeza. A psiquiatria quer que tristeza seja depressão pois assim ganha mais pacientes e o seu valor (da psiquiatria) fica estabelecido como verdade: "procure um psiquiatra". Interesses de mercado. A depressão não é uma doença no sentido biomédico, com etiopatogenia firmada, epidemiologia, diagnóstico etiológico, quadro clínico preciso, tratamento, eficácia e limitações, tempo de duração média da terapêutica, prognóstico, etc. Não existe como uma doença, mas sim como sofrimento do outro. O que é? A depressão é um modo psíquico de reagir a uma multiplicidade de fatores, desde os tradicionais orgânicos (físico-químicos) até os subjetivamente mais abstratos (psico-existenciais-coletivos). Isso requer do psiquiatra, bem como de todos os técnicos em saúde mental, a observação racional e a intuição clínica necessárias para lidar com o paciente num regime de pré-diagnóstico, ou seja, o que opera em condições do encontro com modos de existir (mesmo os mais estranhos e bizarros...) inseridos em situações práticas concretas. Só dessa maneira é possível adentrar ao universo de sentido do suposto deprimido: o sentido do sem sentido. Tal realidade é tanto mais difícil de captar quando a escuta clínico-psicopatológica está contaminada por clichês antigos (os do manicômio) e clichês modernos (os da neuromania). Em ambos os casos, a depressão acaba por estar presente onde está ausente, ou vice-versa, fazendo da clínica um cipoal louco de juízos morais e ultra-medicalizações visando o controle de corpos e mentes. Ou simplesmente a escolha da psiquiatria como principal opção terapêutica ao humor hipotímico. Que pobreza intelectual!
A.M.
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